Dólar alto vai derrubar vendas de tecnologia

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No lugar de filas, fãs e animação, havia apenas um homem. O engenheiro Marco Tomazini era o único a aguardar em frente à loja da Apple, em São Paulo, para comprar o novo iPhone 6S. "Eu meio que sabia que não ia ter muita gente. As pessoas não estão querendo gastar por causa da crise", diz Tomazini, ao levar para casa dois aparelhos com 64 GB de armazenamento, cada um por R$ 4,3 mil.

Lançado no Brasil no dia 13 de novembro, o smartphone da Apple ficou mais caro em 2015: o modelo mais básico, com 16 GB, teve aumento de 13% (descontada a inflação) em relação ao iPhone 6. Sonho de consumo, o iPhone pode ser um produto para poucos, mas simboliza o momento do mercado de smartphones: após dois anos de crescimento forte, a expectativa é de que o Natal de 2015 seja o triste fim do primeiro ano de queda nas vendas do segmento no Brasil.

De acordo com a consultoria IDC Brasil, a estimativa é de que os fabricantes vendam 48,8 milhões de smartphones no Brasil em 2015 - ou cerca de 10% a menos que os 54 milhões vendidos em 2014. No 4º trimestre, a previsão é de que 12,5 milhões de aparelhos sejam vendidos. O resultado coloca o período de festas abaixo do 1º trimestre - que teve 14,1 milhões de unidades comercializadas. "Historicamente, o primeiro trimestre é o que tem vendas mais fracas. Em 2015, ele vai ser o melhor do ano", diz o analista de pesquisas da IDC, Leonardo Munin.

Os smartphones também estão mais caros: o preço médio dos aparelhos saltou cerca de 30% - de R$ 678 para R$ 880, segundo a análise da IDC. A alta do dólar é o principal motivo. "Nos celulares fabricados no Brasil, 85% dos componentes são importados. Se o dólar aumenta, o custo cresce", diz Munin. Os smartphones de entrada, com preços abaixo de R$ 499, desapareceram das lojas, já que os fabricantes não conseguiram manter preços baixos.

Já a inflação - que está perto dos 10% no acumulado dos últimos 12 meses, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) - causa um impacto direto no preço dos celulares pelo custo da mão de obra. "A produção no Brasil tem que incluir o custo do dissídio salarial, que varia de 8% a 10%", diz o diretor da unidade de negócios de tecnologia da consultoria GFK, Oliver Roemerscheidt.

Lembrancinhas - "Esse Natal tende a ser de lembrancinhas e não de grandes presentes", prevê o assessor econômico da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP), Vitor França. Segundo ele, o principal problema é a falta de confiança dos consumidores. "Mesmo quem tem renda está evitando comprar bens que não são de primeira necessidade."

A nova classe média é a principal afetada pela crise. Este segmento da população, principal responsável por alavancar a venda de eletrônicos nos últimos anos, perdeu poder de compra, o que derrubou as vendas. Para tentar se recuperar, o varejo mira a Black Friday e o Natal. "Os varejistas estão com os estoques cheios. Quem estiver com dinheiro no bolso pode fazer bons negócios", diz França.

Segundo uma fonte do varejo que preferiu não se identificar, o ano de 2015 terminará bem se o resultado for igual ao de 2014, que já foi considerado "ruim". "O consumidor tem optado por modelos mais baratos ou por adiar a compra, porque não sabe se vai manter seu emprego", diz a fonte.

Para analistas de mercado, o cenário pode ficar ainda pior se o fim da Lei do Bem - que isenta o varejo dos 9,25% das taxas de PIS/Cofins para smartphones com preço de R$ 1,5 mil - não for adiado. Inicialmente, o prazo de isenção termina em 1º de dezembro de 2015, mas tramita no Senado uma proposta para que seja prorrogado até 2016.

"Com o fim da isenção, teríamos um Natal super ruim. Se ela permanecer, talvez tenhamos um Natal Àsó" ruim", diz Munin, da IDC. Apesar disso, 2016 pode ser um ano bom para os smartphones. " um mercado que tem potencial para continuar encantando o consumidor", diz Roemerscheidt, da GFK.

 



Veículo: Jornal Diário do Comércio - MG


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