Papéis são emitidos por bancos e oferecem garantia do principal investido pelo cliente.
Em tempos de crise, aplicações que garantem o capital principal costumam chamar a atenção do investidor, que, nesses casos, não perdem o montante inicial, mas, por outro lado, têm o rendimento limitado pelo banco. Assim são os Certificados de Operações Estruturadas (COEs), opção criada há menos de dois anos e que deve ganhar mais destaque em 2016. Os papéis mesclam renda fixa (é um título emitido pelos bancos) e renda variável (o retorno depende do comportamento do ativo a que o papel está atrelado) e agora podem ser amplamente oferecidos no varejo do sistema financeiro, conforme autorizado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em outubro.
— Será mais uma alternativa para aqueles que estão interessados em diversificar o portfólio de investimentos — explica Fábio Zenaro, gerente executivo de Desenvolvimento de Negócios da Cetip, empresa que registra as emissões desses títulos.
Como o próprio nome diz, cada COE representa uma operação financeira específica desenhada pelos bancos para o cliente. Ela pode ser lastreada em diferentes tipos de ativos e indicadores, como dólar, ações de uma ou mais empresas, Ibovespa (principal índice do mercado de ações), taxa de juros Selic, inflação ou mesmo o Dow Jones, índice de ações da Bolsa de Nova York. E, por isso, o rendimento varia de acordo com cada produto. Vale lembrar que é uma aplicação que tem risco ligado ao emissor, porque não tem cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) em caso de quebra do banco.
— Pelos COEs, os investidores podem ter acesso a mercados mais sofisticados, como as bolsas americanas, uma cesta de moedas ou commodities — diz Paulo Waack, diretor de Tesouraria do Bradesco. RETORNO ACIMA DO CDI Atualmente, o investimento ainda é restrito a investidores de alta renda. No Bradesco, por exemplo, está disponível para clientes do segmento Prime e Private com uma aplicação inicial de R$ 20 mil. De acordo com Waack, em média, os COEs oferecidos pelo Bradesco têm apresentado retorno bem acima do CDI, referência de juros no mercado de renda fixa. O COE de capital garantido do banco, com retorno alavancado do dólar, por exemplo, acumula, em 12 meses, remuneração de 28%. Já o que acompanha o euro frente ao dólar rende 48% no mesmo período.
Um levantamento da Cetip mostrou que, no primeiro ano de existência dos COEs, que chegaram ao mercado em janeiro de 2014, 91% dessas aplicações apresentaram desempenho positivo, oferecendo algum ganho além do capital investido. E 71% dos produtos ofereceram um retorno em 12 meses superior ao CDI, que ficou em 10,78% no ano passado. Este ano, o CDI está pouco acima de 14%.
Pelo menos 95% dos COEs oferecidos no mercado são de capital garantido. Na prática, ao estruturar o COE, o banco faz uma previsão de um determinado cenário econômico. Caso se confirme, o investidor ganha. Se não se concretizar, recebe de volta o dinheiro aplicado, sem rendimento, ou seja, remuneração zero. Em troca da garantia do recebimento da íntegra do capital investido, os COEs estabelecem um limite para o ganho. Por exemplo, o dólar já subiu mais de 40% este ano, mas há COEs que oferecem retorno de no máximo 30%.
Segundo a Cetip, o estoque de recursos em COEs, até novembro deste ano, já era de R$ 7,4 bilhões. A maior parte está atrelada a índices de inflação (44,62%), seguida de câmbio (22,63%) índices internacionais (13,15%), índices nacionais (9,81%) e juros (5,98%). Neste ano, o COE ligado ao dólar foi muito procurado no Bradesco, segundo Waack. Para 2016, há investidores em busca de COEs que projetam a continuidade da recuperação das bolsas americanas, europeias e asiáticas. Também já existem COEs sendo estruturados com um cenário que indica a queda da taxa básica de juros da economia, a Selic, nos próximos dois anos.
— Por isso, diz-se que a rentabilidade de cada COE é variável. Ela depende de o cenário econômico previsto se confirmar. Se isso não acontecer, o rendimento pode ser até pior do que a poupança e, por isso, o risco desses produtos é maior — explica o especialista em investimentos do banco Ourinvest, Mauro Calil.
Ele observa também que há COEs que oferecem ganhos em cenários de baixa — quem procura este produto deve observar se isso está previsto no regulamento, já que a vantagem é maior. Calil lembra que a cobrança do Imposto de Renda (IR) obedece as regras da renda fixa, com alíquota entre 15% e 22,5%. Já a possibilidade de saque dos recursos antes do vencimento do título também depende do que prevê o regulamento de cada produto. Mas é mais restrita do que nos Certificados de Depósito Bancário (CDBs), títulos também emitidos pelos bancos.
Segundo Claudia Getschko, superintendente executiva da Tesouraria do Santander, as ofertas do produto do banco são focadas nos segmentos de alta renda, Select e Private. Mais de 80% dos papéis emitidos pagaram acima de 125% do CDI, de acordo com a executiva. Todos os produtos oferecem capital garantido.
Entre as linhas de COE oferecidas pelo Santander estão a Família Prêmio, que aplica em dólar, Ibovespa e juros, e a Família Participação, com indexador em dólar, Ibovespa e S&P 500, um dos principais índices do mercado americano. Todas as famílias oferecem opção de apostas em cenários de alta ou de baixa.
Tanto o Bradesco quanto o Santander ainda estudam quando farão ofertas públicas de COEs. Para Waack, há espaço para distribuir esses produtos para uma base maior de investidores. Já Claudia, do Santander, acredita que a nova regulamentação da CVM também trará maior competição para os emissores.
— Teremos uma flexibilidade maior para fazer publicidade dessa aplicação. Hoje, quando faço uma oferta, eu só falo com a minha base de clientes, com alguns deles apenas. O cliente ia até uma agência e a gente oferecia. Agora, poderemos anunciar para o público em geral — afirmou Claudia.
Veículo: Jornal O Globo - RJ