A queda recorde da produção industrial, que chegou a 7,8% de janeiro a outubro, esconde situações ainda piores em alguns setores. Pelo menos dois segmentos - veículos e eletrônicos - perderam cerca de 25% de sua produção no ano. Apenas em outubro, a queda chegou a cerca de 35%, conforme levantamento do Instituto de Estudos da Produção Industrial (Iedi).
Dos 26 setores pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), 16 tiveram quedas de mais de 10%. Em segmentos importantes, a perda chegou ou ultrapassou 20%, como máquinas e aparelhos elétricos, móveis e têxteis.
“A indústria é o epicentro dessa crise em razão da queda do investimento. O padrão atual é produzir apenas o equivalente a 80% de um ano atrás”, afirma Julio Sérgio Gomes de Almeida, ex-secretário de política econômica do ministério da Fazenda e consultor do Iedi.
O setor de informática, eletrônicos e produtos ópticos é o líder em perdas da indústria, com queda de 35,8% em outubro e 29,2% no ano.Tradicionalmente muito volátil, o setor está sofrendo com o encarecimento do crédito e a desconfiança do consumidor, além de um vácuo de inovação tecnológica.
Desconfiança - “Existe um nível de desconfiança muito grande por causa das crises econômica e política. As pessoas estão com medo de gastar”, afirma o presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato.
No setor de veículos, reboques e carroceiras, a queda da produção é de quase 35% em outubro e de 24,6% no acumulado do ano. Nesse caso, também são preocupantes o encarecimento do crédito e o impacto da crise na confiança, mas o setor está pagando o preço da antecipação das vendas.
Em razão dos incentivos fiscais concedidos nos últimos anos, as vendas de carros e caminhões explodiram. Com a retirada dos benefícios e o aumento da inadimplência, os negócios despencaram.
Mesmo em setores menos voláteis da indústria, a situação é crítica. Em têxteis, a queda na produção é de 13,7% no acumulado do ano, mas chega a 20,8% em outubro. Em máquinas e equipamentos, um termômetro importante do investimento, o recuo na produção é de 18,6% em outubro e de 13,6% no ano.
“A situação está piorando, porque o investimento no país parou. Infelizmente ainda não temos indicações de que chegamos ao fundo do poço”, afirma o presidente-executivo da Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), José Velloso.
As projeções do Iedi apontam para uma queda da produção brasileira de 10% no ano, um resultado ainda pior que o recorde de 7,8% de janeiro a outubro. Os setores consultados não veem perspectivas de recuperação em 2016 por causa do agravamento da crise política, que culminou na abertura do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Veículo: Jornal Diário do Comércio - MG