Sem planejar, mudança de líder pode agravar a crise

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Em tempos de crise, quando reduzir custos é palavra de ordem, cortar salários mais altos é a saída mais utilizada. No entanto, para especialistas, sem planejamento o corte pode trazer mais problemas que soluções.

De acordo com a gerente da área de advisory da consultoria BDO, Romina Lima, o mais comum no Brasil é que as empresas utilizem o cortador de grama" e demitam de forma igual em todas as áreas do negócio.

"Com isso ela sobrevive à crise, mas quando a economia voltar a empresa perdeu o diferencial do negócio", comenta. Para ela, sem planejamento a empresa acaba tirando um gerente ou diretor essencial para o negócio. "Às vezes escolhe a pessoa que trazia ideias inovadoras para a empresa e até redução de custo", diz.

Para ela, a recomendação é manter o profissional essencial a todo custo, mesmo que seja necessário promover ou dar um aumento de salário.

Segundo Romina, o planejamento na hora de reestruturar o alto escalão tem três passos básicos. O primeiro é analisar a rentabilidade de cada área ou projeto da empresa, e o segundo é calcular o quão bom ou ruim está o negócio para decidir o quanto a empresa deve cortar. "Além de fazer uma projeção para os próximos dois anos para ver se será o suficiente", ressalta.

Por último, ela cita a comunicação com os funcionários. "Ligar para as equipes de cada área e ver que pessoa iria reter de qualquer jeito e quem pode ser dispensado", diz.

Com todos os passos básicos realizados, ela diz que podem ser feitas as reduções de custo pontuais como analisar e renegociar com fornecedores, mudar o local para diminuir preço do aluguel e até mudar o sistema da empresa.

Ilustrando este cenário, Romina conta que a procura pelo serviço de reestruturação financeira aumentou consideravelmente na BDO em 2015 e exigiu até um aumento da equipe, maior especialização e até novas parcerias com advogados da área. "Geralmente as empresas procuram mais consultoria para expandir, mas agora estão procurando estancar a ferida", diz. Só nas duas primeiras semanas de dezembro de 2015, a empresa vendeu seis reestruturações. E a procura é de empresas de todos os portes. "Só a micro busca menos, mas por uma questão de orçamento", comenta.

Outro serviço com muita demanda este ano foi a recuperação judicial. "Os bancos secaram e o consumo caiu", explica Romina. Contudo, cerca de 30% poderiam ter solucionado seus problemas se tivessem feito uma reestruturação financeira dois ou três meses antes. "Muitas delas postergam a busca por ajuda e quando vão ver estão muito doentes", aponta. Para ela, na crise as mudanças devem ser mais rápidas, já que o impacto do custo é acelerado.

Segundo Romina, a reestruturação nos cargos de liderança são mais comuns na gerência e na diretoria (quando não se é acionista). "No Brasil, muitas empresas [de pequenas a grandes] são familiares, então a mudança na presidência é menos comum", aponta.

Motivação

Outro cuidado que ela cita na hora de mudar cargos de chefia é a motivação dos funcionários. "Tem gente que busca outro emprego porque o chefe direto foi demitido", aponta.

O vice-presidente da Anima Educação, Maurício Escobar, concorda. Para ele, fazer uma reestruturação na crise é um risco. Mas caso seja inevitável é importante manter a transparência, fazer o movimento de forma rápida e que seja uma ação alinhada com a cultura local. "As pessoas gostam de saber o que está acontecendo. A comunicação engaja", contou o executivo ao DCI durante a HSM ExpoManagement de 2015.

Prática

Uma das fundadoras da consultoria RED, Daniela Lopes, aponta a agilidade como peça-chave. "Quanto antes, melhor. As que demoram podem fazer já no meio de uma crise."

Em média, as grandes possuem uma "gordura" de 10% a 20% de recursos humanos que podem cortar, com ou sem crise. "Às vezes é um corte necessário. Isso pode ser feito com um mapeamento de processos de responsabilidade."

O cuidado é manter as pessoas com histórico. "Ver quem tem o know-how, sobretudo em empresas novas onde o CEO está desde a fundação e passou por todas as áreas."

Ainda de acordo com ela, o mercado de trabalho começou o ano em um cenário mais positivo. "Muitas empresas enxugaram, sobretudo, no quarto trimestre para começar 2016 mais enxutas e agora estão abrindo processos de seleção."

Uma dica, citada pela especialista, é na hora da contratação. "Às vezes o salário é a metade do que o anterior, mas ele deve ser compatível com a empresa", explica.



Veículo: Jornal DCI


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