Alta da inflação, do desemprego, da inadimplência e do dólar, e queda das vendas do varejo, da produção industrial, da projeção do Produto Interno Bruto (PIB) e da renda média da população. Apesar deste cenário, um estudo da Kantar Worldpanel, especializada em painéis de consumo, apontou que alguns tipos de empresas e setores conseguiram sustentar seu crescimento, produzindo novas formas de consumo.
É o caso do atacarejo, que foi o único canal que contribuiu positivamente para o crescimento em volume, apresentando um aumento de 30,2% no faturamento, especialmente na região Leste e no interior do Rio de Janeiro e na região Sul, ao contrário de todos os outros canais. Já os supermercados, por exemplo, diminuíram 3,7% em valor. Isso pode ser explicado em função de os atacarejos oferecerem melhor custo/benefício (pacotes de maior tamanho, na linha “mais por menos”), visto que os lares estão cada vez mais em busca de ofertas e produtos promocionais. Todas as 20 categorias que mais cresceram aumentaram o seu percentual de promoções.
Além disso, em momentos de crise, os lares primeiro deixam de priorizar gastos com viagens, imóveis e lazer, o que evita que os bens de consumo não duráveis sejam tão afetados. Porém, neste último trimestre, até eles já sentiram o impacto.
Ainda assim, a maioria das pessoas não abriu mão de adquirir produtos considerados “premium”. A nova tendência agora é um mesmo lar fazer compras em mais de um canal de vendas, obtendo coisas diferentes em cada um deles. No atacarejo, por exemplo, a maioria procura produtos sem diferenciais para economizar, enquanto que as aquisições feitas no hipermercado são de produtos mais caros e com mais benefícios. O mesmo lar tende a mesclar ambos para equilibrar o orçamento.
“Também observamos que houve redução na frequência de compra. Com a crise e o dinheiro mais curto, as pessoas começaram a comprar para estocar, a ficar de olho nas promoções e a aumentar sua permanência nos pontos de venda, principalmente atacarejos e supermercados”, afirma a diretora comercial da Kantar Worldpanel, Christine Pereira.
Este comportamento, porém, varia de região para região. Os nordestinos se encaixam na descrição acima, pois foram cerca de 16 vezes no trimestre aos pontos de venda, gastaram cerca de R$ 53,56 por viagem e compraram cerca de 19 iten’ 1 33,35 e compra de 12 unidades de produtos por vez.
Outro fenômeno é a volta do crescimento de produtos da cesta básica dentro dos lares brasileiros. As categorias que mais se destacaram neste terceiro trimestre foram as de linguiças, presuntos – apesar do alerta da OMS -, leite em pó, sorvete e cloro. Já as que tiverem procura diminuída foram as de iogurtes, refrigerantes, águas minerais, açúcares e leites pasteurizados. Segundo Christine Pereira, o crescimento de presuntos, linguiças e outros embutidos em geral se deve principalmente pela substituição das proteínas nos lares como forma de reduzir o desembolso.
Cestas de consumo - Entre as cestas de consumo, as de higiene & beleza e limpeza foram as únicas a apresentar aumento no tíquete médio gasto (da ordem de 5% e 2%, respectivamente), enquanto a de alimentos caiu 1%. No que se refere ao volume médio por viagem ao ponto de venda, todas apresentaram retração: 8% na de alimentos, 4% na de bebidas e 1% tanto para higiene & beleza quanto para limpeza. Um fato curioso que aconteceu neste último trimestre foi a queda em valor na cesta de alimentos, o que nunca havia acontecido anteriormente.
Mesmo com essa diminuição, observa-se que os consumidores estão buscando a saudabilidade nos produtos, porém sem deixar de lado o sabor, ou seja, querem produtos saudáveis e ao mesmo tempo, saborosos. Um exemplo disso é o crescimento das categorias leite de baixa lactose, azeite, pães e massas integrais.
Entre os setores, um dos que mais sofre é o de calçados. Houve uma variação negativa de 14% no tíquete médio e de 7% no volume médio por viagem. Já o de comidas para pets cresceu 15% e 2%, respectivamente.
Em resumo, percebe-se um novo cenário no comportamento dos consumidores, que estão com um bolso mais apertado, reduzindo a frequência de compra e por isso precisam se planejar mais e cada visita a um ponto de venda se tornou mais valiosa, sendo que o consumidor valoriza muito o tempo e o custo-benefício em cada compra.
Veículo: Jornal Diário do Comércio - MG