Os dados indicam que a receita nominal do comércio do setor cresceu 2,3% de outubro.
O setor de alimentos foi determinante para que as vendas do comércio varejista do país fechassem novembro de 2015 com queda de 7,8% na comparação com novembro de 2014. É a oitava retração consecutiva e a maior na série sem ajuste sazonal nos últimos 12 anos desde os -11,3% de março de 2003.
A constatação é do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que divulgou hoje (13) a Pesquisa Mensal de Comércio (PME). Ela fechou novembro com crescimento de 1,5% sobre outubro do ano passado. Os dados indicam que a receita nominal do setor cresceu 2,3% de outubro para novembro do ano passado e 1,4% em relação a novembro de 2014.
Vendas negativas
Os resultados da PME, no entanto, são predominantemente negativos com o volume de vendas no acumulado de janeiro-novembro de 2015 fechando em -4% e em -3,5% no acumulado dos últimos 12 meses. Já a receita nominal do setor, nas mesmas bases de comparação, mantém-se no campo positivo com variações de 3,35 e 3,6%.
Já o comércio varejista ampliado – que, além do varejo, inclui veículos, motos, partes e peças e de material de construção – encerrou novembro com variações positivas sobre o mês imediatamente anterior: 0,5% para volume de vendas e 1,1% para a receita nominal.
A queda de 7,8% na comparação com novembro do ano passado nas vendas do varejo teve perfil disseminado de resultados negativos entre as atividades que compõem o setor. O principal impacto negativo na formação da taxa geral no volume de vendas foi exercido pelo segmento de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo com queda de 5,7%, seguido por móveis e eletrodomésticos (-14,7%), tecidos, vestuário e calçados (-15,6%) e combustíveis e lubrificantes (-12%).
Segundo o IBGE, os quatro setores juntos responderam por mais de 90% do resultado global do varejo. As demais atividades, que acusaram taxas negativas, praticamente não tiveram influência significativa no resultado interanual do volume de vendas em novembro: outros artigos de uso pessoal e doméstico (-4,8%), livros, jornais, revistas e papelaria (-18,6%) e equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-5,6%).
Argumentação
Para a gerente da PME, Isabela Nunes Pereira, a queda do poder aquisitivo do brasileiro, inflação elevada – principalmente dos alimentos – e juros altos determinaram a retração das vendas no varejo. “O varejo é uma atividade que sofre impactos do nível de renda, da inflação e do comportamento dos juros. A comparação 2014/2015 apresenta conjunturas distantes, principalmente em relação ao mercado de trabalho, onde a massa real habitual de salários crescia a uma taxa de 3% em novembro de 2014 e em 2015 recuou 12,2%. Já as taxas de juros para as pessoas físicas subiram mais de 30% no período. Destacando, ainda, a alta da inflação dos alimentos [acima do IPCA] e dos combustíveis e eletrodomésticos.”
A atividade de móveis e eletrodomésticos, com queda de 14,7% em relação a novembro de 2014, teve a segunda maior influência negativa na taxa geral do comércio varejista. Com isso, ao registrar taxas de -13,5% no acumulado de janeiro a novembro e de -12,3% no acumulado dos últimos 12 meses, o segmento se manteve com desempenho abaixo da média do varejo.
O setor de tecidos, vestuário e calçados, com recuo de 15,6% no volume de vendas sobre novembro de 2014, foi responsável pela terceira contribuição negativa para a taxa global. A quarta maior contribuição veio de combustíveis e lubrificantes, com queda de 12% no volume de vendas em relação a novembro de 2014. Em termos acumulados, as taxas da atividade foram de -5,8% para os onze primeiros meses do ano e de -5,1% nos últimos 12 meses.
Outros artigos de uso pessoal e doméstico, com variação de -4,8%, registram a quinta taxa negativa consecutiva. Nos indicadores acumulados, a taxa para os primeiros onze meses do ano foi de -0,3% e para os últimos 12 meses, de 0,7%.
Varejo ampliado cai 13,2%
A queda de 13,2% no comércio varejista ampliado em novembro na comparação com o mesmo mês de 2014 (série sem ajuste sazonal), reflete, principalmente, a retração do setor de veículos, motos, partes e peças, que chegou a cair 24,5%, ampliando, em novembro, a queda nas vendas em relação ao resultado do mês anterior (-23,9%), enquanto o segmento de material de construção (-13,5%) reduziu o ritmo de queda em comparação ao verificado em outubro (-15,8%).
Frente a novembro de 2014, o comércio varejista registrou queda em 26 dos 27 estados para o volume de vendas, com destaque em termos de magnitude para o Amapá, com -27,4%. Somente Roraima (4%) apresentou aumento do volume das vendas em novembro. Quanto à participação na composição da taxa negativa do varejo, destacam-se São Paulo (-6%), Rio Grande do Sul (-10,9%), Paraná (-10%) e Santa Catarina (-11,3%).
Também no comércio varejista ampliado, todas as 27 unidades da Federação apresentaram variações negativas na comparação com novembro de 2014. Em termos de volume de vendas, destacam-se Amapá (26,8%), Tocantins (-24,2%), Espírito Santo (-22,8%) e Goiás (-21,7%). Os estados com maior impacto negativo foram São Paulo (taxa de -6,9% e Rio de Janeiro (-15,1%).
"Se compararmos a conjuntura de novembro de 2014 com a de 2015, a gente tinha um mercado de trabalho que crescia. Atualmente, temos uma situação de taxas de juros bem mais elevadas e uma mudança de situação em termos de inflação”, disse a técnica do IBGE. Entre todos os segmentos do comércio, os hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, cujas vendas caíram 5,7%, exerceram a principal pressão negativa sobre o índice geral na comparação anual.
Veículo: Jornal Correio Braziliense - DF