A estratégia de esperar o fim de janeiro para comprar material escolar mais barato pode não funcionar desta vez. O temeroso ano de 2016 já mostra suas garras na lista de compras escolares e, segundo especialistas, não há sinais de que os valores caiam às vésperas da volta às aulas. Pressionados pela inflação, alta do dólar e aumento da alíquota do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), caderno, tesoura, borracha, livros, entre outros itens tiveram aumento de mais de 60% em Belo Horizonte, conforme mostra pesquisa do site Mercado Mineiro, divulgada ontem.
Com a alta da moeda norte-americana, (R$ 4 cotação de ontem), os preços de mochilas, estojos e lancheiras estão cerca de 30% mais caro, conforme estima a Associação Brasileira de Fabricantes e Importadores de Artigos Escolares e de Escritório (Abfiae). De acordo com a entidade, a maioria desses produtos vem da Ásia. “Quando o real ficou muito valorizado em relação ao dólar, as fábricas desses itens fecharam no país. Então, esses materiais vem de fora e estão chegando bem mais caros”, comenta o presidente da Abfiae, Rubens Passos. Ele conta que a lista com produtos nacionais deve ficar, em média, 10% mais cara. “Está na hora do consumidor pesquisar mais do que pesquisou no ano passado”, avisa.
Uma tesoura escolar inox redonda que custava no ano passado R$ 1,86 passou para R$ 3, uma alta de 61,29%. Um corretivo líquido a base de água saia a R$ 1, 46 em 2015 e, atualmente, chegou a R$ 2,31, um reajuste de 58,22%. “Em 15 anos, nunca vi um reajuste tão agressivo. Há uma pressão muito grande sobre os produtos que vão desde o ICMS, os custos dos comerciantes, dólar. Uma tesoura aumentou quase o triplo da inflação, que é de 10,67%”, compara o diretor-executivo do Mercado Mineiro, Feliciano Abreu. Desde 1 de janeiro, o imposto sobre os materiais escolares subiu de &% a 12% para 18% em Minas Gerais.
A pesquisa do Mercado Mineira foi feita entre os dias 7e 14 de janeiro deste ano, com 82 produtos em 11 estabelecimentos. A alta nos preços tem assustado consumidores. A enfermeira Isabela Lana, ontem, procurava itens da lista de material escolar da sua filha Nina, de 4 anos, e se assustou com os valores. “Tudo está muito caro, a estratégia que estou usando é comprar itens em diversos lugares”, comenta, acrescentando que, aos poucos, tem conseguido equilibrar a conta. “Desde dezembro estou fazendo essa compra. Vou em um lugar compro determinado produto e outro compro o mais barato”, revela. Isabel conta que sua filha está no 1º período da educação infantil e o lápis jumbo, voltado para a idade da criança, já foi encontrado por ela por vários preços. “Comprei por R$ 1, mas vi que tem caixa com 12 com cores a R$ 40”, reclama.
O susto dos consumidores tem mudado os ares das papelarias. Há um ano, entrar em um estabelecimento nesse período do ano exigia paciência, tamanha as filas. Este ano, a realidade é outra. “Tivemos, até o momento, uma queda de 10% nas vendas”, comenta a gerente da BrasiLusa, Márcia Santos. Segundo ela, tem sido um desafio para a papelaria, localizada na Savassi, não reajustar seus preços. “Grandes fornecedores, como a Faber Castel, por exemplo, aumentaram seus preços. Uma caixa com 48 lápis coloridos da marca custava R$ 59,90 no ano passado e passou para R$ 100”, revela Márcia.
Ontem, na Brasilusa havia poucos pais com a lista de material escolar em mãos. “Os itens importados subiram demais, por causa da alta do dólar. As editoras também fizeram reajustes”. Márcia conta que um livro bastante procurado e voltado para os alunos do 9º ano, custava R$ 121 no ano passado e chegou, este ano, a R$ 150. “O jeito que temos para não perdermos clientes é dar descontos e cobrir ofertas. Caso algum deles mostre que o mesmo produto está mais barato em outro lugar, negociamos”, conta.
Estoques “Antigamente, às vésperas da volta às aulas os preços caiam, mas, este ano, isso não vai acontecer", avisa Feliciano Abreu. Isso porque as papelarias estão no sufoco para manter a clientela e lidar com os reajustes. “O nosso aviso é para que todos antecipem suas compras. É possível que muitos lojistas ainda estejam mantendo seus preços porque conseguiram fazer um estoque no ano passado. Mas, com o passar dos dias, com a inflação e dólar em alta, o que os comerciantes repuserem vai chegar mais salgado para o consumidor”, comenta Rubens Passos, que acredita que a desvalorização do real vai continuar impactando no setor. “Quem chegar primeiro no ponto de venda terá mais oportunidades”, aconselha.
Enquanto duram os estoques, os estabelecimentos apostam nas promoções para atrair a clientela arredia. Na Papelart Minas, no Bairro Floresta, na Zona Leste, por exemplo, os descontos têm resultado em um movimento no local. De acordo com a funcionária Gizélia Soareas Xavier, a cada R$ 100 em compra, o consumidor tem 25% de desconto. “Ou seja, ele paga, na verdade, R$ 75. Estamos negociando com os clientes. Hoje (ontem), um pai de aluno quis comprar um lápis que custava R$ 1,50 a unidade. Quando ele disse que queria a caixa com 12 lápis, vendi a R$ 12", conta, acrescentando que quando as pessoas compram em grandes quantidades, o estabelecimento dá descontos. “Além disso, quando o cliente opta pelo pagamento à vista, tem o desconto de 10%”, avisa.
Consulta gera economia
O hábito de pesquisar, pelo menos em dois estabelecimentos, também é fundamental neste momento. O levantamento do Mercado Mineiro mostrou que itens da lista de material escolar chegaram a ter diferença de 566,67% entre as lojas, como é o caso do Papel Fantasia que pode custar de R$ 0,15 até R$ 1. O site comparador de preços e produtos Zoom fez um levantamento dos valores dos itens básicos da lista escolar e mostrou que, ao optar por comprar os produtos mais baratos, os pais podem gastar em média R$ 68 com artigos de papelaria e economizar 72%, já quem não pechinchar e buscar opções similares por um custo mais baixo pode ter um gasto superior a R$ 240.
Uma lapiseira Tris Tech 0.5 mm custa, de acordo com o site, R$ 1,96. Enquanto a lapiseira Pro-line 0.5mm Triden, com a mesma funcionalidade, mas marca e design diferente, custa R$ 26,90, uma variação de 1.272%. Abandonar as marcas conhecidas e optar por aquelas nem tão conhecidas pode fazer a diferença. Um corretivo líquido sem marca em BH pode custar R$ 1,50, enquanto aquele feito por uma empresa famosa custa o dobro.
“Principalmente nesse momento, em que por conta da crise econômica, o orçamento de início de ano está ainda mais apertado, vale pesquisar bastante antes de comprar, pois esses artigos de papelaria são itens de pequeno valor, mas que podem representar grande economia no valor total da compra de material escolar”, comenta Thiago Flores, diretor-executivo do Zoom. “Os pais precisam economizar ao máximo, principalmente no início de ano, período em que outros gastos extras, como taxa de matrícula, uniforme e outros materiais didáticos, podem surgir e complicar o orçamento da família”, completa.
Enquanto isso, mercado calcula inflação maior
A pesquisa semanal feita pelo Banco Central (BC) com analistas do mercado financeiro elevou mais uma vez a previsão para a inflação deste ano, que deve fechar em 7% – 0,5 ponto percentual acima do teto da meta do governo. Para o ano que vem, a taxa esperada para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) também subiu, passando de 5,20% para 5,40%. Na semana passada, o relatório Focus previa que inflação ficaria em 6,93% este ano. A alta, que já prevê a taxa em 7%, foi a terceira seguida. Em 2015, a taxa oficial foi de 10,67%, a maior em 13 anos e o primeiro estouro da meta desde 2003. O centro da meta do BC é 4,5%. A piora da previsão para 2017, que já chega a 5,40%, afasta o resultado do alvo e o aproxima do teto de 6%, uma vez que a margem de tolerância estipulada para o ano que vem é de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
Veículo: Jornal Estado de Minas - MG