Alto preço pela ineficiência.
Os custos logísticos consomem em média 11,73% da receita das empresas brasileiras, conforme levantamento feito pela Fundação Dom Cabral (FDC). Tamanha representatividade desses gastos faz com que a cada vez maior precariedade das estradas brasileiras deixe de ser apenas um problema econômico e produtivo e passe a ser também um empecilho ao desenvolvimento social.
Os dados se referem à pesquisa “Custos Logísticos no Brasil 2015”, que consultou 142 empresas brasileiras de 22 segmentos industriais, que respondem por 15% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. De acordo com o estudo, os custos logísticos avançaram 0,21 ponto percentual em relação a 2014 -, revelando um alto nível de dependência de rodovias (98%), profissionais qualificados (85%) e máquinas e equipamentos (78%).
Para o coordenador do Núcleo de Infraestrutura e Logística da FDC, Paulo Resende, responsável pelo estudo, não bastassem os impactos referentes à produtividade e competitividade, o alto peso dos custos logísticos já começam a afetar o consumo das famílias brasileiras das classes mais pobres, se tornando um problema social. Isso porque, conforme ele, o transporte de longa distância é, com 50%, o fator mais representativo na estrutura de custo logístico das companhias, seguido do transporte de curta distância, em área urbana, com 20%.
“O aumento dos custos logísticos se reflete no preço final dos produtos comercializados e isso afeta diretamente o consumo das famílias. Para se ter uma ideia, uma família do Norte ou Nordeste paga cerca de 20% a 30% a mais em um quilo de arroz do que outra que esteja no Sul ou no Sudeste. Essa ‘inflação logística’ acarreta em um problema econômico e social, pois quem acaba sofrendo, em maior intensidade, são as classes mais baixas”, afirma.
Competitividade - Do ponto de vista das empresas, Resende lembra que isso gera a perda de competitividade e do poder de investimento para o futuro. Neste sentido, ele destaca que com o aumento dos custos a empresa tem três opções: repassar o preço para o produto final; negociar com fornecedores; ou diminuir as margens de lucro.
“Diante de um cenário recessivo como o atual, as empresas acabam ficando sem opção e tendo que apertar suas margens. Com isso, ela perde seu poder de investimento no aumento da capacidade de produção e/ou inovação e deixa de ter competitividade”, diz.
Ainda conforme Resende, esse aumento tem acontecido por uma série de fatores, entre os quais se destacam a precariedade das estradas brasileiras, a dependência do modal rodoviário e o aumento do preço dos combustíveis. Segundo ele, somente no que se refere à concentração no modal rodoviário, no transporte de insumos e produtos, o meio é o mais utilizado (80%), seguido do ferroviário (8%) e aeroviário (5%).
“O que descobrimos ano a ano é que essa matriz de transportes do País está ficando muito perigosa para todos os setores, sem exceção. Temos uma concentração muito grande no transporte rodoviário e ele precisa ser feito apenas para produtos de maior valor agregado e peso bruto menor – o que não ocorre. Se continuarmos no caminho inverso, vamos continuar acabando com nossas estradas e elevando o custo da logística”, explica.
A solução para o problema, conforme o professor está em uma gestão de qualidade e na adoção de planejamento longo prazo. “Infelizmente não estamos encontrando nada disso em nenhuma esfera governamental. Desde Brasília até as cidades, está um desastre”, avalia.
Veículo: Jornal Diário do Comércio - MG