As compras de mês se tornam rotina entre as famílias. Nos supermercados, em média, vendas chegam a cair 70% na segunda quinzena.
A disparada da inflação está fazendo as famílias retomarem velhos hábitos de consumo. As compras de mês — prática muito comum na década de 1980 e início dos anos 1990 — voltaram com tudo. A necessidade de estocar mercadorias, principalmente alimentos não perecíveis, está tão latente, que as vendas dos supermercados estão se concentrando nos primeiros 15 dias do mês. Na segunda quinzena, em média, o movimento nas lojas chega a cair 70%. “Assim que meu pagamento sai, corro para o supermercado. Estoco tudo o que posso, de comida a produtos de limpeza. Assim, não corro o risco de ficar sem comida quando o dinheiro acabar”, diz a aposentada Suzana Santos Silva, 67 anos. Assustada, ela treme só de pensar na possibilidade de o país voltar aos tempos anteriores ao Plano Real. “Seria o caos”, afirma.
As compras de mês se intensificaram a partir do segundo semestre do ano passado, quando as famílias sentiram todo o baque no orçamento provocado pela forte alta das tarifas públicas, sobretudo as de energia elétrica. “De repente, o dinheiro começou a faltar. Passou a sobrar mês”, frisa a nutricionista Ângela Maria, 47. Temendo ficar com a despensa vazia por falta de recursos e das constantes remarcações de preços, ela encurtou as idas ao supermercado. Primeiro, as compras quase que diárias se tornaram semanais. Depois, quinzenais. “Agora, compro tudo o que a casa precisa de uma única vez. Só volto ao supermercado no mesmo mês em caso de muita necessidade ou se encontrar boas promoções”, relata.
Pelos cálculos da Associação Paulista de Supermercados (Apas), que acompanha o movimento do principal centro consumidor do país, 40% do volume total de vendas do setor estão concentrados nos 10 primeiros dias do mês. Aos poucos, diz o gerente do departamento econômico e de pesquisas da entidade, Rodrigo Mariano, está se voltando ao quadro que prevalecia antes do Plano Real, quando de 60% a 70% das vendas se concentravam nos primeiros 10 dias. “É bem provável que esse movimento se aprofunde ao longo do tempo, se a inflação não cair”, avalia. “A alta dos preços é muito ruim para os consumidores, sobretudo os mais pobres”, emenda. A inflação está em alta desde 2011, quando Dilma Rousseff tomou posse. Em 2015, atingiu 10,67%, a maior em 13 anos. Em janeiro, os alimentos computaram o maior reajuste para o mês: 2,28%.
Veículo: Jornal Correio Braziliense - DF