As redes supermercadistas apostam na expansão dos modelos de atacados para diminuir os efeitos da crise econômica que afeta as vendas no varejo. Novas unidades, principalmente no Nordeste do País, estão no foco das empresas do setor para este ano.
Com o bolso mais apertado e o temor da falta de dinheiro no final do mês, os consumidores têm buscado estocar alimentos e produtos de primeira necessidade, logo recorrem aos atacarejos por venderem artigos em fardo e às vezes terem preços mais acessíveis. No nordeste essa tendência tem sido mais forte e quem aposta nesse mercado é o Grupo Pão Açúcar (GPA). Após divulgar ontem uma queda de 80,1% no lucro líquido em 2015, na comparação com o ano anterior, a companhia prevê inaugurar 11 ou mais unidades da marca Assaí ainda em 2016, boa parte naquela região.
"[O segmento] tem mais facilidade [de expansão] nestas regiões [Norte e Nordeste] do que no Sul e Sudeste, já que mais da metade da clientela é formada por pessoa jurídica, e também porque a estrutura logística não é tão boa", disse o presidente do GPA, Ronaldo Iabrudi.
A subsidiária atacadista, inclusive, foi uma das únicas do grupo a registrar resultados positivos no ano passado. Segundo o relatório do GPA, a a rede de autosserviço cresceu 53,3% em vendas no quarto trimestre de 2015, em comparação com o mesmo período do ano anterior. O número leva em conta as aberturas de 11 lojas com a bandeira entre janeiro e dezembro do ano passado. O GPA diz que vai investir R$ 1,5 bilhão até dezembro deste ano, 25% menos do que os R$ 2 bilhões investidos pelo grupo no ano passado.
Concorrência
Controlado pelo Carrefour e concorrente direto do Assaí, o Atacadão também estima ampliar a atuação no Nordeste. No início do mês, a rede inaugurou uma nova unidade em Santo Antônio de Jesus, na Bahia, o que levou a bandeira a consolidar 12 lojas no estado. "A Bahia é um dos principais mercados de atuação para a rede, com operações entre lojas e atacados de entrega", afirmou o diretor-presidente do Atacadão, Roberto Müssnich.
Especialistas ouvidos pelo DCI acreditam que a aposta no segmento de atacados é correta, mas veem queda nas vendas ao longo do ano, inclusive entre as lojas do segmento. "O investimento nesse modelo faz sentido, já que os consumidores voltaram a realizar compras do mês com receio de estourar o orçamento ao longo do período. O cliente tem embarcado também no movimento de busca por preços mais competitivos, geralmente encontrados no autosserviço", avalia o assessor da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de São Paulo (FecomercioSP), Vitor França.
Para ele, apesar da tendência de bom desempenho no mercado, os atacarejos não devem escapar da crise. "O único segmento do varejo que deve crescer este ano é o de farmácias. Os outros devem trabalhar com números negativos."
O fato das companhias focarem a expansão dos atacados no Nordeste surpreende o presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar), Claudio Felisoni. "Se tem um negócio que está dando dinheiro são os atacarejos, operações extremamente rentáveis. Quanto ao foco no Nordeste, tenho dúvidas. A inflação mais alta onera mais quem ganha menos. E foi nessa região onde as pessoas mais ascenderam antes da crise, o que me leva a pensar que elas devem ser as mais afetadas."
Segundo Felisoni, o varejo brasileiro deve crescer entre 3% e 4% este ano. Resultado abaixo da inflação. Em janeiro deste ano, o Índice Antecedente de Vendas do Instituto para Desenvolvimento do Varejo fechou com queda real de 8,56%, em comparação ao mesmo mês de 2015 - já descontada a inflação. É o pior resultado da série desde outubro de 2007.
Veículo: Jornal DCI