Em meio ao cenário de recessão econômica, a demanda mais fraca já começa a contribuir para limitar o aumento dos preços ao consumidor. Dois itens que mostram bem o arrefecimento da demanda são as passagens aéreas, cujas tarifas recuaram 10,85% em março, e a refeição fora de casa, que subiu 0,55% no mês, enquanto a alimentação no domicílio avançou 1,61%. Os dados são do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“No mês de março, já se mostra o impacto da demanda, do desemprego, da falta de dinheiro mesmo da população, no sentido de cumprir a oferta dos produtos. No caso da alimentação fora de casa, os estabelecimentos já se mostraram reduzindo suas taxas de crescimento de preços. Esse é um exemplo clássico de redução de demanda com reflexo sobre o preço”, afirmou Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE.
Quanto às passagens aéreas, os preços caem por causa do crescimento na ociosidade das aeronaves. Em relação à refeição fora de casa, os aumentos menores vêm da dificuldade de comerciantes repassarem as elevações de custos que tiveram. Eulina explica que o País viveu no ano passado uma inflação de custos, devido ao aumento de itens administrados, como a energia elétrica, transportes e combustíveis.
“Tudo isso gera uma pressão de custos, que vai ser mais ou menos repassada, a depender da demanda. E se a demanda está menos aquecida como está agora, é mais difícil um comerciante ou prestador de serviços repassar seus custos represados”, explicou a coordenadora do IBGE.
A inflação de serviços reduziu o ritmo de alta de 1,05% em fevereiro para 0,24% em março, sob influência do arrefecimento da demanda de consumidores. O resultado para os serviços, o mais baixo desde maio de 2015, trouxe a taxa acumulada em 12 meses de 7,86% em fevereiro para 7,49% em março, o menor patamar da série histórica do IBGE, iniciada em janeiro de 2013.
“De modo geral, acreditamos que o hiato negativo do produto começou a mostrar efeitos mais nítidos nos preços dos serviços, colaborando para trazer a inflação para um patamar mais baixo”, avaliou Octavio de Barros, diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, em relatório.
Apesar do movimento de redução da taxa de inflação, o IBGE lembra que alguns itens permanecem pressionando o IPCA por conta de aumento de impostos e por força de contratos indexados, que repassam automaticamente aos preços a inflação acumulada em períodos anteriores. “Alguns aumentos são insistentes porque são indexados, como o plano de saúde”, acrescentou Eulina.
Em abril, a inflação será pressionada pelo reajuste de até 12,5% nos medicamentos, autorizado pelo governo, mas terá novo alívio da conta de luz.
O impacto da alta dos medicamentos não é definitivo, dado que foi estabelecido apenas o limite máximo para os aumentos. “Vai depender de como esses 12,5% vão ser distribuídos”, disse a coordenadora do IBGE.
Outros itens que devem pressionar o IPCA são a taxa de água e esgoto (com reajustes no Recife e em Curitiba), tarifa de ônibus urbano em Porto Alegre, táxi (em Fortaleza e Porto Alegre), ônibus intermunicipal em Campo Grande e metrô no Rio de Janeiro.
Veículo: Jornal Diário do Comércio - MG