Um levantamento realizado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) revela que a maioria dos empresários brasileiros que atuam nos segmentos do comércio e de serviços está sentindo os efeitos negativos da atual crise econômica. Segundo a pesquisa, 86,9% desses empresários disseram que seus negócios estão sendo afetados pela crise em algum grau.
A principal consequência do momento de instabilidade sobre as empresas, na percepção dos entrevistados, tem sido a diminuição das vendas (82,7%), seguida pelo aumento do pagamento de impostos (51,0%), medo de investir (40,4%) e dificuldades para pagar as contas em dia (34,7%). Apenas 10,5% avaliam que o negócio não está sofrendo com o atual momento político e econômico.
"A atual situação da economia brasileira tem gerado um círculo vicioso difícil de interromper. Como a inflação e as taxas de juros permanecem altas, as vendas caem e as empresas empregam e investem menos. Os efeitos negativos são percebidos nas quedas das vendas no varejo e na produção industrial. Dessa forma, temos queda de confiança tanto do empresário, quanto do consumidor. Esse resultado se traduz, muitas vezes, em inadimplência de ambas as partes e também em recessão", analisa o presidente da CNDL, Honório Pinheiro.
Entre as empresas que demitiram, a média é de trêsdispensados no último trimestre
A pesquisa mostra também que três em cada dez (27,8%) empresários dos ramos do comércio e serviços estão enfrentando dificuldades para manter postos de trabalho em função do atual momento econômico. Apenas no último trimestre - entre janeiro e março deste ano -, cada empresário, que reconhece enfrentar esse problema, demitiu, em média, 3,3 funcionários. No segmento de serviços, o número de demissões é ainda maior: 4,3 dispensas. E 11,8% ainda projetam fazer novas demissões este ano para readequar a empresa ao novo cenário.
Diante desse panorama desafiador, a contenção de despesas tem sido a principal estratégia das empresas para manter-se no mercado: 45,1% da amostra afirmaram tê-la adotado em algum grau. Outras medidas necessárias que tiveram de ser aplicadas para a sobrevivência da empresa foram a redução de preços (14,8%), demissão de funcionários (9,5%), investimento em atendimento (8,2%) e troca de fornecedores por outros mais baratos (7,9%).
"Em maior ou em menor grau, a grande maioria dos empresários tem sido prejudicada pela instabilidade econômica e acabam forçados a se reinventarem para manter a atividade de seus negócios. Quem tem resiliência, experiência de mercado, autoconfiança e criatividade pode conseguir atravessar o momento com relativa tranquilidade ou até mesmo crescer na crise", explica a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
Percepção da crise é maior no Sul, Sudeste e Centro-Oeste
Na avaliação do empresariado brasileiro, a economia tem mostrado sinais evidentes de deterioração: 86,7% consideram a crise econômica grave e para 85,3% as condições econômicas do país pioraram nos últimos seis meses. Apenas 5,0% disseram que as condições econômicas melhoraram e para 8,8% a situação permanece a mesma.
Embora generalizada em todo o país, a sensação de piora é menos intensa nas regiões Norte (69,8%) e Nordeste (71,0%), ao passo que os índices mais altos de insatisfação foram observados nas regiões Centro-Oeste (85,1%), Sul (86,4%) e Sudeste (93,0%). Quando se trata da própria empresa, apesar de parecer menos pessimista, a percepção negativa se mantém preocupante: 64,0% disseram que as condições gerais de seu negócio pioraram em algum grau no último semestre.
Para empresários, situação política agrava economia
O levantamento mostra que na opinião dos empresários entrevistados a crise econômica acaba sendo potencializada pelos problemas políticos do país. Isso fica evidente quando os empresários tiveram de apontar os problemas nacionais que eles julgam mais importantes para serem resolvidos em 2016.
O combate à corrupção foi o mais citado, com 68,5% das respostas, seguido pela crise política, mencionada por 63,6% da amostra. Outros entraves que precisam ser solucionados com urgência na opinião dos empresários brasileiros são a saúde pública (25,2%), inflação (24,7%) e impostos elevados (23,6%).
"O fato de a crise política e econômica se posicionarem à frente de outros problemas considerados crônicos no Brasil evidencia o mal-estar generalizado do ambiente de negócios", afirma a economista Marcela Kawauti. Além disso, Indignação (83,3%) e vergonha (76,7%) são os principais sentimentos que a crise tem despertado no empresariado dos segmentos de comércio e serviços quando ouvem ou conversam a respeito dos problemas atuais.
Na visão dos proprietários de empresas consultados na pesquisa, as principais consequências do impasse político sobre a economia tem sido o aumento do desemprego (65,0%), o aumento dos impostos (63,6%) e a queda no consumo e nas vendas (59,2%).
Sem perspectivas de que haja uma reversão de tendências para o curto prazo, quatro em cada dez (39,5%) entrevistados acreditam que a economia fechará este ano ainda pior do que 2015 e quase a metade (49,2%) pensa que nos próximos seis meses a situação econômica se aprofundará ainda mais. Os otimistas somam 28,4% e para 19,9% a situação deve continuar a mesma no período.
Entre aqueles que se dizem pessimistas com a economia brasileira, a principal justificativa é a falta de confiança de que a crise política seja resolvida (42,9%), seguido pela percepção da alta gravidade da crise econômica (30,3%). Há ainda os que pensam que a inflação não será controlada e o país não retomará o crescimento (13,8%). O maior temor dos empresários para 2016 é que o país não saia da crise (41,1%), principalmente nas cidades do interior (44,1%), seguido de não conseguir pagar as dívidas (17,6%) e ser obrigado a fechar o próprio negócio (14,9%).
Mesmo em um ambiente turbulento, os empresários acreditam que há como driblar as consequências da crise. A maior parte dos empresários que respondeu a pesquisa mostra-se mais otimista quando a análise se detém apenas ao seu negócio. Quatro em cada dez (45,4%) entrevistados disseram ao SPC Brasil que as expectativas para a empresa são boas para os próximos seis meses, enquanto 27,7% esperam que o período será ruim para a sua empresa.
Metodologia
A pesquisa procurou investigar a opinião dos empresários a respeito da crise econômica atual, avaliando os seus reflexos nos negócios e nas expectativas para o futuro. Foram entrevistados 825 empresários de todos os portes. A margem de erro é de 3,4 pontos percentuais para uma margem de confiança de 95%.
Fonte: UOL