Os consumidores estão atolados em dívidas com cartão de crédito. Em abril, a inadimplência do rotativo cravou em 36,4%, de acordo com dados do Banco Central (BC). Isso significa que, em média, quase quatro em cada 10 pessoas recorreram ao pagamento mínimo da fatura ou utilizaram a função saque da ferramenta de plástico e estão há mais de 90 dias sem honrar o compromisso. Na comparação com março, no entanto, a taxa de calote recuou 0,2 ponto percentual. Mas, para analistas, foi uma queda pontual. Em relação ao mesmo período do ano anterior, o índice subiu 1,9 ponto percentual.
Entre os motivos que explicam o alto calote nessa modalidade de crédito é a retração da economia. Com o desaquecimento da atividade, as famílias consomem menos no mercado de bens e serviços. Dessa forma, comerciantes e prestadores de serviços estão reduzindo investimentos e demandando menos da indústria – que, por sua vez, também freia a produção e reduz a produção de manufaturados.
Com menos consumo – inclusive entre empresas –, o corte de trabalhadores acaba sendo inevitável. Frente a redução dos postos no mercado de trabalho, cai a renda disponível na economia. Junto a isso, há uma inflação ainda alta, que corrói o poder de compra das famílias. Para manter os gastos, ainda que de produtos essenciais, os consumidores acabam se endividando e recorrendo ao cartão de crédito como uma extensão dos salários.
E todo esse cenário reforça outro fator preponderante para o atraso de pagamentos: as taxas de juros. A presença de riscos às instituições financeiras, mediante as incertezas em receber o pagamento do empréstimo concedido, fez os bancos aumentarem exponencialmente as taxas de juros nos últimos 12 meses. Em abril, a taxa média do rotativo foi de 448,6% ao ano, um aumento de 101,2 pontos percentuais frente ao mesmo período do ano anterior.
O economista-sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fábio Bentes, recomenda muito cuidados com o uso do cartão de crédito, principalmente nos casos de famílias em que o uso do rotativo é cada vez mais frequente. “Uma pessoa que vai utilizar cartão de crédito como “puxadinho” da renda não pode exceder a capacidade de pagamento”, ponderou ele, ressaltando que o momento atual da economia não permite extravagâncias. “É preciso equilíbrio. Por isso, uma meta de comprometimento da renda é fundamental”, acrescentou.
Por isso, é importante que os consumidores tenham consciência do limite disponível no orçamento. Para Bentes, o risco aos bancos ainda é alto. Ele avalia que mais postos de trabalho ainda serão fechados até o fim do ano, movimento que colabora para a manutenção das taxas de juros altas. “O ideal é que a pessoa não perca o controle em relação aos gastos, evitando o consumo muito além da capacidade de pagamento para não entrar no rotativo”, sustentou.
Veículo: Jornal Estado de Minas - MG