A Xiaomi, quinta maior fabricante de smartphones do mundo, anunciou ontem um acordo com a Microsoft, na esperança de consolidar sua expansão internacional. Segundo comunicado, a “associação de longo prazo” prevê intercâmbios de patentes e o compromisso da Xiaomi de instalar em seus dispositivos alguns programas da Microsoft, como os aplicativos Office e o serviço de comunicação Skype. O acordo valerá a partir de setembro. “Este é um grande acordo de colaboração entre as duas companhias”, disse o vice-presidente da Xiaomi, Wang Xiang.
Ao firmar a parceria, a empresa chinesa adquiriu cerca de 1,5 mil patentes da Microsoft. As patentes envolvem diferentes tecnologias, de comunicação sem fio a vídeo, passando pelo armazenamento de informações na internet e recursos multimídia. As empresas não divulgaram o valor da transação.
Legitimidade. Segundo analistas, o interesse da marca Xiaomi em ser reconhecida fora da China tem sido prejudicado pelo número de patentes inferior ao de seus principais concorrentes e pelo receio de prolongadas batalhas jurídicas.
“O acordo pode ter lhes dado patentes suficientes para que avancem em mercados do Ocidente”, disse o pesquisador da Universidade de Washington, Sameer Singh, à agência de notícias Reuters. “A posição deles na China tem ficado sob constante ataque de fabricantes menores, então avançar para o exterior é uma necessidade.”
Os smartphones da Xiaomi funcionam com uma versão bastante modificada do sistema operacional Android, do Google. Diversas fabricantes que adotam o Android enfrentaram processos judiciais no passado, alguns deles movidos pela própria Microsoft. O objetivo das disputas era frear o avanço do sistema do Google, que hoje está presente em mais de 80% dos smartphones vendidos em todo o mundo, segundo a consultoria americana Gartner.
Telefone com Word. Por outro lado, a Microsoft vai oferecer uma série de aplicativos e serviços por meio dos dispositivos de uma das marcas mais populares na China, hoje o principal mercado para smartphones do mundo. Segundo a Xiaomi, o Word, Excel, PowerPoint e outros aplicativos que compõem o Office, além do Skype, serão pré-instalados nos modelos mais recentes de smartphones e tablets da marca chinesa, como Mi 5, Mi Max, Mi 4s, Redmi Note 3 e Redmi 3.
Com sede em Pequim, a Xiaomi chegou ao topo do mercado de smartphones da China em 2014, com uma estratégia de vendas online que ajudou a manter o custo de seus produtos baixo, chegando a ocupar o terceiro lugar entre as marcas com mais smartphones comercializados no mundo, atrás apenas de Apple e Samsung. No entanto, a empresa perdeu espaço recentemente para rivais locais, como a Oppo e a Huawei.
Queda. Segundo a consultoria Strategy Analytics, as vendas de celulares da Xiaomi na China caíram 9% no primeiro trimestre de 2016, em relação ao mesmo período do ano passado. A fatia de mercado da empresa caiu de 13% para 12%.
A parceria com a Microsoft pode ser determinante para a entrada da Xiaomi nos Estados Unidos, mercado altamente lucrativo e dominado pela Apple e pela Samsung. Ela não é a única chinesa de olho neste mercado: um dos motivos que levaram a Lenovo, maior fabricante de computadores do mundo, a comprar a Motorola foi a presença da marca no mercado norte-americano.
Para a Microsoft, a associação com a fabricante é importante para ampliar a oferta de seus serviços baseados em nuvem para mais usuários, em especial na China. Por ter demorado a entrar no mercado móvel, a companhia não conseguiu emplacar o sistema operacional Windows Phone, que estava presente em apenas 2% do total de 1,44 bilhão de smartphones vendidos em todo o mundo ao longo de 2015.
A companhia tenta agora atuar no segmento por meio de serviços baseados na nuvem, que podem ser acessados a partir de qualquer aparelho. “A estratégia não é ganhar com dispositivos, mas oferecer os melhores apps”, explicou Adam Woodyer, vice-presidente de pesquisas da consultoria Gartner, ao Estado, em maio.
Veículo: Jornal O Estado de S. Paulo