O consumo despencou na casa da ex-vendedora de automóveis Taciana Herrero, 31 anos. Desempregada há quase três anos, ela está vendendo minipizzas, fazendo faxinas e trabalhando como recepcionista em eventos para sobreviver e completar a renda de R$ 400 que recebe de pensão alimentícia do pai dos dois filhos, e do Bolsa Família.
A crise a obrigou a controlar ainda mais as despesas. “A prioridade é a comida. E o dinheiro que entra mal dá para isso”, lamentou ela, que, nos últimos quatro meses, abriu mão de carne. “Estamos comendo ovo e fazendo compras só em dias de promoção.”
O drama vivido pela família Herrero é um entre os milhões de casos que ilustram a retração do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre. De janeiro a março deste ano, o consumo das famílias — que representa cerca de 60% da geração de riquezas pela ótica da demanda —, recuou 1,7% frente ao volume acumulado nos últimos três meses do ano passado. Foi a quinta queda consecutiva, algo jamais registrado antes pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em relação ao mesmo período de 2015, o tombo foi de 6,3%, a maior redução nessa base de comparação em toda a série histórica, iniciada em 1996. Não fosse por uma queda a esse patamar — que recolocou o consumo das famílias ao nível do primeiro trimestre do primeiro mandato da presidente afastada, Dilma Rousseff —, a redução do PIB no primeiro trimestre diante de igual período do ano passado teria sido bem menor. Se o consumo das famílias tivesse ficado zerado, a retração do produto seria de 1,6%, e não de 5,4%, calcula o economista-sênior da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fábio Bentes.
Para analistas, o modelo econômico com ênfase no consumo das famílias — que foi um dos principais motores da economia nas gestões petistas e o grande responsável por amenizar a crise de 2009 — está esgotado. O governo incentivou os gastos via crédito e pressionou o Banco Central (BC) para que reduzisse a taxa básica de juros (Selic). Os consumidores responderam, mas não houve investimentos suficientes para elevar a oferta, descompasso que gerou pressão nos preços.
Com a inflação, o BC elevou os juros, movimento que encareceu o crédito às famílias e às empresas. Assim, os consumidores frearam de vez os gastos, levando as empresas a reduzir investimentos e demitir funcionários. Esse cenário de aumento da inflação, escalada de juros e destruição de postos de trabalho impactou outro componente importante: a confiança do consumidor.
A vida do publicitário Franklin Vieira, 35, virou de cabeça para baixo quando ele perdeu o emprego em dezembro passado. Apesar de ter conseguido uma vaga de vigilante, em março, a renda familiar caiu cerca de 30%. Para reduzir os gastos, cortou lazer, o serviço de televisão por assinatura e a internet. Transferiu os dois filhos da escola particular para um estabelecimento público. Mesmo com todos os sacrifícios, as contas ainda pesam no orçamento. “Estamos consumindo o essencial e fazendo todo o esforço possível para pagar dívidas antigas”, disse.
Veículo: Jornal Correio Braziliense - DF