Para brigar com produtoras internacionais, como Disney e Warner, companhias brasileiras remodelam seus personagens e investem na divulgação por plataformas digitais
Os personagens infantis brasileiros começam a ganhar espaço no mercado de licenciamento de produtos e já ajudam até fábricas nacionais a lucrar mais. Parcerias para produção de conteúdo e divulgação por plataformas digitais impulsionam o sucesso das marcas.
Com êxito até fora do País, um desses exemplos é a Galinha Pintadinha, que com mais de 600 itens licenciados se tornou uma das cem maiores marcas licenciáveis de todo o planeta.
"Alcançamos um nível consolidado no mercado e apesar disso conseguimos manter nossas vendas neste ano em um patamar próximo ao do ano passado. Trabalhamos muito bem com a divulgação da personagem, que tem uma dos principais canais infantis do YouTube, atualmente", diz o gerente da Bromélia Produções, Miguel Moreira. A empresa é a responsável pela criação e administração de todo o conteúdo da Galinha Pintadinha em todos os canais de distribuição.
Mencionado por Moreira, o canal da personagem infantil na internet já ultrapassou a marca de 2 bilhões de visualizações.
"Para manter esse crescimento e chegar a um número ainda maior de lares, nós estamos trabalhando na dublagem da personagem para idiomas estrangeiros como espanhol, italiano, japonês e chinês. Na América Latina, o desenho está disponível no Netflix", conta o gerente.
Exceto pelas vendas fora do País, a companhia espera manter o nível de vendas alcançado no ano passado. A previsão, no entanto, não foi divulgada. Para concorrer com personagens conhecidos mundialmente, como os da Disney o Instituto Ayrton Senna decidiu remodelar o desenho do Senninha, inspirado no piloto, morto em 1994. A estratégia será muito parecida à utilizada pela Bromélia Produções, detentora da Galinha Pintadinha.
"Por ser uma ONG e não uma produtora, tínhamos uma dificuldade para produzir conteúdo e deixar o Senninha ainda mais conhecido. Fechamos, então, uma parceria com a Endemol. Esse acordo vai levar o Senninha a um outro patamar, com a criação de uma série de desenhos e uma divulgação ainda maior", explica o gerente executivo do Núcleo Senninha do Instituto Ayrton Senna, Mauro Ratto.
Para acompanhar o conteúdo de 26 episódios que passará na TV, a marca desenvolveu, em parceria com a Play, uma estratégia de divulgação digital através de um canal no YouTube.
"Nosso plano é fazer a marca Senninha crescer, ao menos, vinte vezes nos próximos cinco anos. Isso também será possível graças ao modelo financeiro que a marca contempla", afirma Ratto.
Parte das vendas dos produtos Senninha, segundo ele, são direcionadas ao instituto, que anualmente é responsável pela educação de mais de 1,8 milhão de crianças em todo o Brasil.
Após a remodelação, a marca Senninha está presente em cerca de 70 produtos. Um dos objetivos do instituto é ampliar esse número para algo em torno de 300.
De acordo com a Associação Brasileira de Licenciamento (Abral), a venda de produtos licenciados no Brasil movimentou R$ 17 bilhões no ano passado.
A expectativa da entidade é aumentar esse montante em, ao menos, 5% neste ano. "Os produtos licenciados costumam ter uma venda 30% maior que os que não possuem marca ou personagem vinculados. O momento é bastante oportuno para o País, principalmente pelo fato de que somos muito criativos, principalmente em horas difíceis como esta", diz a presidente da Abral, Marici Ferreira.
Para ela, os personagens tupiniquins estão caindo cada vez mais no gosto de crianças brasileiras e até estrangeiras. "Concorrer com a Disney é muito difícil. Mas nossas marcas estão se desenvolvendo e estão sabendo aproveitar as oportunidades", conta.
Indústria
Para as fabricantes de brinquedos, uma das maiores vantagens em se licenciar marcas nacionais é a moeda, visto que o dólar se valorizou de forma bastante contundente frente ao real nos últimos anos.
"Independente da nacionalidade, gostamos de trabalhar com personagens fortes, que estão fazendo sucesso ou consolidados no mercado. O fator do dólar mais alto não chega a impactar já que a fabricação dos brinquedos, que geralmente é feita fora do Brasil", explica a diretora de marketing da Sunny Brinquedos, Sharon Czitrom.
Talvez por isso, a empresa anunciou que planeja investir na produção de pelúcias por aqui, e com isso aumentar suas vendas em, ao menos, 20%.
Atualmente, a Sunny comercializa 16 itens licenciados e planeja faturar entre 8% e 10% mais este ano frente a 2015.
Veículo: DCI