Produto poderá vir, sem taxas, de China, México e países do Mercosul
Após pressão nas redes sociais, o presidente interino Michel Temer anunciou ontem a suspensão das taxas para importação do feijão em uma tentativa de baixar o preço do produto. Em maio, o feijão preto já acumulava alta de 18,8% no ano. A ideia é que a suspensão dure por 90 dias e abranja todos os mercados. O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, disse que a ideia é prevenir que a mesma alta ocorra com o milho e sugeriu o estabelecimento de preço mínimo para os produtores da leguminosa.
Só em junho, o IPCA-15, que funciona como uma prévia da inflação, indicou que o preço do feijão carioca, por exemplo, subiu 16,38%. Maggi afirmou que a alta se deu por questões climáticas, que ocasionaram a perda de praticamente toda a safra da região Centro-Oeste:
— Tivemos uma frustração de 10% da previsão de colheita, e, obviamente, o mercado percebe que vai faltar feijão, e acabamos tendo aumento de preço.
O ministro quer estimular as redes de supermercado a buscarem o item em países do Mercosul, que já têm livre comércio para o Brasil, como Argentina, Paraguai e Bolívia. Segundo a pasta da Agricultura, a ideia é “ampliar as opções de importação do produto de forma a aumentar a oferta no mercado interno e consequente redução dos preços”.
Além disso, o governo deve encaminhar, ainda esta semana, um pedido à Câmara do Comércio Exterior (Camex) para liberação das taxas para a compra do feijão em mercados fora do Mercosul. Hoje, a alíquota para importação desses países é de 10%. O que o ministério irá propor é a inclusão do feijão em uma lista de exceções por 90 dias.
Dessa forma, o país poderá recorrer diretamente ao México e à China. Neste último caso, há o agravante de que o produto demoraria até 60 dias para chegar ao país. Por isso, a ideia é que as empresas tentem recorrer primeiro aos vizinhos. Maggi disse que, como não é o governo quem compra os produtos e sim as redes de varejo, não é possível estimar em quanto tempo os preços começarão a cair:
— O mercado é autossuficiente, ele que regula.
A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) não informou se as importações já estão nos planos do setor. Já o presidente da Associação de Supermercados do Rio de Janeiro (Asserj), Fábio Queiroz, afirmou que comprar do exterior pode ser uma opção para conter os preços, mas não garantiu que a medida será suficiente para que o feijão fique mais barato.
— (O preço) vai depender da negociação de cada supermercadista — afirmou Queiroz.
MILHO TAMBÉM TERÁ ESTÍMULO
Para o economista André Braz, da Fundação Getulio Vargas (FGV), só a decisão de estimular as importações já pode ser suficiente para, ao menos, limitar a alta do produto:
— O mercado sabe que vai ter concorrência em breve.
O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, considerou a saída positiva:
— É a alternativa natural e correta, pois, no Brasil, a cultura de feijão tem três safras e não é possível “colocar” mais um turno para aumentar a produção. A importação é a única possibilidade.
Maggi disse que o governo já tomou medidas para o milho, prevendo situação parecida para este produto. Segundo ele, o preço das sacas subiu, em algumas regiões, de R$ 25 para R$ 60. O ministério sugeriu ao governo estabelecer um preço mínimo aos produtores para a primeira safra, em R$ 18, e condições melhores de importação.
— Isso faz com que tenhamos um volume maior na primeira safra até que cheguemos, no fim do ano que vem, com uma safra melhor, quando esperamos que São Pedro não nos atrapalhe.
Veículo: Jornal O globo