Com queda de commodities, vendas para a Alemanha diminuem em 2016

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Embarques de minério de ferro e café caíram, mas exportações de manufaturados, como aviões, tiveram aumento; segundo especialistas, Brexit pode afetar a balança comercial entre os países

 


 
São Paulo - A receita das exportações brasileiras para a Alemanha recuou 17% no ano até maio, para US$ 1,964 bilhão. Ainda que os embarques de manufaturados tenham avançado, a queda nas vendas de commodities derrubou o balanço comercial entre os países.
 
Os dados do Ministério de Indústria, Comércio Exterior e Serviços mostram que as exportações de produtos básicos geraram US$ 1,122 bilhão para o Brasil entre janeiro e maio de 2016. Em igual período de 2015, o valor dos embarques para os alemães chegou a US$ 1,419 bilhão.
 
Entre as mercadorias que mais afetaram os negócios, estão o minério de ferro e o café. O volume das vendas do primeiro caiu 74%, de 2,460 bilhões de toneladas, no ano passado, para 640 milhões de toneladas, no começo deste ano. Já o valor obtido com a venda do grão diminuiu 31% na mesma comparação.
 
Segundo Matheus Andrade, consultor da Barral M Jorge, a retração da demanda europeia é o motivo do recuo. "Grande parte das mercadorias exportadas para a Alemanha vai para outros países do continente. Os portos alemães e holandeses funcionam como portas de entrada para a Europa", explica.
 
Na direção contrária, a receita das exportações de manufaturados cresceu 3% em 2016, chegando a US$ 712 milhões. Destaque para o incremento dos embarques de aviões e partes de motores e geradores, que tiveram crescimento registrado em volume e valor das negociações.
 
Uma das causas por trás do avanço dos produtos industrializados é a elevação do câmbio, afirma Gabriel Cepaluni, professor de relações internacionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
 
"Quando confrontamos os inícios de 2015 e 2016, vemos que o real ficou mais desvalorizado, o que dá preço mais competitivo para os produtos brasileiros", aponta.
 
Ao falar sobre o futuro dos negócios entre Brasil e Alemanha, Cepaluni lembra que o crescimento econômico do país europeu não favorece um grande aumento das compras. O Produto Interno Bruto (PIB) alemão cresceu 1,7% em 2015. De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), as perspectivas para 2016 e 2017 são piores: aumentos de 1,5% e 1,6%, respectivamente.
 
Ainda assim, a Alemanha ocupa a sexta posição entre os países que mais compram produtos brasileiros, uma colocação abaixo daquela registrada em igual mês de 2015. Neste ano, o país está atrás de China, Estados Unidos, Argentina, Japão e Holanda.
 
Entre os principais importadores de manufaturados do Brasil, os alemães aparecem na décima colocação. Além dos países citados no parágrafo anterior, México, Suíça, Chile, Colômbia e Paraguai também superam a Alemanha
 
Brexit
 
Os entrevistados também repercutiram os efeitos da saída do Reino Unido da União Europeia para as exportações do Brasil para os alemães.
 
Para Cepaluni, a perda de influência da União Europeia, após o Brexit, pode favorecer acordos com outros países do mundo, inclusive o Brasil. "Seria uma forma de fortalecer um projeto de integração em um momento de fraqueza do bloco europeu", explica ele.
 
Já Andrade lembra que o Reino Unido era um dos membros da região que apoiava o tratado entre Mercosul e União Europeia - outros países, como a França, têm opinião contrária ao acordo. Entretanto, ele pondera que a Alemanha, país de maior relevância econômica do continente, é favorável à negociação.
 
"O momento não é muito propício para projeções, já que a situação na Europa é complicada. O que vemos, hoje, é que as conversas entre os blocos [sul-americano e europeu] continuam", indica Andrade.
 
Importações
 
As compras brasileiras de produtos alemães caíram 19%, para US$ 3,702 bilhões, neste ano. Com a retração econômica no Brasil e a desvalorização do real, foi registrado recuo nos gastos com produtos manufaturados, que dominam a pauta de importações.
 
Em cinco meses deste ano, foram comprados US$ 3,492 bilhões, ante US$ 4,371 bilhões em igual período de 2015. Tiveram recuo expressivo os dispêndios com automóveis (-54%) e medicamentos com fins terapêuticos (-71%).
 
Ainda assim, foram vistos aumentos nas compras de alguns produtos, como cloreto de potássio (11%) e escavadoras (238%).
 
Por outro lado, as importações de commodities, parcela insignificante nas trocas, cresceram em 2016. Entre janeiro e maio deste ano, os alemães receberam US$ 23,9 milhões por vendas destes produtos para o Brasil, frente a US$ 16,310 milhões em 2015.
 
Investimentos
 

Se os resultados comerciais não são bons, os aportes da Alemanha no Brasil seguem o sentido oposto.
 
Os investimentos diretos no País, em participação no capital, cresceram 251% neste ano, chegando a US$ 1,096 bilhão. Os dados são do relatório de setor externo, divulgado pelo Banco Central (BC).
 
Com isso, a Alemanha se encontra na quinta posição entre as nações que remetem mais recursos ao Brasil. Estados Unidos, Países Baixos, Luxemburgo e Espanha compõem as primeiras colocações.
 
O investimento via empréstimos intercompanhia, entretanto, recuou 56% em 2016. As multinacionais com operações nos dois países enviaram US$ 616 milhões às firmas brasileiras nos cinco primeiros meses deste ano.
 
Também foi notada diminuição nos aportes direcionados à Alemanha. No recorte por participação no capital, os investimentos do Brasil caíram 95%, para US$ 2 milhões.
 
Veículo: DCI


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