Trabalhadores demitidos em meio à recessão demoram para recuperar o salário que tiveram um dia se conseguem chegar lá. Vinte anos depois, recebem, em média, 10% menos. Jovens já entram no mercado com rendimento 13% inferior
Dois anos atrás, Luênia Félix, 22 anos, decidiu fazer um curso de auxiliar de odontologia, certa de que todas as portas do mercado de trabalho se abririam para ela. Afinal, tudo o que ouvia era que o diploma de um curso técnico driblaria qualquer dificuldade que pudesse surgir no país que já enfiava os dois pés na recessão. No dia em que pegou o certificado final do curso, Luênia, que havia perdido o emprego de operadora de caixa, gritou: “Meu futuro está garantido!” Um sorriso iluminava seu rosto, refletindo toda a esperança que carregava no coração.
Os dias que se seguiram foram cruéis para Luênia. As portas que ela imaginava disponíveis no mercado de trabalho se mostraram mais fechadas do que nunca. Em vez de um emprego que lhe permitisse um bom sustento, obteve uma coleção de falsas expectativas. Nenhum dos telefonemas que lhe foram prometidos se concretizou. A jovem sentiu todo o peso da recessão num país em que 11,4 milhões de pessoas formam um exército de desempregados. Só lhe restou uma opção: vender marmitas.
“Foi o que sobrou para mim. Mas é melhor um emprego informal do que nada. Preciso pagar minhas contas”, diz. Ela ressalta que, com as marmitas, vendidas a R$ 6 cada, fatura, em média, R$ 200 por semana. São R$ 800 por mês, 11,1% a menos do que os R$ 900 que recebia quando tinha a carteira assinada. “Essa perda de renda é o reflexo da falta de oportunidades neste país”, afirma. “Estamos no Brasil da decepção, não no país do futuro que eu acreditava existir”, emenda.
Como Luênia, milhares de jovens que são despejados no mercado de trabalho a cada seis meses e se deparam com essa realidade desanimadora. O Brasil vive o que os economistas chamam de desperdício de capital humano. Prepara-se a mão de obra, gasta-se uma fortuna para formá-la, mas todo o conhecimento é jogado fora. Os formandos não conseguem encontrar vagas nas áreas em que estudaram. E quando conseguem uma oportunidade, ganham, em média, 13% menos do que receberiam em uma economia em expansão. É o pedágio da recessão.
“Fiz várias pesquisas antes de me formar e achei que, com o meu diploma, conseguiria um salário de R$ 1,2 mil por mês. Triste ilusão”, enfatiza Luênia. O diploma, que ela pensou ser um troféu, está guardado no fundo de uma gaveta. O economista Sérgio Firpo, professor da escola de negócios Insper, entende perfeitamente a decepção da jovem. Ele explica que, em momentos de recessão, o desemprego aumenta e os salários encolhem. Nos últimos 12 meses, 3,3 milhões de pessoas entraram na fila de desempregados. Um em cada quatro dessas pessoas é jovem.
Veículo: Diário de Pernambuco