Depois de a fundadora da rede, Luiza Trajano, tropeçar em desfile da Tocha Olímpica, companhia dá um 'salto' de 243% nos ganhos entre abril e junho deste ano, frente ao mesmo período de 2015
São Paulo - Firme no plano de ser totalmente multicanal, o Magazine Luiza colhe os frutos da atenção à estratégia digital. Com ganhos de market share e crescimento de vendas no on-line, a companhia, que atua em um dos setores do varejo mais atingidos pela crise, viu seu lucro aumentar 243% no segundo trimestre deste ano.
Tamanho salto representa um lucro líquido de R$ 10,4 milhões no período, bem acima dos R$ 3 milhões registrados entre abril e junho do ano passado.
Segundo o CEO do grupo Magazine Luiza, Frederico Trajano, os números foram possíveis graças a um plano ambicioso da companhia que envolve desde um corte profundo nas despesas e ganhos de market share, mas, principalmente, a implementação do ambiente digital da rede.
"Nosso projeto digital já completa 16 anos de buscas para se tornar uma varejista 100% multicanal. Hoje, todas as nossas operações possuem a mesma tecnologia de vendas. Isso nos gerou vantagem de custos, maior competitividade com precificação e um nível superior em logística", garantiu Trajano, em teleconferência com analistas.
As vendas via internet, seja por meio do aplicativo oficial da loja ou do endereço eletrônico na internet, cresceram 33,6% no 2º trimestre deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado. No semestre, as vendas por meios digitais avançaram 30% frente aos primeiros seis meses de 2015.
Para Trajano, o avanço em meio à crise também é resultado de aperfeiçoamentos das tecnologias utilizadas pela rede, como melhorias no app, o que acabou por aumentar a taxa de conversão de compras.
"Há, de fato, uma grande migração dos usuários da plataforma PC para o mobile. Cerca de 40% da nossa audiência digital já é proveniente de smartphones. Nosso laboratório esteve especialmente focado em melhorar o aplicativo".
Lançado no final de 2015, o software de compras do Magazine Luiza foi baixado, até meados de julho, por mais de 2,5 milhões usuários. Só neste ano, a varejista investiu mais de R$ 50 milhões no suporte à estratégia digital.
Aliado a isso, a companhia relatou ter conseguido, mesmo em meio a uma inflação na casa dos 10%, a reduzir suas despesas gerais e administrativas em 2% entre abril e junho deste ano, frente ao mesmo período de 2015. Na mesma base de comparação, detalhava o balanço divulgado ontem, a receita bruta aumentou 4,8%, atingindo R$ 2,56 bilhões
Parâmetro internacional
Especialistas em varejo ouvidos por DCI chegaram a comparar a operação da varejista brasileira com a norte-americana Macy's, que assim como o Magazine Luiza, tem grande foco nas vendas digitais.
"Essa experiência bacana que o Magazine [Luiza] tem entregado para o cliente é muito semelhante ao conceito que hoje é amplamente aplicado no varejo norte-americano, onde a integração através do meio digital é mais comum", avalia o especialista em varejo e responsável pela área de e-commerce do Grupo GS&MD - Gouvêa de Souza, Ricardo Michelazzo.
Como exemplo, ele cita a varejista de moda Macy's: "Semelhante a Macy's, o Magazine está focado em entregar para o cliente um atendimento personalizado e ofertas bem dimensionadas, tudo isso no meio digital", comenta ele.
Além disso, o especialista diz que a marca conseguiu angariar novos clientes e ganhar market share sobre as suas concorrentes em um período de queda no consumo, o que, na visão dele, é muito difícil.
Varejo estável
Os bons números do Magazine Luiza também podem ter sido influenciados por uma aparente e leve melhora nas vendas de bens duráveis durante o 2º trimestre. Mesmo assim, de acordo com o diretor vogal do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar), professor Nuno Fouto, ainda é cedo para falar em recuperação.
"No caso do Magazine Luiza, acredito que eles ganharam o espaço dos concorrentes. Acredito que o varejo em si, principalmente o segmento de bens duráveis, só deve iniciar um processo de crescimento em meados de 2017. No momento, o que enxergamos, é uma aparente estabilidade", observa.
Segundo a consultoria GfK, entre janeiro e março deste ano, o varejo de eletrodomésticos, eletroeletrônicos, telefones fixos, informática e móveis faturou R$ 23,9 bilhões, o que representou um recuo de 10% em relação ao 1º trimestre do ano passado.
Para Fouto, por conta das quedas terem acontecido em números bastante significativos, o tempo de recuperação também será maior. Entre os fatores mencionados por ele e que podem contribuir para a melhora dos índices estão estabilidade econômica, melhora dos níveis de emprego e massa salarial, reorganização de dívidas e investimentos.
"Só depois que a empresa consegue pagar seus débitos é que realiza novos investimentos. Este é um fator primordial para o avanço", complementa.
Fonte: DCI