Queda de 2% no volume das compras não foi o bastante para derrubar o faturamento dos lojistas no primeiro semestre; para analistas, desemprego também estimulou novos empreendedores
São Paulo - O e-commerce brasileiro viu, entre janeiro e junho, sua primeira retração no volume de pedidos recebidos, segundo estudo da Ebit. Apesar disso, com o aumento do desemprego e a consequente busca por renda, os novos negócios virtuais - além da entrada de novos consumidores das classes mais abastadas - ajudaram o setor a faturar 2,4% a mais, na comparação anual.
No primeiro semestre, a quantidade de pedidos às varejistas do setor caiu 2%, em comparação com o mesmo período do ano passado, dizia o relatório da consultoria especializada no ramo. No total, foram contabilizadas 48,5 milhões de encomendas durante o período analisado, enquanto nos mesmos meses do ano passado, foram computados 49,4 milhões de pedidos.
Para o CEO da Ebit, Pedro Guasti, a queda é sinal de que o varejo como um todo atingiu o fundo do poço, e o que resta agora é recuperar os prejuízos. "O e-commerce é uma atividade recente da economia, e mesmo que pouco a pouco, ele sempre registrava crescimento. Agora, recuo nunca tinha acontecido. Chegamos ao fundo do poço, mas os números do segundo trimestre mostram que já houve pequena reação do setor, evitando um recuo ainda maior", comenta.
De maneira similar pensa o especialista em e-commerce e sócio-diretor da consultoria BA| Stockler, Marcus Cordeiro, para quem a queda não é uma preocupação, já que o setor deve apresentar uma curva positiva ainda neste ano. "O aumento do desemprego pode ter inflado o número de empreendedores que buscam a internet para abrir um negócio. O setor exige um investimento baixo para começar, mas exige também bom planejamento, como detectar e conhecer seu público alvo, desenvolver ou trabalhar com boa plataforma de vendas e trabalhar o marketing digital."
Outro detalhe, ressaltado por Cordeiro, é o potencial de crescimento, já que as vendas on-line são só 3,8% do comércio nacional, enquanto países como Estados Unidos verificam que a fatia on-line pode chegar a 30%.
Quem pretende garantir um pedacinho dessa fatia do bolo é a recém-criada loja de artigos para skatistas Skate4us. "Decidimos investir no negócio pensando no público envolvido, que tem uma demanda reprimida. A quantidade de praticantes do esporte só aumenta, e isto também nos motivou", conta o sócio-fundador da Skate4us, Christoffer Heine.
Para criar a empresa, foi necessário pouco mais de R$ 10 mil. A meta inicial é vender 300 itens até o final de 2016.
"Estamos muito motivados e trabalhando para se aproximar dos clientes", complementa.
Outros números
Apesar da queda e da crise econômica, o faturamento das empresas que operam no setor cresceu 2,4% no primeiro semestre deste ano, frente ao mesmo período de 2015. Ao todo, as vendas via internet somaram mais de R$ 19,6 bilhões, pouco mais que os R$ 18,6 bilhões registrados no mesmo período de 2015.
Utilizando a mesma base comparativa, o tíquete médio por compra subiu 7%, pulando de R$ 376, no primeiro semestre do ano passado, para R$ 403 este ano, segundo o estudo da Ebit. "A explicação desse avanço é o aumento dos preços dos itens e a quantidade cada vez menor de lojas eletrônicas que oferecem o frete grátis. Além disso, houve crescimento da participação das classes de média e alta renda no total dos pedidos", afirma Guasti, da Ebit.
De fato, a classe C/B - renda entre R$ 3 mil a R$ 8 mil - assumiu a liderança na participação no volume de pedidos do varejo eletrônico brasileiro com 41,6% do total de encomendas entre janeiro e junho deste ano. De acordo com o executivo, esta é a primeira que vez que a classe C/D - com renda de até R$ 3 mil - aparece na segunda colocação em número de pedidos, com 37,5% (ante 40,9% no primeiro semestre de 2015). A estimativa da entidade é de que o e-commerce encerre 2016 com crescimento de até 8% sobre 2015. O faturamento está estipulado em R$ 44,6 bilhões.
Fonte: DCI