Desemprego atinge 12 milhões de brasileiros

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Número recorde representa uma taxa de 11,8% de desocupados no país, também a mais alta já registrada

 
“Chegamos a quase 12 milhões de desempregados, e reitero que não foi culpa minha” Michel Temer Presidente


O ritmo de demissões não dá trégua e continua empurrando mais brasileiros para a fila do desemprego, que bateu dois novos recordes no trimestre encerrado em agosto: a taxa ficou em 11,8%, o que significa que 12 milhões de pessoas estão sem emprego. Os dados são da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (Pnad) Contínua mensal, realizada pelo IBGE desde 2012. No trimestre encerrado em maio, período usado como base de comparação para a taxa divulgada ontem, a desocupação era de 11,2%.
 
 O avanço foi ainda mais forte, de três pontos percentuais, na comparação com o mesmo trimestre de 2015, quando a taxa ficou em 8,7%. Apesar de ter vindo um pouco acima da mediana das previsões de economistas, que era de 11,7%, o índice não surpreendeu, pois analistas já previam um aprofundamento da deterioração do mercado de trabalho, que deve atingir seu pico no primeiro trimestre de 2017, quando se estima que a taxa possa chegar à casa dos 13%.
 
— Ao longo do início do ano, a forte queda da população empregada com carteira era compensada pela informalidade. Quem perdia emprego ia buscar trabalho no mercado informal, que os absorvia. Mas estamos vendo que essa dinâmica está arrefecendo. Se isso continuar se aprofundando, traz o risco de a taxa crescer além das previsões — disse Thiago Xavier, economista da consultoria Tendências.
 
TAXA PODE AUMENTAR AINDA ESTE ANO
 
A análise do economista se refere às quedas no número de empregados no setor privado com carteira de trabalho no trimestre encerrado em agosto, tanto na comparação com os três meses até maio — com 267 mil vagas formais a menos — quanto com o mesmo período de 2015, quando foram fechados 1,4 milhão de postos de trabalho. E o cenário deve piorar. Xavier projeta que o desemprego chegue a 12% no último trimestre deste ano e acelere para entre 13% e 13,5% nos três primeiros meses de 2017. Só depois começaria a recuperação.
 
Já o grupo dos que trabalham por conta própria, que vinha sendo uma alternativa à perda do emprego com carteira, encolheu em 739 mil pessoas em relação ao trimestre encerrado em maio. Na comparação anual, só 86 mil trabalhadores se juntaram ao grupo.
 
Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, destacou a força da recessão sobre a sazonalidade, que, historicamente, a partir do segundo semestre, beneficia o mercado:
 
— É um quadro difícil. Nós estamos divulgando os dados de junho, julho e agosto, quando a economia já devia estar apresentando sinais de melhora, com o escoamento da produção para o fim do ano. Era esperado que a taxa começasse a ficar estável.
 
Ao participar de um seminário ontem em São Paulo, o presidente Michel Temer listou os enormes problemas econômicos do país e as medidas necessárias para começar a reverter a situação. E, ao mencionar a elevada taxa de desemprego divulgada pelo IBGE, o presidente fez questão de eximir-se de responsabilidades.
 
— Chegamos a quase 12 milhões de desempregados, e reitero que não foi culpa minha — frisou Temer.
 
Já o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles afirmou que o desemprego “certamente” deve começar a cair em 2017, à medida que a economia começar a se recuperar.
 
— O emprego tem uma certa defasagem em relação à atividade econômica — ressaltou.
 
Ao atingir 12 milhões de pessoas, o grupo de desempregados cresceu 5,1% em relação ao trimestre anterior, quando o contingente de desocupados era de 11,4 milhões — um aumento de 583 mil pessoas. Na comparação com o mesmo período de 2015, a alta foi de 36,6%, um acréscimo de 3,2 milhões ao contingente de desempregados.
 
Bruno Ottoni, economista do Ibre/ FGV, diz ter se surpreendido pela queda expressiva da população ocupada, que perdeu 712 mil postos de trabalho na comparação com o trimestre encerrado em maio e quase dois milhões em um ano. Em grande parte, pelas demissões que seguem fortes na indústria e no setor de informação, comunicação e serviços financeiros.
 
— A atividade industrial vem caindo a taxas cada vez menores, mas o mercado de trabalho demora a refletir isso. Ainda mais se levarmos em conta que o setor atingiu o mínimo histórico do índice de horas trabalhadas. Então, ainda existe muito espaço para ajuste nesse quesito — avaliou Ottoni.
 
Com relação às atividades econômicas, na comparação com o trimestre encerrado em maio, houve estabilidade nos grupos de trabalhadores em agricultura, comércio, transporte, alojamento e alimentação, informação e comunicação e outros serviços. O grupo de funcionários da administração pública foi o único que cresceu (1,9%).
 
Na base anual, três grupos registraram alta: administração pública (3,5%); alojamento e alimentação (5,3%); e transporte, armazenagem e correio (4,4%). Mas caiu o número de trabalhadores em agricultura (-2,8%); indústria (-11%); informação e comunicação (-9,4%); construção (-1,4%); e outros serviços (-0,6%).
 
Com o fundo do poço do mercado de trabalho à vista, para Claudio Dedecca, economista especialista em mercado de trabalho da Unicamp, preocupa mais o risco de as empresas não voltarem a absorver essa massa desempregada a médio prazo.
 
— A grande expectativa é saber se o crescimento da economia brasileira será a taxas mais expressivas e sustentável. Do contrário, corremos o risco de o desemprego se estabilizar nesse patamar terrível que vivemos hoje por um bom tempo — avalia o economista.
 
José Ronaldo Souza Júnior, coordenador do Grupo de Estudos de Conjuntura da diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), ressalta que o mercado de trabalho só vai melhorar quando houver dispersão de contratações entre todos os setores.
 
INFLAÇÃO FREIA QUEDA DA RENDA
 
Dedecca ressaltou, no entanto, que a desaceleração da inflação — que deve ficar na casa dos 7% este ano, contra os 10,67% registrados em 2015 — pode segurar uma queda maior na renda, que, em agosto, ficou estável nas duas comparações, estimada em R$ 2.011. Já em razão do aumento da desocupação, a massa de rendimento real, que é a soma das remunerações de toda a população ocupada, estimada em R$ 177 bilhões, teve nova queda na comparação anual, de 3%.
 
Por ocupação, em relação ao trimestre de março a maio, houve queda de 5% do rendimento médio para os empregadores. Nas demais posições, não houve variação estatisticamente significativa do rendimento. Na comparação com igual trimestre de 2015, a renda dos empregados caiu 10%. Entre os trabalhadores do setor privado sem carteira assinada e os do setor público, os rendimentos tiveram acréscimos (5% e 3,6%, respectivamente). Nas demais categorias, o nível ficou estável.
 
Fonte: Jornal O Globo


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