Países também criaram instrumento que protege investidores das duas nacionalidades
-GOA (ÍNDIA)- Brasil e Índia fecharam ontem um acordo na área de medicamentos — conforme antecipou O GLOBO no último dia 9 — que pode baratear o valor dos remédios. Os dois países querem produzir conjuntamente tratamento para tuberculose, hepatite-C e até Aids. Entre as várias possibilidades abertas, os empresários esperam parcerias para fazer testes juntamente com os indianos. Isso deve reduzir sensivelmente o custo dos medicamentos.
O texto é amplo e permite cooperação entre os dois países em várias áreas, como fármacos, ferramenta de diagnóstico e até aparelhos médicos. Foram fechados ainda outros entendimentos em que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Embrapa, de pesquisa agropecuária, poderão realizar estudos com os órgãos correlatos.
Os dois países também acordaram em facilitar investimentos. Foi criado um instrumento que oferece proteção jurídica a investidores e investimentos brasileiros e indianos por meio de cláusulas que garantem direitos iguais para pessoas das duas nacionalidades que decidem investir.
— O Brasil começa agora um processo de transformação. A retomada do crescimento econômico requer a presença no Brasil não só internamente, mas nos principais mercados do mundo. Entre eles, evidentemente, está a Índia — frisou o presidente Michel Temer.
Temer se reuniu ontem com o primeiro-ministro indiano Narendra Modi. Negociou desde aeronaves da Embraer até frangos da BRF. Ambos ressaltaram que o comércio com a Índia estão ainda muito aquém do potencial das economias desses países. MAGGI CRITICA PROTECIONISMO Ao todo, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, fechou ontem três acordos com o governo indiano. Um deles de transferência de material genético de bovinos, da Índia para o Brasil. Ele explicou que todo o rebanho daqui é de origem indiana. E que, desde 1950, o Brasil não importa mais gado indiano, e, portanto, a variabilidade genética tem diminuído nos últimos anos:
— Com a entrada desse novo material, vamos dar um choque na pecuária brasileira e tenho certeza de que vamos ganhar produtividade com isso.
Logo após fechar os acordos, o ministro criticou a Índia, que chamou de muito protecionista.
— Não tenho dúvida em dizer que sim. Muito protecionista. Aliás, o próprio governo, uma ala mais tradicional aqui acha que não precisa importar, acha que dá conta sozinha do seu recado, e a ala que prevê o futuro da Índia, entrando aí mais de 15 milhões de pessoas todos anos no mercado de trabalho ou se alimentando, que precisa importar — explicou o ministro. — Há ainda aqui dentro da Índia uma espécie de disputa por qual caminho a ser seguido, e o Brasil está à espreita para ocupar esse mercado.
Fonte: Jornal O globo