Inflação sobre produtos coloca itens como café e arroz fora de alcance da maioria
CARACAS - Uma coisa estranha começou a aparecer nos supermercados venezuelanos: comida. Após anos de escassez até dos itens mais básicos, as prateleiras voltaram a sentir o peso de bens importados como maionese e margarina do Brasil ou café e arroz da Colômbia. Contudo, a nova abundância tem um preço. Muitos compradores não podem pagar por estes produtos.
— Há óleo e pão, mas é impossível comprar com esses preços. Ganho mais de um salário mínimo, mas ainda assim tenho de limitar o que compro — disse a professora Verónica Parra num supermercado.
Sem anunciar qualquer mudança formal, o governo da Venezuela começou a deixar de impor controles de preços em lojas privadas. Donos de estabelecimentos informam que não veem fiscais desde julho. Em vez disso, o governo ordenou aos fornecedores vender metade de seus produtos ao sistema de distribuição estatal, chamado de Clap, que entrega alimentos subsidiados aos pobres. O restante pode ser vendido ao preço que eles quiserem.
— Houve uma correção de preços por meio de um ajuste sujo que vem sendo realizado pelo governo — disse Asdrúbal Oliveros, diretor da Ecoanalítica, uma consultoria econômica sediada em Caracas. — Sujo porque não houve qualquer reforma econômica de fato, mas o governo tem ignorado os controles aplicados previamente sobre a importação de itens não essenciais.
Existe um sistema duplo de compras: o governo abastece a rede Clap e lojas reguladas pelo Estado com produtos adquiridos a uma taxa de câmbio preferencial de apenas 10 bolívares por dólar. Ao mesmo tempo, o setor privado estoca prateleiras a partir de uma taxa de câmbio secundária, conhecida como Simadi, de cerca de 660 bolívares por dólar, ou pela taxa ainda mais cara do mercado paralelo.
Em muitos casos, os preços superaram níveis internacionais, pois fornecedores compensam prejuízos pelas vendas ao governo cobrando valores excessivos. O ketchup Heinz importado numa loja de Chacao, em Caracas, é vendido a 6.670 bolívares, quase US$ 7 pelo câmbio ilegal das ruas. O preço equivale a 10% do salário mínimo mensal, de cerca de 65.000 bolívares, fora do alcance da maioria dos venezuelanos.
Fonte: Portal O Globo