São Paulo - Apesar das expectativas de alta da movimentação das empresas de e-commerce para o Black Friday deste ano, o volume de carga esperada não deve ser suficiente para reverter o desempenho negativo do transporte no segundo semestre. Com isso, perspectivas de novas contratações temporárias e melhoria no valor do frete ficam para 2018.
"As empresas [de transporte] especializadas estão com ociosidade e tentando conter os custos. Como a mão de obra temporária costuma ser mais cara é pouco provável que façam novas contratações", diz o vice-presidente de educação da Associação Brasileira de Logística (Abralog), Edson Carillo.
De acordo com o executivo, a movimentação no período é boa, mas o mercado é fechado, e apenas as especializadas devem aproveitar o momento. Mesmo assim, a previsão é que seja um volume igual ao de 2015. "Ninguém espera que a data seja uma salvação, mas vai ajudar a diminuir os prejuízos", ressalta o especialista. Além disso, ele aponta que a operação será mais árdua. "Com a ociosidade das transportadoras, o poder de negociação do embarcador está maior. Ele pode até ter uma movimentação boa, mas como a oferta é grande, ele acaba negociando fretes mais baratos", analisa Carillo.
Somado a estes problemas, o diretor comercial da Mira Transportes, Klebson Campos, aponta que a concorrência também tem impulsionado para baixo os fretes do mercado. "As empresas estão tampando um buraco para abrir uma cratera no futuro", explica sobre a prática de descontos para ampliar a base de clientes. O executivo contou que todo ano se prepara junto aos embarcadores para atender a demanda do Black Friday, mas neste ano a previsão é que a operação seja similar a 2015 e não exija novas contratações de temporários. Para ele, a perspectiva é que o setor de transportes sinta uma reação positiva do mercado apenas a partir do Natal.
Condições favoráveis
Já na opinião do conselheiro da Abralog, Luiz Ricardo Marques Pedro, ainda existe fatores que podem favorecer o Black Friday e consequentemente o resultado dos transportadores. "As pessoas estão antecipando as compras de Natal, sobretudo, na crise, por conta dos orçamentos mais apertados", apontou o executivo. De acordo com ele, em conversa com grandes varejistas, a perspectiva é de alta de 25% a 35% do faturamento. "Se isso se concretizar, pode significar um crescimento de 15% a 20% no volume transportado", complementou ao DCI. Segundo o consultor, algumas varejistas de grande porte já iniciaram contratações para temporários nos centros de distribuições e a tendência é que isso possa abrir oportunidades para pequenos e autônomos na área do transporte. "Muitas já fecharam contratos, mas agora devem começar a fazer parcerias para atender o aumento do volume", coloca.
Para ele, a data tem sido vista pelo comércio como uma oportunidade de recuperar em muitos casos a queda do faturamento. "Mas elas devem se preparar bem com transporte e tecnologia da informação. Se não, de nada serve prever a demanda e no final não conseguir fazer o atendimento", complementa Marques Pedro. Uma dica para o período, segundo ele, é fidelizar. "Não é apenas o transporte no Black Friday. Se a empresa fizer um bom serviço vai ser chamado por outros varejistas", diz.
Sob outra perspectiva
O diretor geral da Total Express, Bruno Tortorello, também está otimista com o desempenho do Black Friday neste ano. De acordo com o executivo, a companhia realizou estudos de demanda e a previsão é que a companhia movimente dois milhões de encomendas. No ano passado, esse volume foi de quase 1,5 milhão.
"Em termos de faturamento, a alta deve ficar entre 30% e 35%", diz. Para conseguir atender este volume, a companhia anunciou 300 vagas temporárias para o período, mais de 50% de aumento ante a contratação necessária no ano passado. Com a perspectiva de que a demanda ao longo de 2017 será 20% superior a este ano, além do turn off anual, o executivo aponta que deve absorver cerca de um terço dos profissionais temporários.
Ele explica ainda que a empresa está realizando um investimento de R$ 1,6 milhão para atender os clientes no período. "O aporte é basicamente em mão de obra e malha. Estamos aumentando também o volume de negócios nos parceiros que temos", ressalta.
O desafio, para Tortorello, será o de treinar a nova mão de obra. "Muitas pessoas não estão acostumadas com o volume e temos que capacitar todo o pessoal", analisa. Mesmo com dificuldade para conseguir repassar o aumento dos custos no setor, ele aponta que tem criado novos serviços e produtos.
Fonte: Jornal DCI