Sinais de aumento no consumo de papel sanitário com maior valor agregado podem elevar as vendas da indústria, mas possível entrada da Suzano na etapa final da cadeia pressionará oferta
São Paulo - O mercado de tissue (papel sanitário) deve esquentar no próximo ano, com a demanda por papéis de folha dupla voltando a crescer acima da folha simples. Ao mesmo tempo, empresas do setor apostam na ponta final da cadeia. "Estamos vendo recuperação do mercado e a produção de tissue voltou a apresentar avanço neste ano. Com o papel de folha dupla avançando mais que a simples temos ainda uma alta no consumo de celulose", afirmou o diretor da Anguti Estatística, Pedro Vilas Boas. Em entrevista ao DCI em julho, o especialista em tissue ainda tinha dúvidas sobre a recuperação do segmento este ano.
As vendas no mercado interno se mantiveram estáveis no segundo semestre deste ano, acima do patamar de 90 mil toneladas, de acordo com dados da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá). No entanto, ano analisar o volume de tissue vendido entre janeiro e outubro, último dado disponível, o setor ainda acumula queda de 0,1% em comparação com o mesmo período do ano passado, chegando a 932 mil toneladas. Já a produção de tissue teve incremento de 1,9% de janeiro a outubro sobre um ano antes, para 952 mil toneladas. A expansão da atividade foi ajudada pela alta de 43,8% nas exportações em igual período, chegando a 23 mil toneladas.
Concorrência
A possível entrada da Suzano, fabricante de papel e celulose,na cadeia final de tissue também pode movimentar o mercado no próximo ano. Na última semana, o presidente da companhia, Walter Schalka, disse que em até 90 dias entrada da Suzano na fabricação papéis sanitários deverá ser definida e como será feito esse ingresso no mercado. "É nítido que se formos para a última etapa [da cadeia] vamos criar mais valor, mas temos menos expertise em marca. Por isso, estudamos trabalhar com private label, licenciar marca ou ter marca própria", comentou o executivo, durante evento da companhia com investidores.
Na avaliação de Vilas Boas, a entrada da Suzano na etapa final da cadeia pode preocupar o segmento já que, apesar de mostrar uma tendência de melhora, o nível de consumo atual não é suficiente para absorver uma oferta adicional. "Acredito que o mercado poderá ter algum impacto, mas será preciso esperar para ver se isso se confirma", ponderou ele. Só neste ano, a Suzano comprou duas máquinas de tissue da Voith Paper. Segundo o presidente da Voith Paper América do Sul, Flávio Silva, a companhia deve instalar as máquinas próximas às unidades de produção de celulose no Norte e Nordeste, nas quais o consumo de tissue ainda é menor quando comparado as demais regiões do Brasil. "É esperado que a Suzano tenha uma vantagem competitiva em relação aos fabricantes de tissue pela presença nessas regiões", disse ele, em entrevista recente ao DCI. O investimento da papeleira em equipamentos parece ser um dos poucos, segundo o especialista da Anguti, que não vê um número expressivo de máquinas novas previstas para iniciar operação em 2017.
Rentabilidade
Do lado dos preços, o especialista da Anguti, observou que as fabricantes de papel tissue conseguiram melhorar ligeiramente as margens de lucro neste ano. Apesar da dificuldade em aplicar reajustes para o varejo, essas indústrias foram beneficiadas pela queda no preço da celulose em 2016. Consumidor de aparas brancas, oriundas de papéis de imprimir e escrever, o segmento de tissue usa o insumo reciclado para produzir papéis sanitários de menor valor agregado. O recuo na oferta de aparas brancas nos últimos anos, reflexo da queda no consumo de papéis de impressão, combinada com a retração nos preços da celulose, criou um ambiente mais propício para o uso da fibra virgem. "Estive em contato com vários fabricantes de tissue e o uso das aparas como matéria-prima está se esgotando, então eles estão pouco a pouco migrando para a celulose", ressaltou Flávio Silva. O uso da fibra virgem permite a produção de papéis sanitários de maior valor agregado, outro fator que deve reforçar a aposta no segmento de produtos de folha dupla.
Jéssica Kruckenfellner
Fonte: DCI - São Paulo