Springs encolhe nos EUA e cresce no Brasil

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Com suas vendas concentradas no combalido mercado americano, a Springs Global Participações, controladora da brasileira Coteminas, está reforçando a sua atividade no Brasil ao mesmo tempo em que reduz sua presença nos Estados Unidos. Nos últimos dois anos, a empresa fechou 11 das 16 fábricas que tinha em território americano, superando o plano inicial de redistribuir apenas uma pequena parte da produção. Ontem, a empresa, que fabrica artigos de cama, mesa e banho, anunciou a aquisição de 65% do capital da fabricante e varejista do setor MMartan. Investirá R$ 55 milhões no negócio, com compra de ações e aumento de capital.

 

A MMartan traz para a Springs acesso a um público mais sofisticado, das classes A e B. Hoje, os produtos da Coteminas, com as marcas Artex, Santista e Calfat, são vendidos no Brasil nas grandes redes varejistas, para um público de menor poder aquisitivo, onde as margens da atividade são menores. O mesmo modelo predomina nos EUA, onde artigos de cama, mesa e banho são comercializados em redes como JC Penney e Wal-Mart.

 

"Os produtos da MMartan têm mais valor agregado. Temos muito a aprender com eles nos varejo para as classes A e B", diz Josué Gomes da Silva, controlador e presidente da Springs. "Eles são admiráveis no desenvolvimento de produtos, em inovação e no relacionamento com clientes e queremos aproveitar essa experiência para melhorar nossos produtos."

 

Segundo um executivo familiarizado com a Springs, o segmento de atuação da MMartan tem uma margem entre o dobro e o triplo daquela alcançada hoje pelos produtos da Coteminas.
Agora, com mais capital, a MMartan deve acelerar seu plano de crescimento e a ideia é expandir-se também pela América Latina. "Um mercado que interessa é o argentino", diz Gomes da Silva.

 

Só neste ano já foram abertas cerca de dez lojas, totalizando 85 - boa parte delas franqueadas. O foco para abertura de novas lojas são cidades com mais de um milhão de habitantes. Além das lojas, a MMartan tem uma fábrica em Vinhedo, no interior paulista.

 

A gestão da MMartan, criada em 1985, permanecerá nas mãos da fundadora Marilena Rossini e de suas filhas, Marilise e Mariângela. "Elas continuarão administrando a empresa com a mesma qualidade e nós estaremos presentes no conselho de administração, ajudando no que for possível." De acordo com ele, a MMartan continuará a vender produtos de outros fabricantes, inclusive chineses - sempre com a sua marca. "Nós vamos fornecer para a MMartan se formos competitivos e tivermos qualidade."

 

Gomes da Silva acredita que agregar qualidade e design aos produtos da Springs é um caminho para melhorar os resultados da empresa, que no ano passado registrou prejuízo de R$ 342 milhões, fortemente influenciado pela queda nas vendas do mercado americano, pela desvalorização do câmbio (que impactou a conversão da receita obtida nos EUA para reais) e pelas despesas com a reestruturação. Em termos operacionais, a Springs saiu de um prejuízo de R$ 130 milhões em 2007 para um pequeno lucro de R$ 20 milhões, refletindo a redução de custos.

 

Fundamental no processo de enxugamento de custos foi a transferência da produção dos Estados Unidos para as fábricas do Brasil, do México e da Argentina. Das 16 fábricas que a Springs tinha quando foi comprada pela Coteminas, restam somente cinco, dedicadas apenas à produção de travesseiros, edredons e tapetes. Toda fabricação dos artigos de cama, mesa e banho saiu dos EUA. "O trabalho de reestruturação nos Estados Unidos está encerrado", diz Josué Gomes da Silva. "Mas os esforços de redução de custos não acabam nunca e agora vamos trabalhar para enriquecer a linha de produtos."

 

Sem fornecer números, ele diz que as vendas no mercado americano, que respondem pela maior fatia do faturamento da empresa, estão em forte queda de "dois dígitos altos" nesse início de ano. "Faz parte da nossa política não divulgar as vendas por região." No Brasil, as vendas em cama, mesa e banho cresceram 23% no primeiro trimestre, de acordo com ele. Mas a venda de tecidos e fios não cresceu no mercado doméstico.

 

"Os Estados Unidos continuam respondendo por fatia preponderante das vendas, mas com o encolhimento registrado lá e o crescimento local, o Brasil ganha importância relativa." No ano passado, a receita líquida da empresa caiu 18,9%, para R$ 2,8 bilhões, por conta do fraco desempenho nos EUA (no Brasil houve crescimento das vendas). Hoje, além das fábricas remanescentes nos EUA, a empresa tem 13 unidades no Brasil, uma no México e uma na Argentina.

 

Ao contrário de outras empresas do setor, a Coteminas não anunciou demissões no Brasil. Segundo o sindicato dos trabalhadores da indústria têxtil da Coteminas em Montes Claros, Minas Gerais, sede da empresa, houve a convocação de férias coletivas para 1,2 mil dos 2,8 mil empregados da fábrica entre dezembro e janeiro deste ano, mas todos voltaram ao trabalho.

 


Fabricante faz investimento na Argentina


  

A Coteminas anunciou em março um investimento de US$ 25 milhões para ampliar sua fábrica na província de Santiago del Estero, na Argentina. O anúncio foi feito pela diretora Teresa Lencinas à Ministra da Produção, Débora Giorgi. Segundo comunicado divulgado, o desembolso permitirá à empresa ampliar a capacidade da fábrica e duplicar o número de empregados para cerca de 700. Inclui a instalação de uma nova linha de tinturaria industrial, que estaria pronta para entrar em operação em 2010.

 

Com isso, a empresa conclui um processo de verticalização da fábrica, centralizando todo o processo industrial: da produção de bobinas de toalhas até o acabamento de produtos para o varejo. Hoje, envia as bobinas de toalhas para a matriz brasileira e importa produtos acabados. O novo projeto ganhou a simpatia da Ministra Giorgi por prometer a produção local de itens de maior valor agregado para exportação.

 

A Coteminas chegou à Argentina em 2004 atraída por incentivos fiscais de uma lei de promoção industrial e desde então investiu cerca de US$ 100 milhões na fábrica que fica em La Banda. A produção de fios e tecidos abastece o mercado interno e também é exportada para Chile, Uruguai e EUA e Brasil.

 

Veículo: Valor Econômico


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