A crise financeira internacional pode contribuir para o aumento do transporte de cargas no Brasil nos próximos anos. A avaliação do presidente da Multiterminais, Richard Klien, tem como base a redução de, em média, 60% dos preços do afretamento de navios no mundo. Com a queda das importações e exportações, 10% da atual frota de embarcações está ociosa.
Com isso, o transporte de cargas no mercado doméstico, principalmente a rota Norte-Sul, seria atendido por esses navios. Há seis meses, esse aumento seria improvável em função do alto preço de afretamento de um navio, que já chegou a US$ 2 mil.
Mas para receber essa nova frota de embarcações, mais de R$ 3 bilhões seriam investidos em dragagem e em terminais. Desse total, R$ 1,5 bilhão já está garantido pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal. As obras nos principais portos do País, como Rio de Janeiro, Santos, Rio Grande, Imbituba, Itajaí e Paranaguá serão concluídas no final deste ano, segundo Klien.
Transporte em novas rotas
O presidente da Multiterminais diz que há uma sobra de 3,5 milhões de contêineres e que o Brasil pode movimentar metade desse volume não apenas com o comércio doméstico, também com o aumento gradual dos negócios com outros países ao longo do enfraquecimento da crise financeira.
"Se o Brasil quer se tornar um grande transportador de cargas depois da crise, o governo tem que aproveitar a brecha atual. Com a modernização dos portos e o crescimento do comércio, nos tornaremos competidores nesse mercado", ressaltou.
Prova disso é o atual investimento em embarcações. A Mercosul Line afretou dois navios, cada um de US$ 100 milhões. A Login, mais cinco, num total de US$ 250 milhões. O executivo afirmou que esse número ainda deve aumentar, pois a empresa Aliança já está negociando o afretamento de mais 10 embarcações, além do interesse de investimentos em transporte de cargas por outros grandes estrangeiros, que Klien não quis revelar.
Queda acentuada
Segundo o presidente da Multiterminais, 476 navios já estão parados. A taxa de afretamento caiu na rotas Ásia-Europa em torno de 40% e 80% no trecho Ásia-América. Há casos de redução de mais de 90%, de US$ 2 mil para cerca de US$ 200. Na América Latina, a redução foi de 30%, já que o comércio na região é bem menor do que nas outras frotas.
Klein ressalta que o Brasil tem 8 mil quilômetros de costa e que esse potencial deve ser explorado.
"O Brasil tem a vantagem natural e uma boa demanda interna. Além disso, com o retorno do comércio nos mesmos níveis de antes da crise. O País poderá se destacar nesse setor. As empresas querem investir. Elas estão enxergando essa oportunidade nesse momento conturbado", disse.
Entretanto, será necessário maior integração entre as vias. Muitas vezes, diz Klein, a carga fica presa no porto por falta da ligação com uma ferrovia ou rodovia.
"A logística é um grande gargalo. Na parte portuária, o problema será solucionado nesse momento de crise. Mas os investimentos em outros tipos de transporte também precisam crescer. Não adianta nada se o comércio aumentar e a carga se chegar aqui, ficar presa em um porto", destacou.
Uma outra vantagem é a velocidade do despacho das cargas. Com a modernização dos portos, descarregamentos que levavam uma semana serão feitos em horas.
Veículo: Gazeta Mercantil