A desvalorização do dólar frente ao real nas últimas semanas voltou a preocupar a indústria local, mas empresas já adotam estratégias para elevar a competitividade e garantir novas encomendas. Agilidade na entrega de produtos ainda é desafios para as nacionais
São Paulo - A indústria brasileira de vestuário já está se preparando para uma nova rodada de disputas com os importados. Depois de serem beneficiadas pela alta do dólar em 2016, as fabricantes estão preocupadas com o recuo da moeda estrangeira nas últimas semanas.
"O dólar hoje é um fator preocupante, porque pode facilitar importações e dificultar exportações. No patamar atual não é adequado para a competitividade do País", disse o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel. A cotação do dólar nesta semana variou entre R$ 3,10 e R$ 3.
Em fevereiro do ano passado, a moeda chegou a R$ 4.
A fabricante de roupas infantis e femininas Fakini não assume compromissos com prazo maior que três meses, para minimizar a exposição aos riscos da variação cambial.
"Como o dólar oscila muito, ficamos reféns disso para fazer planos de longo prazo, inclusive exportação", explicou o diretor comercial da empresa, Francis Fachini.
No último ano, o faturamento da Fakini cresceu 8%, ante uma meta de 20% e o volume avançou cerca de 5%. As exportações, embora não respondam por parte significativa das vendas, tiveram alta de 40% em 2016, beneficiadas pelo câmbio favorável.
"As empresas fizeram ajustes na produção, no fluxo de caixa e nos produtos para a exportação e principalmente para atender ao mercado local, que empobreceu, mas com três anos de desaceleração na atividade econômica, ainda teremos um mercado difícil no início desse ano", comentou o dirigente da Abit.
A estratégia da Fakini para ampliar as vendas no ano passado, além da exportação, que é um projeto de longo prazo dos gestores, incluiu o lançamento de uma linha feminina e roupas infantis mais baratas.
"Essa demanda por produtos de menor preço veio dos nossos clientes, que queriam itens mais competitivos. Já a linha feminina nós voltamos a fazer para ajudar a incrementar as vendas", contou Fachini.
Este ano, a fabricante vai manter a mesma estratégia adotada no ano passado e espera ampliar em 25% o faturamento, chegando a 8 milhões de peças produzidas no ano.
"Um investimento grande para este ano é uma máquina de estamparia, que entra em operação em março. Com isso, vamos deixar de terceirizar essa etapa, reduzindo custos e o tempo para entrega de produtos", citou o diretor da Fakini.
A TVZ, marca de roupas com produção e lojas próprias, além de franquias, também está apostando na redução de custos para manter a competitividade do produto nacional.
"Tentamos trabalhar com importados, mas o consumidor sente a diferença e sempre recuamos. Agora o desafio tem sido entregar produtos finais com preço igual ou menor que os concorrentes, mas com custos de produção que continuam subindo", disse um dos sócios da TVZ, Rafael Zolko.
Para Pimentel, da Abit, o principal desafio para as indústrias neste ano é encontrar estímulos que façam o brasileiro voltar a gastar com roupas. "Mas se todo mundo investir só nos básicos, vamos acabar com uma guerra de preços que não é boa para o mercado", observou ele.
Segundo o dirigente, este ano os importados voltarão a crescer no Brasil, com alta estimada de 10%. "Mas isso será sobre uma base fraca, porque em 2016 os importados caíram quase 50%", citou Pimentel.
Roupa íntima
A fabricante de meias Loa sabe que os produtos vindos de fora voltarão a pressionar uma fatia do mercado que a empresa conquistou em 2016. Para evitar o avanço dos concorrentes, a aposta é a diferenciação do portfólio tanto na marca própria e na agilidade da entrega ao varejo nas linhas para magazines - lojas de departamento, de artigos esportivos e calçados - e private label.
"Vamos começar a fechar as encomendas do segundo semestre a partir de abril, mas estamos confiantes em manter nossa participação de mercado conquistada em 2016. E esperamos operar com uma média de 95% da capacidade instalada neste ano", afirmou o diretor da Loa Anísio Rausch Filho.
O tempo de resposta da empresa aos pedidos, lembrou o executivo, está em 40 dias, enquanto os concorrentes chineses levam 100 dias para entregar encomendas. "Elevamos um pouco o estoque para garantir essa redução de tempo."
Rausch Filho espera produzir 780 mil pares de meia neste ano, com 60% da produção destinada a magazines, 25% para a coleção própria e 15% para private label. "Hoje só não amplio mais a produção porque falta capital de giro para financiar a expansão, com os juros ainda muito elevados", acrescentou o executivo.
Jéssica Kruckenfellner
Fonte: DCI - São Paulo