De dentro de uma das salas de reunião da fábrica da Cacau Show em Itapevi (SP), a 35 quilômetros da capital, Alexandre Tadeu Costa olha inquieto para o amplo painel afixado na parede central. O olhar do fundador e presidente da fabricante de chocolates atravessa as divisórias de vidro e o extenso salão, onde estão reunidos parte dos seus 450 funcionários, para conferir a todo instante os dois números em vermelho: a quantidade de lojas em operação - 652 - e o número total de pontos de venda, somados aqueles em fase de inauguração, que chegavam a 672 na tarde de segunda-feira. Ontem, Costa corrigiu a soma. "Até o fim de abril teremos 673 lojas abertas".
É uma quebra de paradigma para a Cacau Show, fundada há 21 anos em uma salinha de 12 m2: a rede está prestes a se tornar a maior franquia de alimentos do Brasil em unidades, ultrapassando o Bob's, dono de 663 lojas, que até 30 de abril planeja ter 668 lanchonetes. Há um ano, a Cacau Show tinha menos de 400 lojas. A meta é encerrar 2009 com 800 pontos de venda e abrir outros 200 em 2010, atingindo 1 mil lojas, todas franqueadas. Hoje, está presente em 22 Estados e no Distrito Federal. A rede já se apresenta como a maior do mundo em chocolates, depois de ter passado à frente da britânica Thornton's, dona de 642 unidades, entre próprias e franquias, da belga Godiva (cerca de 450 boutiques) e da americana Rock Mountain (337 lojas em 2008).
Na receita desse negócio, cujo faturamento foi de R$ 165 milhões em 2008 e deve saltar para R$ 270 milhões este ano (só no primeiro trimestre, o crescimento foi de 20%), Costa misturou alguns ingredientes. "O custo da franquia é acessível, entre R$ 90 mil e R$ 95 mil, com a instalação completa, treinamento e estoque incluídos", diz o empresário de 38 anos. "O nosso produto é bom, barato e tem boa apresentação, o que garante a clientela, mesmo em tempos de crise", afirma Costa, que tem a classe B como alvo. Uma trufa de 30 gramas, por exemplo, custa R$ 1,20. O café expresso sai por R$ 1.
Mas o maior apelo vem do marketing, que está recebendo R$ 10 milhões este ano, o dobro de 2008. Só nesta Páscoa, estão sendo injetados R$ 3 milhões. A campanha no ar engloba inserções na TV Globo e merchandising em programas de apelo popular da emissora, como Caldeirão do Huck, Domingão do Faustão e Mais Você.
"Percebi que depois da campanha 'Festival de Trufas', em setembro, e a entrada de vez na mídia, as vendas aumentaram e a marca se tornou bem mais conhecida", afirma Vera Lúcia Marino Dantônio, dona de quatro lojas da marca em Ribeirão Preto (SP). Ex-professora do ensino médio, ela abriu as lojas em sociedade com duas irmãs e não se arrepende de ter aposentado, há cinco anos, giz e apagador. As lojas faturam juntas cerca de R$ 200 mil por mês e a retirada média mensal de cada sócio é de R$ 12 mil. Rodrigo Vilela, ex-executivo da área de marketing, também não volta atrás na decisão. "Eles são muito exigentes em qualidade e controle, mas o retorno é rápido", diz Vilela, que abriu sete lojas no interior paulista com a família.
Segundo Costa, existem hoje 500 empreendedores buscando pontos para montar uma franquia da Cacau Show. "Temos foco em resultados, portanto, o candidato a franquia precisa apresentar um ponto compatível com nossas exigências (local de alta movimentação de pessoas a pé, com outros comércios na vizinhança), antes do seu perfil ser aprovado", afirma. "Essa é a maior prova que eu não estou interessado no dinheiro dele", diz Costa, que afirma nunca ter enfrentado nenhuma disputa judicial com os seus franqueados.
A capacidade instalada da fábrica deve pular de 15 mil para 18 mil toneladas por ano este ano, com investimentos de R$ 20 milhões. Outros R$ 500 mil estão sendo investidos na estreia de duas categorias: sorvetes, em maio, e achocolatado longa vida, no segundo semestre.
Tudo com recursos próprios, segundo Costa, porque ele detesta fazer dívidas. "Eu passei por muitos altos e baixos da economia e aprendi que é bom ser prevenido". Por isso, vai contabilizar as vendas da Páscoa e separar o investimento na fábrica para saber quanto resta para aquisições. "Estamos compradores", diz. "Quero ser a Starbuck's do Brasil".
No mercado de franquias, Costa é tido como obstinado, mas também muito "cabeça dura". "Ele não aceita que ninguém dê palpite no seu negócio", diz uma fonte do setor, que completa: "Se a Kopenhagen lançou uma marca mais acessível de chocolate (Brasil Cacau), é sinal que está se sentindo incomodada pela rival". Ricardo Camargo, presidente da Associação Brasileira de Franchising (ABF), resume a fórmula do negócio. "Com um rígido controle de custos, ele conseguiu oferecer um produto de qualidade a um preço inferior, atendendo todos os bolsos."
Veículo: Valor Econômico