Enquanto o mercado estimava melhoras na largada do ano, os dados do IBGE apontam que o pior da recessão não passou, e atinge até os setores mais resilientes, como supemercados e farmácias
São Paulo - Considerado o termômetro do setor para avaliar a distância da retomada do varejo, a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), do IBGE, jogou um balde de água fria nas expectativas de uma onda positiva de vendas. Em janeiro, ante a dezembro, houve recuo de 0,7% no faturamento das varejistas; na comparação anual, o tombo foi de 7%.
Enquanto analistas previam um aumento de até 0,6% em janeiro, na comparação mensal, a queda no primeiro mês do ano foi pressionada diretamente pela venda de livros, jornais e revistas (-17%) e combustíveis e lubrificantes (-9%). Sobre um ano antes, o setor despencou 7%, bem pior do que a projeção de recuo de 4,15% esperado pelo mercado. "Os (setores) que caíram refletem uma conjuntura desfavorável para a economia", afirmou a coordenadora da pesquisa no IBGE, Isabella Nunes. "O ambiente interno melhorou um pouco por conta de inflação e juros, mas há pressão forte que vem do mercado de trabalho, com desemprego alto e renda em baixa", comenta.
No início do mês, a Petrobras anunciou aumento nos preços do diesel nas refinarias, reduzindo-os apenas no final de janeiro. "Os combustíveis são reflexo também do menor ritmo da atividade. Com a economia devagar, há menos transportes de cargas, fretes e mercadorias", afirmou Isabella. Na outra ponta, as vendas de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, atividade de maior peso na estrutura do varejo, teve avanço de 0,2% no período.
O IBGE informou ainda que o varejo ampliado - que inclui veículos e material de construção -, registrou queda de 0,2% em janeiro, com recuo de 0,8% nas vendas de material de construção. "A conversão de vendas é ainda um cenário incerto. Apesar da confiança do consumidor e do varejista ter subido no primeiro trimestre, ainda é cedo para falar que o brasileiro voltará a fazer grandes aquisições", comentou o economista da Praxys Consultoria em Negócios, Hélio Cruzes. Na visão dele, o maior problema se dá no âmbito do emprego, já que não há sinais de retomada dos postos perdidos nos últimos dois anos.
Balde de água fria
Nem mesmo os setores que vinham apresentando alguma resiliência frente a crise escaparam da retração em janeiro deste ano, na comparação anual. É o caso das vendas de supermercados, alimentos, bebidas e fumo, cuja retração de 7,0% frente a jan/16 foi a mais intensa desde fevereiro de 2015, quando suas vendas começaram a cair fortemente. Artigos farmacêuticos, médicos e ortopédicos, que entraram em crise muito depois que os demais segmentos, também apresentaram um recuo dos mais fortes em suas vendas reais em janeiro de 2017 (-6,0% frente a jan/16). "Quem esperava algo de novo no quadro do varejo neste início de ano deve ter se frustrado com os dados divulgados hoje", informava a análise do IEDI.
Na visão de Cruzes, da Praxys, o resultado dos supermercados é o mais problemático, já que o setor era tido como um dos primeiros a se recuperar da crise. "O resultado foi surpreendentemente negativo, e coloca todo o varejo em um sinal de alerta sobre a retomada", resume. Para os próximos meses, o economista espera quedas menos acentuadas, ainda que o setor tenha perdido novamente as margens que foram conquistas no último trimestre do ano passado. "Se ainda faltavam oito ou nove meses para a retomada, agora podemos dizer que volta a faltar um ano". Um pouco mais otimista, a Confederação Nacional do Comércio (CNC) estima que o setor conseguirá, ainda em 2017, rever as perdas deste começo de ano, podendo crescer 1,2%, após o tombo de 6,2% visto no ano passado, sobre 2015.
Fonte: DCI