São Paulo - Sem clareza e modernização das regras de rotulagem dos alimentos, as fabricantes têm enfrentado dificuldades para atender todas as exigências na hora de expor seus produtos. Para as indústrias menores, a dificuldade para entender e adequar as embalagens é ainda maior, além de algumas regras imporem limitações na divulgação de dados no rótulo.
"A nossa principal linha de comunicação é a embalagem, porque somos pequenos e não podemos investir muito em outros formatos de divulgação", conta o diretor executivo da WNutritional, Daniel Feferbaum. A empresa é dona da linha de sucos Luminus.
Segundo o executivo, a estratégia de divulgação dos produtos inclui colocar na embalagem o máximo de informações possível sobre a composição (os ingredientes) Ele destaca, porém, que a regulamentação do setor não permite apontar na embalagem os benefícios da bebida. "Só podemos colocar no rótulo os ingredientes e contar que o consumidor final vai saber quais benefícios aquelas substâncias proporcionam", afirma ele.
Avaliação similar é feita pelo gerente de marketing da Superbom, David Oliveira, que considera complicada a adoção de algumas palavras em embalagens de alimentos. "Sempre adquirimos pesquisas de mercado que nos orientam sobre o que o consumidor final busca nas embalagens e como essas informações são decisivas para a venda. Mas aplicar isso ainda é um desafio", diz ele.
O executivo da Superbom lembra que uma das pesquisas apontava a relevância do uso da expressão "rico em" para estimular a demanda. No entanto, Oliveira explica que a regulação permite apenas o uso desse termo para embalagens com maior volume.
"O piso da legislação para que se possa usar o termo 'rico em' é de 100 gramas. Então o problema é quando se quer vender porções em embalagens menores, segmento que têm apresentado melhor desempenho, e não se pode destacar no rótulo que o produto é rico, por exemplo, em fibras", explica o executivo.
Oliveira cita ainda outros dois casos nos quais a Superbom teve que alterar os produtos e as embalagens para se adequar às regras de rotulagem. No primeiro caso, era um suco da linha light. "Como o próprio suco da fruta possui açúcar, tivemos que reduzir em quase 10% o percentual de suco natural usado para não ultrapassar o limite e poder enquadrar como light", cita.
Em outro caso, a fabricante, que é conhecida por desenvolver produtos que atendem a demanda de vegetarianos, desenvolveu um produto similar ao queijo, mas sem leite.
"O produto foi lançado como queijo vegano sem leite, mas tivemos que alterar o rótulo, porque para a legislação, todo alimento que se chama queijo tem que vir da origem do leite", comenta o executivo.
Selo
Para Feferbaum, da WNutritional, uma alternativa para atrair a atenção dos brasileiros foi adotar o uso de selos nas embalagens. "Nos apoiamos muito em certificações, que são fundamentais para mostrar a qualidade e finalidade do produto, como o selo para diabéticos, para a comunidade judaíca e a certificação orgânica", detalha o diretor.
A Superbom também utiliza selos nas embalagens, como o da sociedade que representa os vegetarianos no Brasil. "Já usamos outros selos, mas deixamos de adotar por causa da legislação, que proibiu um deles", diz Oliveira.
Jéssica Kruckenfellner
Fonte: DCI - São Paulo