Importação de confecções anda na contramão e sobe 75%

Leia em 5min 10s

O fim do acordo entre Brasil e China para restrição de exportações, a chegada de expressivas encomendas do varejo feitas ainda no período pré-crise, e a desova de produtos chineses que eram vendidos nos Estados Unidos e na Europa provocaram um forte aumento nas importações de vestuário neste início de ano.

 

No primeiro trimestre em relação a igual período do ano passado, o volume de roupas adquiridas no exterior subiu 56%, de 11,6 mil para 18 mil toneladas. Desse total, 72% vieram da China. Em valores, as importações aumentaram 75%, para US$ 275 milhões, conforme dados do Ministério do Desenvolvimento elaborados pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit).

 

O setor de vestuário está na contramão da economia, pois o impacto da crise reduziu em mais de 20% as importações do Brasil no primeiro trimestre. Entre 25 setores, vestuário e outros equipamentos de transporte foram os únicos a apurar alta no volume importado em janeiro e fevereiro, segundo a Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).

 

Segundo varejistas e fabricantes locais, as encomendas de roupas foram feitas para os fornecedores na Ásia em meados de 2008, antes da eclosão da crise no Brasil em setembro, quando a perspectiva era de demanda aquecida. "Como não tem oferta de coleção de inverno no Brasil, o setor aproveitou e comprou antes da crise", disse Sylvio Mandel, presidente da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abeim), que representa redes como C&A, Riachuelo e Renner.

 

Se o frio decepcionar é grande a chance de os produtos encalharem no varejo ou nas empresas. A catarinense Brandili dobrou a importação de jaquetas de inverno este ano, mas, por conta da crise, está com 40% no estoque. "Tivemos que reajustar o produto em 50% por causa do dólar, que saiu de R$ 1,6 na encomenda para R$ 2,3", disse Germano Costa, diretor comercial. As importações representam 5% do portfólio da empresa.

 

O desempenho das importações de vestuário não acompanha o de insumos para a indústria local, como tecidos e fios. De janeiro a março, em volume, as importações de tecidos caíram 23% e de fios, 45%. Como esses itens possuem maior peso, importações totais do setor têxtil e de confecção recuaram 37% em volume e 15% em valor de janeiro a março. As compras de matérias primas reagem mais rapidamente que o vestuário às alterações de demanda.

 

O fim do acordo de restrição das exportações da China também estimulou o varejo a importar mais. As compras externas dos produtos monitorados subiram expressivamente no primeiro trimestre em relação a janeiro a março de 2008: 236% em camisas de malha, 260% em jaquetas, 286% em suéteres, 805% em veludo, 147% em seda.

 

"As compras foram feitas já prevendo que não seriam barradas pelas cotas", disse Aguinaldo Diniz Filho, presidente da Abit e da tecelagem Cedro e Cachoeira. "Além disso, a crise já estava afetando as exportações da China na Europa e nos Estados Unidos, que passou a focar o esforço de vendas em países como o Brasil."

 

Com o fim do acordo, os varejistas estão solicitando ao governo brasileiro que retire a exigência de licenças de importação para os produtos envolvidos. "Não faz mais sentido essa barreira burocrática, que tem um custo. Vamos reverter isso em preço para mais baixo para o consumidor", disse Mandel, da Abeim.

 

Selado em 2006, o acordo entre Brasil e China limitou por meio de cotas o crescimento das exportações de 70 produtos, agrupados em oito categorias, o equivalente a 60% do total do comércio têxtil entre os dois países na época. O acordo expirou em dezembro e o setor privado brasileiro tentou repetidas vezes renegociá-lo, mas não houve receptividade dos chineses.
"O governo chinês não renovou o acordo com ninguém, nem com europeus, nem com americanos", disse Welber Barral, secretário de Comércio Exterior. A crise provocou queda das exportações chinesas de produtos têxteis, com fechamento de fábricas. Segundo ele o governo brasileiro acompanha de perto o assunto, mas o problema ainda está restrito.

 

Uma missão liderada pelo secretário-executivo do MDIC, Ivan Ramalho, deve desembarcar em Pequim para discutir o comércio têxtil em 23 de abril. Diniz, da Abit, ainda tem esperanças de uma renovação do acordo, mas, segundo o governo brasileiro, os chineses já sinalizaram que só estão dispostos a negociar itens específicos.

 

Sem conseguir reestabelecer o acordo e sob pressão da indústria, o governo aprovou duas sobretaxas antidumping: fibras de viscose, em outubro de 2008, e fios de viscose, em março deste ano. As medidas foram tomadas sem considerar a decisão anunciada, mas nunca aplicada pelo Brasil de reconhecer a China como economia de mercado. Há rumores no setor privado de que o governo brasileiro será pressionado durante a visita de Lula a finalmente colocar a medida em vigor. O principal argumento do Brasil neste caso é que a China também não cumpriu com suas promessas de investimento.

 

Para varejistas e representantes da indústria nacional, a tendência é que as importações de vestuário caiam nos próximos meses, por conta do impacto da crise econômica, que vai reduzir as encomendas, e da valorização do real, que prejudicou a competitividade da China. "No próximo trimestre, a crise e o câmbio vão se refletir na importação", disse Julio Chiang, diretor da fabricante de roupas infantis Green. De origem chinesa, ele disse que importa apenas 5% do que vende no Brasil.

 

Segundo Germano Costa, da Brandili, a ordem na empresa agora é cortar importações, para evitar surpresas por conta da instável evolução da economia e por conta da valorização do real, que encareceu o produto. Ele informa, no entanto, que há relatos de que os chineses estariam fornecendo descontos para compradores brasileiros. No primeiro bimestre, os preços das importações de vestuário recuaram 6%, segundo a Funcex.

 

Veículo: Valor Econômico


Veja também

Corte de IPI da linha branca divide governo

Estudo da Receita sugere isenção por 3 meses, mas há outros planos   Um estudo da Receita Fe...

Veja mais
Dia% lança linha Bio Pure de cosméticos

A rede de farmácias Dia%, bandeira do Grupo Carrefour, lança neste mês de abril a linha de cosm&eacu...

Veja mais
IPI de "linha branca" deve ser zerado por três meses

O governo deve reduzir a zero, nos próximos dias, as alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados ...

Veja mais
Campeiro Alimentos, de Santa Catarina, fecha as portas

A Campeiro Alimentos, localizada em Tubarão (SC), fechou as portas depois de 20 anos de mercado. Com dificuldades...

Veja mais
Empresas ignoram oscilação do frete marítimo e investem

Apesar da oscilação no preço do frete marítimo devido à queda de demanda do com&eacut...

Veja mais
Super Globo: vendas aquecidas

Vilma Alimentos, de Contagem, adquiriu, em janeiro, a Prolimg, detentora da marca de água sanitária Super ...

Veja mais
Silvio Santos envia proposta ao Ponto Frio

As propostas de compra da rede varejista Ponto Frio, que anunciou no final de março a intenção de v...

Veja mais
Carrefour deve ter 1ª queda de vendas desde 03

O Carrefour SA, o maior varejista da Europa, deverá divulgar esta semana a primeira queda trimestral de suas vend...

Veja mais
Nova "Torre de Babel", mundo corporativo exige idiomas

A coordenadora de exportação da Devas, empresa que atua no ramo de exportação de arroz e a&c...

Veja mais