São Paulo - A recente disseminação do vírus da mancha branca, que afetou boa parte da produção de camarão no País, elevou ainda mais o preço da iguaria. Com isso, a queda de braço entre produtores e restaurantes ficou mais acirrada e redes como Coco Bambu e Vivenda do Camarão tiveram de até frear a expansão nacional.
Segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), uma refeição custa em média R$ 17, já o tíquete médio do prato com camarão gira em torno de R$ 60 no Nordeste, e chega a R$ 80 no Sudeste. "A crise existe e está potencialmente presente o tempo todo. Ela tem períodos de expansão maiores. Mas, independentemente da questão da mancha branca, o Brasil vem convivendo há muitos anos com preços de camarão distantes do que poderíamos ter", disse o presidente da Abrasel, Paulo Solmucci Júnior.
Uma das alternativas para conter a crise no abastecimento do setor seria a importação do crustáceo. Se o Brasil produziu 76 mil toneladas de camarão em 2015, viu esse número recuar 26% em 2016, para 56 mil toneladas. "Essa doença dizimou completamente as fazendas do Brasil. Como o País não permite a importação desde 1999, ele ficou para trás", corrobora o CEO da Vivenda do Camarão, Fernando Perri. Esse fator, agregado à recessão, fez com que a empresa demitisse 1,2 mil funcionários e fechasse 23 operações nos últimos 18 meses.
Mesmo antes do vírus, a produção de camarão não era suficiente para atender o mercado interno, que tem demanda 3 a 4 vezes maior, de acordo com a Abrasel. Para amenizar este dado, no início do ano, o Ministério da Agricultura liberou a importação do camarão proveniente do Equador. "O camarão que foi liberado é descascado e sem cabeça, impossibilitando qualquer risco de contaminação", explica o sócio-fundador do Coco Bambu, Afrânio Barreira.
Quebra de braço
A liberação da importação do crustáceo gerou revolta entre os produtores nacionais, que protocolaram um pedido na Justiça Federal de Brasília contra a ação, alegando que o camarão proveniente do Equador tem cerca de 10 doenças, sendo que sete delas nunca foram identificadas no Brasil. "O problema é com os riscos de contaminação das doenças. Isso tem que prevalecer na Justiça. O camarão do Equador tem vários tipos de doenças que ainda não temos. Está sobrando camarão por aqui. Nunca faltou. Algumas redes de restaurantes têm lucros acima de 1500% e o produtor é quem leva a culpa?", dispara o presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Camarão (ABCC), Itamar Rocha.
Em junho, a entidade obteve uma vitória na Justiça, e a importação dos camarões descascados do Equador foi cancelada. Na última semana, no entanto, a Abrasel obteve liminar para liberar novamente a importação, caçando a decisão da ABCC. O imbróglio dessa questão, aparentemente, segue distante de um ponto final.
Sobrevivendo à crise
Por conta da instabilidade na produção do camarão, a rede de comida nordestina Coco Bambu, que tem o camarão como carro-chefe, reduziu a projeção de novas lojas no Brasil - de oito em 2016 para apenas quatro este ano - e traçou um plano de expansão nos Estados Unidos, abrindo o primeiro dos 10 restaurantes que chegarão ao país até 2020. Com intenção de faturar R$ 600 milhões em 2017, a empresa reduziu em 50% o número de pratos com a iguaria.
Visando antever o problema, a Vivenda do Camarão, que tem mais de 160 restaurantes no Brasil, já investiu cerca de R$ 20 milhões no arrendamento de cinco fazendas no nordeste e em tecnologia, para criar o próprio camarão em uma espécie de estufa cujo objetivo é evitar a contaminação por doenças externas. Para este ano, a rede estima que o faturamento chegue a R$ 250 milhões. "O investimento é contínuo. Tivemos que criar um berçário, onde recebemos a larva do laboratório, dentro de um critério rígido de avaliação. Ela fica de 15 a 20 dias no berçário para crescer e depois vai para um tanque moderno, onde eles mantêm uma temperatura acima de 31°. Com isso, não há risco de contaminação", completa Perri.
Fonte: DCI São Paulo