São Paulo - A falta de chuvas regulares e as pragas que afetam a cafeicultura neste ano levaram a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) a reduzir a perspectiva para a produção do grão na safra 2017, para 44,7 milhões de sacas.
A estatal projeta queda de 12,8% para o ciclo atual em relação ao do ano passado, incluindo as variedades arábica e conilon (robusta). No ano passado, o País produziu 51,3 milhões de sacas de 60 quilos das duas variedades. A estimativa anterior, divulgada em maio, era de 45,6 milhões de sacas do grão.
Pesou para o corte na previsão a retração na safra de café arábica, que deve somar 34 milhões de sacas, 21% a menos que no ano passado, quando foram produzidas 43,3 milhões de sacas.
Este ano também é de bienalidade negativa para a cultura - quando a produção é menor que no período anterior - e o arábica é mais suscetível a essa alternância. A produção de café conilon, por outro lado, deve atingir 10,7 milhões de sacas, aumento de 34% sobre o ano anterior. Após a seca em 2016, é esperada uma recuperação.
Em Minas Gerais, principal Estado produtor, a produção deve ser de 24,3 milhões de sacas, recuo de 20,7% ante 2016.
Segundo o presidente da Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), Carlos Alberto Paulino da Costa, a produção recuou 15% neste ciclo, em razão da falta de chuvas regulares na safra e de casos de broca-do-café, praga que se alimenta do grão. "O paladar da safra está bom, mas os grãos estão menores", diz. Ele espera receber o grão, cuja colheita está no final, até o fim de outubro.
Incerteza
Para a próxima safra, o clima é de incerteza. A perspectiva inicial era de uma supersafra, o que chegou a reduzir os preços para R$ 430 a saca. Há um ano, esse valor era de R$ 540 a saca.
No entanto, desde o começo de setembro não chove, em um momento importante para a cultura, quando ocorre a floração do cafeeiro. Isso fez com que a expectativa de uma grande safra fosse substituída pela possibilidade de quebra, sustentando preços. Previsões de que as chuvas devem ocorrer no fim do mês, porém, voltaram a pressionar os preços.
"Cada dia que passa sem chuva é de prejuízo", diz Costa. "Se a chuva prevista até o final de setembro se concretizar, o prejuízo não será tão grande. Porém, se a estiagem avançar a meados de outubro, a situação ficará mais grave", pondera. Segundo ele, há 110 dias não chove no Triângulo Mineiro, importante região produtora.
Nesse cenário, a preocupação é com os baixos estoques de café, afirma o diretor do escritório Carvalhaes, Eduardo Carvalhaes. "Há um equilíbrio delicado entre produção e consumo." O Brasil exporta, em média, 30 milhões de sacas e consome em torno de 20 milhões. "Isso, aliado ao clima, gera uma instabilidade de preços que deve continuar."
Ele projeta que o Brasil deva formar estoques significativos depois de 2020. "O ideal seria que a produção aumentasse, mas os preços e a incerteza política e econômica não contribuem para que o produtor invista na área de café", avalia.
Fonte: DCI São Paulo