Menos de um mês após anunciar a suspensão das importações de leite do Uruguai, o governo brasileiro autorizou a retomada dos desembarques, o que desagradou o setor produtivo do leite. A autorização para a retomada das importações aconteceu após uma equipe do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) avaliar a produção e a condição de exportação de leite uruguaio após as suspeitas da prática de triangulação. O setor produtivo vai continuar buscando soluções para conter a crise do leite. A principal demanda é que sejam estabelecidas cotas de importação, como já é feito com a Argentina.
A missão técnica do Mapa passou cinco dias no Uruguai. A equipe, comandada pelo secretário de Defesa Agropecuária, Luiz Rangel, constatou que não há triangulação na comercialização do leite. A suspeita do setor produtivo brasileiro era de que o leite produzido em outros países passava pelo Uruguai e depois seria destinando ao mercado do Brasil. Diante do levantamento, as importações de leite do Uruguai, que estavam suspensas desde meados de setembro, já foram retomadas.
A decisão do governo federal desagradou o setor produtivo, que vem enfrentando uma forte crise em função da maior oferta, preços abaixo dos custos de produção e consumo menor, devido à crise financeira.
Com a liberação das importações, o receio é que ocorra aumento da oferta de leite e novas quedas nos preços. Por isso, o setor produtivo do leite vai continuar requerendo que as importações de leite do Uruguai sejam, pelo menos, limitadas, como já foi feito com a Argentina, com o estabelecimento de cotas anuais.
O primeiro vice-presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), Evandro do Carmo Guimarães, explica que a pecuária leiteira do Uruguai é extremamente desenvolvida, tem baixo custo de produção e a maior parcela do leite é destinada à exportação, sendo boa parte direcionada ao Brasil, que produz muito mais leite que o Uruguai. Além disso, o preço do leite em pó uruguaio chega ao Brasil mais competitivos, prejudicando a formação de preços local.
“A importação de leite em pó do Uruguai acontece no momento em que há uma oportunidade de regularização da oferta no mercado interno. A produção de leite tem ciclos no Brasil e exatamente no período seco, quando a produção cai, é que as importações acontecem. A manobra é feita para comprimir os preços pagos aos produtores. Não estamos falando apenas na quantidade de leite importado, estamos falando do leite importado sendo usado como arma que fere de morte o preço que será pago ao produtor”, explicou.
Ainda segundo o representante da Abraleite, a política brasileira privilegia as formas de combater o aumento dos preços para os consumidores, porém, esquece da cadeia produtiva.
“A cadeia produtiva precisa ter sustentação ao longo de todo ano. O leite importado afeta os preços pagos aos produtores no momento muito peculiar. O pequeno e o médio produtor são os mais prejudicados, uma vez que eles já têm pouco poder de negociação com as cooperativas e laticínios. Desta forma, o setor produtivo fica desamparado porque no Brasil não tem política pública que garanta um preço mínimo para o leite, como é feito com outros produtos e em outros países produtores de leite”.
Vendas externas - Além de defender o estabelecimento de uma cota para a importação, Guimarães explica que a Abraleite também vai trabalhar para estimular as exportações do leite nacional.
“Se tivermos mecanismos de exportação, a regulação dos preços se fará também pela redução da oferta, que no Brasil é muito alta em determinados períodos dos anos”, disse Guimarães.
Fonte: Diário do Comércio de Minas