Sem chuva, as pastagens gaúchas já não alimentam mais o gado leiteiro do Estado. A seca, que começou há mais de um mês, decretou também o início, prematuro e acentuado, da entressafra da produção de leite em determinadas regiões do Rio Grande do Sul. O período coincide com uma recuperação de 25% nos preços do produto no atacado nos primeiros três meses do ano, valorização que não alcança o produtor brasileiro, já que enfrenta concorrência com o leite argentino despejado no mercado interno desde o início de 2009.
Dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) revela que a balança comercial brasileira de lácteos fechou o primeiro trimestre deste ano com déficit de US$ 10 milhões. Nesse período, o setor já importou US$ 72 milhões, valor que representa 30% de todo o volume importado de lácteos pelo Brasil em 2008 - quando o País obteve superávit de US$ 328 milhões.
A Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Rio Grande do Sul (Emater-RS) explica que a falta de umidade do solo reduz o ciclo vegetativo das pastagens de verão e impede a implantação das pastagens de inver-no, principalmente aveia e azevém. Sem pasto, a produção de leite recua até 30%.
A área mais afetada é a Fronteira Oeste, onde não cai uma gota sequer de chuva há 48 dias. Para amenizar os danos da estiagem, produtores da região utilizam silagem e até mesmo plantas de milho danificadas pela seca para alimentar os animais. Gianfranco Bratta, agrônomo da Emater ressalta que a estiagem afetou as lavouras de soja, milho e feijão. "E se voltar a chover não vai fazer diferença nenhuma paras lavouras de verão", lamenta. De acordo com ele, 22 mil produtores já recorreram ao programa de ajuda do governo federal Proagro na atual safra em função da seca.
No Paraná, o tamanho do estrago provocado pela falta de chuva ainda não foi medido pelo departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Agricultura do Paraná, mas já se sabe que a segunda safra de milho deverá ter quebra de produção em relação a sua estimativa inicial. Segundo o engenheiro agrônomo do Deral, Otmar Hubner, "há regiões do Paraná que estão há mais de 30 dias sem chuva ou com muito pouca precipitação e isso atingiu o milho na sua época mais sensível que é a floração (espigamento)", informou. "O resultado é que muitas plantas vão produzir as espigas estéreis com muito pouco ou mesmo sem grãos", completou.
Em 2009, o Paraná, maior produtor de milho do País, esperava colher uma safra 12,5% maior que a de 2008, atingindo 6,4 milhões de toneladas com o plantio do grão em 1,55 milhão de hectares. No ano passado, o plantio foi em 1,59 milhão de hectares e a produção, prejudicada por geadas, foi de 5,5 milhões de toneladas, com perdas de 1,3 milhão de toneladas em relação à previsão inicial.
A nova estiagem prolongada preocupa os produtores que apostaram na safrinha como forma de recuperar prejuízos causados pela estiagem do final de 2008, que trouxe uma quebra de quase 17% na safra de soja e de 30% na safra de milho de verão. "A região mais prejudicado é o Norte paranaense onde não chove há mais de 30 dias", disse o agrônomo. Na região de Umuarama, por exemplo, se calcula que o potencial produtivo do milho safrinha foi reduzido em 24%.
O plantio da segunda safra do cereal foi concluído no período recomendado pelo zoneamento agronômico e em 50% das lavouras ainda pode haver perdas, segundo o Deral. E os problemas podem se agravar porque a meteorologia indica que o clima seco deve continuar nas próximas semanas. Segundo o instituto Somar, o interior do Paraná só verá chuvas mais significativas e com melhor distribuição na segunda quinzena de maio.
O déficit hídrico também está afetando as regiões de Cornélio Procópio, Francisco Beltrão, União da Vitória e Ponta Grossa, importantes áreas produtoras. Do milho já plantado, 62% encontra-se em desenvolvimento vegetativo e, para a fase de floração, é necessário bastante umidade.
Veículo: Gazeta Mercantil