O homem das vacas gordas

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Como o gaúcho Wilson Zanatta, conhecido como o bilionário do leite, faz prosperar o laticínio Bom Gosto em meio a uma das piores crises no setor

 

EM 1978, AOS 18 ANOS, O criador de vacas holandesas Wilson Zanatta foi proibido pelos médicos de trabalhar exposto ao sol. Assim como o pai, ele era um apaixonado pela roça. Passava boa parte do dia ordenhando seus 15 animais e cuidando do sítio em Tapejara, no Rio Grande do Sul. Quando soube que não poderia mais manter aquela rotina, Zanatta pensou que seria o fim da sua trajetória no campo. Errou. Era apenas o começo. Anos depois, começou a produzir queijo artesanalmente, à sombra, com a mulher e quatro funcionários. "A brincadeira ficou séria, as vacas ajudaram e não paramos mais de crescer", resumiu Zanatta, hoje conhecido como o bilionário do leite.

 

O apelido não é um exagero. Aquele pequeno produtor de leite e queijos fundou, há 15 anos, a Laticínios Bom Gosto, atualmente a quarta maior empresa do ranking do setor lácteo no País - à frente de gigantes como a Parmalat -, com mais de 2,8 mil funcionários e faturamento de R$ 1,3 bilhão em 2008. Neste ano, a receita deve superar R$ 1,6 bilhão, segundo ele, e ultrapassar R$ 2 bilhões em 2010. A história de Zanatta não despertaria nenhuma atenção se o setor em que atua - e prospera - não estivesse enfrentando uma das maiores crises de que se tem notícia. As rivais da Bom Gosto, como os laticínios Nilza e Diplomata, passam por sérios problemas de caixa, patinam em dívidas, pediram recuperação judicial para não fechar as portas e têm demitido funcionários e vendido fábricas. Na contramão, a Bom Gosto avança. A empresa se uniu recentemente à Líder Alimentos, adquiriu por R$ 31 milhões uma fábrica que pertencia à Parmalat em Garanhuns (PE) e se consolidou como a única empresa essencialmente do ramo de laticínios que tem motivos para comemorar.

 

Qual o segredo? "Conheço o pasto, tenho afinidade com os animais e ainda uso bota branca", resumiu Zanatta, ao se referir às tradicionais galochas usadas pelos seus funcionários. "Isso me dá subsídios para tomar decisões mais ousadas que meus concorrentes", completou o empresário. Uma dessas decisões fez toda a diferença. Nos últimos dois anos, as facilidades de crédito inspiraram uma corrida frenética pelo crescimento. Praticamente todo o setor de laticínios - assim como outros segmentos do agronegócio - fez grandes empréstimos em dólar para não perder o timming do mercado. Enquanto isso, a Bom Gosto se capitalizou com R$ 200 milhões do BNDESPar - braço de participações do BNDES. Hoje o banco estatal detém um terço da Bom Gosto. Quando a crise chegou e o dólar saltou de R$ 1,60 para R$ 2,45, o endividamento estrangulou a rentabilidade das empresas. Foi aí que a Bom Gosto, em situação privilegiada, saiu às compras - com a aquisição da planta da Parmalat a um preço considerado baixo pelo mercado - e ampliou participação.

 

Mas as concorrentes da Bom Gosto prometem acirrar a guerra do leite. Neste mês, a gigante Nestlé entrou na disputa do setor de leite longa vida - com a marca Ninho -, assim como tem avançado a Perdigão com a marca Batavo. "O setor de laticínios está passando por um processo de reestruturação e isso fará a concorrência aumentar", explicou o pesquisador de pecuária do Cepea/USP, Sérgio De Zen. "Nesse caminho, algumas empresas estão minguando, outras têm sido bem-sucedidas com aquisições e entrada em novos mercados", disse De Zen.

 

De fato, a Bom Gosto parece estar com sede de novos mercados. Ao comprar a unidade da Parmalat, a empresa mergulhou no mercado nordestino. Além disso, vai inaugurar em breve uma fábrica no Uruguai, na primeira incursão da companhia no mercado internacional. "Minha rotina está agitada", disse Zanatta.

 

Apesar da agitação, Zanatta não abandona velhos hábitos. Sempre que está em Tapejara visita antes das 7h, enquanto o sol está fraco, suas 120 vacas. São netas e filhas daquelas vacas que fizeram nascer uma das maiores empresas de laticínios do País e um exemplo de boa gestão. "Cuido delas assim como elas cuidariam de mim. Não perco as origens."
 
 

Veículo: Revista Isto É Dinheiro


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