Ao passo que a economia brasileira se recupera lentamente, produtores e comerciantes de chocolate e produtos para a Páscoa aguardam ansiosamente pela data. A expectativa não é por um boom de vendas, mas a tendência é de que o “coelhinho” tenha um pouco mais de trabalho do que teve em 2017.
Dados da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab) revelam que no ano passado a produção de chocolate para a Páscoa teve um volume 38% menor que em 2016. Ao todo, foram produzidas, em 2017, 9 mil toneladas de chocolate e 36 milhões de ovos. A queda na produção nas duas últimas Páscoas (últimos três anos) já acumula 50%. Apesar disso, a Abicab está otimista. Para a Páscoa de 2018, as principais indústrias de chocolate do País lançarão, juntas, 120 itens, mesmo número que em 2017. Até o momento, a Páscoa já gerou 23 mil vagas de trabalho temporário nas indústrias brasileiras. O número representa uma queda de 5,9% em relação a 2017.
Tradição - Produtores tradicionais como a Lalka Bombons, sediada no bairro Floresta (região Leste) desde 1925, trabalham com um aumento de produção de 10%. De acordo com o proprietário da Lalka, Roberto Grochawski, a principal estratégia é se valer da capacidade produtiva da empresa e experiência da equipe. Para garantir a presença dos clientes o jeito foi segurar os custos e não repassar o aumento dos preços dos insumos.
“Sempre acredito em algum aumento de vendas. Se alcançarmos a marca de 10% será excelente. Trabalhamos com essa margem para não sermos pegos desprevenidos. Vamos ajustando a produção de acordo com a demanda. Temos a capacidade de produzir bem em cima da hora, inclusive atendendo pedidos específicos”, explica Grochawski.
A empresa oferece ovos que vão de 5 gramas a 30 quilos. Os maiores, claro, são feitos apenas sob encomenda e exigem um esforço de produção especial. Os mais vendidos, porém, devem pesar entre 150 gramas e 300 gramas, diferentemente dos últimos anos em que os preferidos foram os menores. As inovações também costumam ser bem recebidas pelo público. Este ano, a novidade é o ovo com três tipos de crocantes (flocos de arroz, amendoim e castanha) e o ovo bala de maçã, que ainda não chegou às lojas. Já há algum tempo nas prateleiras, mas que vem com a procura em alta, são os ovos com alto teor de cacau.
“Estamos sempre buscando o equilíbrio para atender os consumidores entre o que eles desejam e o que podem pagar. Por isso é tão importante estar à frente do negócio e ouvir o que os clientes dizem. Hoje, os chocolates mais fortes estão crescendo na preferência do consumidor que busca por saudabilidade - através de produtos com menos açúcar e gorduras - e também para os que fazem dietas restritivas - que não podem com lactose, por exemplo -, e os veganos, que são um público crescente”, afirma o proprietário da Lalka.
Roteiro doce - O eterno charme de Ouro Preto, na região Central do Estado, faz com que a cidade fique lotada durante o feriado da Semana Santa. Isso garante a Chocolates Ouro Preto, marca produzida no município e distribuída em pousadas e supermercados da região, além das duas lojas próprias, uma oportunidade ímpar de vendas e, principalmente, ser conhecida por turistas do mundo todo. De acordo com a proprietária da Chocolates Ouro Preto, Luciana Rocha, as vendas neste ano devem empatar com as do ano passado.
“Estamos fazendo praticamente a mesma quantidade de ovos. O principal lançamento será um ovo trufado com leite ninho. Acreditamos na vontade das pessoas de presentearem e que vão comprar na última hora e, principalmente nos turistas. Sabemos que as pousadas e hotéis já estão com boas reservas, o crescimento do turismo interno no Brasil foi muito bom para nós”, avalia Luciana Rocha.
O sonho de ter uma unidade própria na Capital ainda não se concretizou, mas já está confirmada a presença em uma cafeteria parceira na região Centro-Sul de Belo Horizonte. A empresária reforçou o quadro de funcionários tanto na fábrica como nas lojas para o período. Os chocolates amargos também têm subido na preferência dos consumidores.
“Tem acontecido com o chocolate como com o vinho e o café. As pessoas começam pelos mais docinhos e vão refinando o paladar com o tempo. Tem também a questão da saúde. Os chocolates ao leite estão ficando mais para as crianças”, analisa a proprietária da Chocolates Ouro Preto.
Os fabricantes de chocolate artesanal também têm esperança em uma Páscoa mais doce no aspecto financeiro. No comando da Dani Formigueiro, a chef Danielle Neves projeta um crescimento nas vendas de 30%. Para atender a turma da “última hora”, ela deixa a produção antecipada e mira nos tamanhos médios, em torno dos 350 gramas.
Oportunidade - Ela ainda divide os conhecimentos que tem em chocolateria com quem quer entrar no segmento e ministra cursos e workshops. Apesar da proximidade da data, a procura pelos cursos continua intensa. “Apesar do aumento no preço da matéria-prima - que chegou até a 15% -, a margem para trabalhar com chocolate não é tão ruim. Este ano devo trabalhar cerca de 500 quilos e não vou fazer mais por falta de capacidade de produção. Ao longo do ano, trabalho sozinha e agora contratei dois ajudantes. A novidade de 2018 são os ovos de corte, para comer como um bolo. Também não consigo atender toda a demanda por cursos. Quem participou em janeiro já está trabalhando e ganhando dinheiro”, comemora Danielle Neves.
Fonte: Diário do Comércio de Minas