Apesar do mercado de alimentos orgânicos ainda ser um nicho no Brasil, a oferta tem crescido de forma significativa no País. Desde pequenos fabricantes até gigantes da indústria global estão apostando na tendência.
O fundador e diretor da Puravida, Flávio Passos, conta que o custo de produção é o grande desafio para a expansão dos alimentos orgânicos no País. “Eu diria que este ainda é um mercado de nicho principalmente pelo custo Brasil, o que torna estes produtos pouco acessíveis.”
Segundo Passos, o portfólio da empresa deve ultrapassar 100 itens neste ano, que vão desde alimentos até complementos, os quais cerca de 30% estão relacionados ao segmento de orgânicos. “Alguns dos nossos produtos são certificados apenas no exterior, pois ainda estamos trabalhando no processo de ‘nacionalização’ do selo de orgânicos”, explica.
O presidente da WNutritional, Daniel Feferbaum, relata que outro grande problema do segmento é a garantia de fornecimento contínuo de matéria-prima certificada – com controle de qualidade. “Em outros países, grandes redes varejistas já trabalham com orgânicos, o que estimula os produtores a investirem no negócio. No Brasil é mais difícil”, esclarece.
A empresa possui uma linha de chás orgânicos prontos para beber, que representam, hoje, cerca de 15% do faturamento da WNutritional. A previsão, segundo Feferbaum, é lançar novos sabores do produto e bebidas à base de frutas.
No entanto, ele ressalta a rigidez da normativa que rege o segmento no País. “A exigência reside não só no fato de que 95% das matérias-primas precisam ser orgânicas, mas no controle dos processos produtivos. Não pode haver contaminação cruzada”, destaca.
Além disso, Feferbaum alerta para o custo de logística na cadeia de orgânicos. “O grande desafio é formar o canal de distribuição. O mercado convencional de alimentos trabalha com volumes, mas este não é o nosso caso. Precisamos de empresas de transporte especializadas no nosso negócio e isso também encarece o produto”, explica.
Produção em massa
Segundo a consultoria Euromonitor, o segmento de orgânicos faturou US$ 87 milhões em 2017 (incluindo alimentos frescos). E o crescimento deste mercado no Brasil e no mundo já chamou a atenção até de gigantes da indústria alimentícia. A francesa Nestlé, além de iniciativas pontuais no segmento, anunciou recentemente a chegada do seu primeiro produto orgânico ao País, a aveia em flocos e farelo.
“O objetivo da Nestlé com essa aposta é contribuir para o desenvolvimento da cadeia de orgânicos como um todo no País. Ressaltamos o fato desse segmento ser ainda pouco desenvolvido no Brasil, de forma que, ao começar a desenvolver uma cadeia, naturalmente precisamos agir em outras e isso toma tempo”, afirmou a companhia ao DCI.
A Nestlé destaca que muito mais do que uma expectativa de vendas ou de market share, o objetivo da iniciativa é atender um desejo do consumidor. “No Brasil, este mercado está se consolidando e acreditamos em seu alto potencial de expansão. Pelo fato de sermos a maior empresa de alimentos e bebidas do mundo, sabemos que nossa entrada no segmento de orgânicos tende a democratizar o produto, ao tornar os preços mais acessíveis.”
A gigante informa ainda que, além de preparar novidades pelos próximos dois anos no segmento, a empresa passará a incluir ingredientes orgânicos como matéria-prima de outros produtos.
Passos, da Puravida, avalia que os investimentos não só da empresa quanto de outros players no segmento sinalizam o potencial do negócio no Brasil. “O mercado de orgânicos tem um grande futuro. Porém, a multiplicação da qualidade para a grande população depende intimamente do interesse de nossa cultura em investir no desenvolvimento de tecnologias”, destaca.
No primeiro trimestre, a Puravida registrou crescimento de 50% na comparação anual e a projeção é encerrar o ano com faturamento de aproximadamente R$ 30 milhões. “Faz todo sentido se alimentar com qualidade e pureza. Qualquer cultura desenvolvida reconhece isso”, avalia.
Já a WNutritional pretende, neste ano, quadruplicar as vendas da linha de orgânicos em relação a 2017. “O processo produtivo de orgânicos é mais caro porque custa mais se adequar à normativa. Mas se houver estímulos ao produtor e uma educação no varejo para não separar este tipo de produto dos demais, certamente o mercado vai crescer”, opina.
Fonte: DCI