Iniciei na vida profissional fornecendo insumos de nutrição animal para as empresas Sadia e Perdigão. Ambas tinham valores parecidos: catarinenses, oriundos de colonos italianos, arrojados e com paixão pelo que faziam. Exemplo de empreendedorismo que marcou a história do agronegócio brasileiro.
Eu tinha orgulho de vender para as duas e me considerava parte delas, assim como seus funcionários, que eram muito integrados. A saudável competição entre elas estimulava o aprimoramento de ambas, ainda que disputassem o mesmo mercado consumidor. Com relação a aspectos sanitários, alimentares e de manejo dos animais não se poupavam esforços para manter a qualidade.
Com o tempo, as empresas foram outorgando poder à diretoria financeira, pela condição brasileira de alto custo do dinheiro e sua forte influência nos resultados. Então, a tentação de especular com os derivativos afetou fortemente a saúde financeira da Sadia, levando à fusão com a Perdigão e à formação da BRF.
Com a BRF chegou uma nova gestão, com cultura dominada pelo marketing e finanças, incluindo redução de custos, equipes movidas por alta bonificação atrelada a resultados e busca por alta lucratividade. Apesar de eficaz, acredito que o modelo seja passível de falhas quando falamos de uma cadeia de produção complexa, como a de aves e suínos integrados, com muitos parceiros, riscos sanitários e inúmeras variáveis. Doenças e má performance dos animais podem fazer um corte de despesas virar uma grande dor de cabeça.
A nova realidade resultou em alta rotatividade de funcionários e perdas de conhecimento, habilidades e confiança, agravada por operações da Polícia Federal, com perdas para o Brasil. Tudo isso, somado a grandes mudanças no setor de produção animal brasileiro, que visam melhorar a sustentabilidade ambiental, estimular o uso racional de antibióticos na produção animal e investir em biossegurança. Desta forma, faço um apelo ao setor do Brasil: resgatemos os valores do maior exportador de carne de aves e o 4º maior de carne de suínos, entre mais de uma centena de países. É fundamental resgatarmos a confiança na avicultura e suinocultura brasileira, o aprimoramento constante de produção com melhor sanidade e a paixão na produção de animais.
Fonte: DCI São Paulo