Os preços dos transportes tiveram a maior queda (-0,35%) na prévia da inflação de maio, influenciando o resultado abaixo do esperado do indicador. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) teve alta de 0,14% neste mês.
A variação foi menor do que em abril (+0,21%) e a menor taxa para um mês de maio desde o ano 2000, quando o índice registrou 0,09%, divulgou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ontem. O mercado esperava uma variação de 0,26%.
O pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), André Braz, avalia que a alta dos combustíveis estão chegando gradualmente sobre o IPCA. Nas projeções dele, a gasolina deve apresentar um aumento entre 1% e 1,20% em maio contra abril. No mês passado, o combustível subiu 0,26%.
“Os impactos já estão chegando. Progressivamente, já percebemos uma escalada nos preços dos combustíveis. A gasolina, no fechamento do IPCA de maio, já deve mostrar uma taxa mais próxima de 1%, até 1,20%. E, para junho, ainda há espaço para acomodar alguns pontos percentuais de ajuste”, considera Braz. “Gradualmente, a gasolina vai influenciando o resultado geral do IPCA”, reforça o pesquisador do Ibre.
A deflação dos preços do etanol (-5,17%) e das passagens aéreas (-14,94%) contribuíram para o resultado negativo dos Transportes, mais que compensando o avanço do preço do diesel (+3,95%) e da gasolina (+0,81), que estão sendo fortemente impactados pelo aumento do valor do petróleo no mercado internacional.
“Mais grave que a gasolina, porém mais difícil de monitorar é o efeito do aumento do diesel. Esse combustível é o que movimenta o escoamento das mercadorias via transporte rodoviário, o qual leva, por exemplo, os produtos agrícolas do campo para os portos, do campo para a cidade. Nós não somos intensivos em outros meios de transportes, como o fluvial e ferroviário”, diz Braz.
Segundo ele, portanto, o diesel tem um impacto indireto sobre o IPCA. Ao encarecer o preço do frete, pressiona os preços de diversas mercadorias que são transportadas, como os nossos alimentos, produtos de higiene. “Ou seja, todos os produtos que consumimos no supermercado” exemplifica Braz. Ele enfatiza que o efeito direto do diesel no IPCA é muito pequeno, dado o seu peso pouco relevante, em torno de 0,15 ponto.
Ônibus urbano
Braz ressalta que uma das principais preocupações com relação à elevação do valor do diesel está nas tarifas dos ônibus urbanos. “Ainda que a passagem não suba mês a mês, tendo em vista a política de reajuste anual, quanto mais a gente concentrar as pressões de custos em cima do diesel, maiores tende ser os movimentos dos preços das passagens daqui a pouco”, afirma. “Isso acaba afetando diretamente a população de baixa renda, que usa mais o transporte público”, acrescenta. Em relação à greve dos caminhoneiros, Braz avalia que o seu efeito inflacionário dependerá da duração da greve. “Por enquanto, não acredito em impacto significativo”, afirma.
Para tentar arrefecer o preço do diesel, o governo federal prometeu zerar a Contribuição sobre Intervenção de Domínio Econômico (Cide). Além disso, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, disse que há possibilidade de reduzir temporariamente o PIS e a Cofins sobre o diesel.
Inflação de maio
Apesar da perspectiva de elevação dos preços dos combustíveis, André Braz reforça que a prévia da inflação de maio veio abaixo da esperada. Por conta disso, ele espera que o IPCA de maio tenha uma alta mensal próxima a 0,20% e não mais de 0,30%, como projetava antes. O pesquisador destaca diversos itens importantes do IPCA-15 que ficaram deflacionários, como condomínios (-0,14%), refeição fora do domicílio (-0,46%), aluguel (-0,08), passagem aéreas (-14,94%), mostrou o IBGE.
Outros dados mostraram que no grupo Habitação (0,45%), o destaque foi o item energia elétrica (2,18%), representando o maior impacto individual no índice de maio. Além da vigência, a partir de 1º de maio, da bandeira tarifária amarela, adicionando a cobrança de R$ 0,01 a cada quilowatt consumido, as seguintes áreas sofreram reajuste nas tarifas: Salvador (15,47%) – reajuste de 16,95% a partir de 22 de abril; Porto Alegre (5,95%) – reajuste de 9,85% a partir de 19 de abril; Recife (5,59%) – reajuste de 8,47% a partir de 29 de abril; e Fortaleza (5,80%) – de 3,80% a partir de 22 de abril.
Fonte: DCI São Paulo