No quarto dia de paralisação dos caminhoneiros, que ocorreu em 533 pontos do país, o transporte público funcionou com frota reduzida nas principais capitais e aeroportos operaram com restrições. A greve também afetou serviços públicos como policiamento e coleta de lixo e reduziu o abastecimento de alimentos e outros bens. Nos postos de gasolina do país, extensas filas se formaram.
Em São Paulo, a SPTrans havia informado ontem que 50% da frota circularia nesta sexta-feira. O rodízio de veículos foi suspenso. Nos supermercados, a greve prejudicou o abastecimento em 14 Estados, de acordo com a Abras. Segundo o Carrefour, a demanda aumentou com consumidores procurando estocar produtos.
A greve pode elevar a inflação. A LCA Consultores aumentou ligeiramente sua estimativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de maio, em 0,02 ponto, para 0,22%. A revisão levou em conta apenas a parte de alimentação e bebidas, afirma o economista Fabio Romão, para quem a paralisação impede que os alimentos registrem nova deflação no período. No IPCA-15 de maio, o grupo teve queda de 0,05%. "Tudo indicava que poderíamos ter inflação de alimentos perto de zero no IPCA de maio. Agora, espero alta de 0,15%", disse. Ele considera que a greve não é motivo para mudar projeções para o IPCA do ano, mas terá impacto no curto prazo. A estimativa da LCA para a alta do indicador oficial de inflação em 2018 está mantida em 3,6%.
Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a paralisação afetou a produção e distribuição de bens, mas não forneceu uma estimativa sobre redução nas operações do setor. Já a FecomercioSP estimou em R$ 570 milhões por dia as perdas com vendas na cidade de São Paulo, caso a situação se agrave. No Estado, o prejuízo diário pode atingir R$ 1,8 bilhão e no país, R$ 5,4 bilhões.
No sistema de transporte, 97% da frota operou na manhã de ontem na cidade de São Paulo, mas no horário de menor movimento, as empresas foram autorizadas a reduzir o número de ônibus em até 40%, segundo a SPTrans. Metrô e trens funcionaram com 100% da capacidade durante todo o dia para ajudar no deslocamento de passageiros. O rodízio de veículos foi suspenso.
No Rio de Janeiro, 30% dos ônibus coletivos do Estado pararam por falta de combustível, segundo a Fetranspor. Desde segunda-feira, os caminhões-tanque que abastecem as garagens das empresas interromperam o serviço. O sistema BRT, de ônibus por vias rápidas, funcionou com 50% da capacidade. O desabastecimento também provocou o cancelamento de parte das viagens no sistema de barcas entre o Rio e municípios vizinhos, segundo a concessionária CCR Barcas.
Outros serviços públicos foram afetados. A Polícia Militar do Estado de São Paulo, que tem uma frota de 18,5 mil veículos, decidiu reduzir o patrulhamento nas ruas. As viaturas ficariam estacionadas mais tempo em seus pontos. Sem combustível para os caminhões de lixo, a Prefeitura de São Paulo suspendeu a coleta de resíduos domiciliares hoje. Guarulhos e Jundiaí interromperam a coleta de lixo ainda ontem.
Enquanto isso, consumidores procuravam se abastecer nos postos de gasolina, muitas vezes sem sucesso. No Estado do Rio de Janeiro, 90% dos postos ficaram sem combustível, segundo o Sindestado-RJ. Em São Paulo, o presidente do Sincopetro, José Alberto Gouveia, pediu calma. "Pedimos que a população não entre em desespero". Ele afirmou que, sem reposição nos postos, a partir de sábado o Estado teria um problema "seríssimo' de desabastecimento.
Nos aeroportos, os terminais de Brasília, Goiânia, Ilhéus, Recife e Teresina operaram com restrições, segundo a Latam, que flexibilizou regras para remarcação de passagens. Maior aeroporto do país, Cumbica (Guarulhos) não teve problemas. A concessionária GRU-Airport informou que o terminal tem combustível suficiente para abastecer as aeronaves. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) admitiu que há escassez de combustível nos aeroportos provocada pela greve dos caminhoneiros, mas disse que todos os voos que estavam em operação foram abastecidos dentro do cronograma. As escassez de querosene de aviação também afetou helicópteros que atendem as plataformas da Petrobras. Há risco de falta de alimentos nas plataformas.
Os aeroportos Tom Jobim (Galeão) e Santos Dumont, no Rio, e de Guarulhos e Congonhas, em São Paulo, são abastecidos por dutos e não têm problema de abastecimento, ao contrário do que ocorrer nos aeroportos onde o combustível chega por caminhão, como Brasília. (Colaboraram Adriana Mattos, João José Oliveira, Rafael Rosas, Cláudia Schüffner, AlexandrMelo, Fernando Exman, Alessandra Saraiva, Estevão Taiar, com agências de notícias)
Fonte: Valor Econômico