A comercialização de café arábica no Brasil diminuiu consideravelmente, com os estoques atingindo níveis mínimos no pico da entressafra e os comerciantes ainda lidando com os entraves no transporte após os protestos de caminhoneiros em todo o País.
O ritmo reduzido da comercialização diminuiu a já escassa oferta de arábica em outros mercados, também efeito de uma temporada passada que foi 20% menor que a anterior. Enquanto uma safra recorde é esperada para este ano, há lentidão na chegada de café ao mercado em meio a atrasos na colheita. A greve dos caminhoneiros aprofundou as preocupações sobre a disponibilidade de café brasileiro no mercado global, uma vez que reduziu as exportações do grão em maio em cerca de 900 mil sacas. “No momento, há apenas negócios limitados”, disse um operador do mercado de café na Europa. “Não estamos vendo os volumes normais negociados.”
O fluxo reduzido no Brasil não evitou a venda persistente de investidores nos futuros do café em Nova York, possivelmente devido ao esperado superávit de oferta projetado para 2018/2019. Mas os produtores no Brasil ainda podem fazer lucro devido à forte desvalorização do real frente ao dólar. “Se isso continuar, aumentará os preços [em termos locais] até o ponto em que o agricultor será incentivado a vender mais”, disse o sócio-gerente da Tropical Research Services, Steve Wateridge.
O recente enfraquecimento do real já melhorou a receita nas vendas feitas pelos produtores em cerca de 10%, segundo a cooperativa de café Coocapec, na região cafeeira da Mogiana, em São Paulo.
Existem vozes discordantes no mercado em relação ao nível de estoques no Brasil e ideias de que alguns produtores estariam segurando as vendas mesmo em um momento de fim de safra e às vésperas da entrada de uma grande produção. “No Brasil, onde boa parte da produção de café acontece em grandes propriedades, os produtores muitas vezes têm acesso a instalações de armazenamento e não precisam vender imediatamente no mercado”, disse o diretor-gerente da Riccoffee, Ricardo Santos. “As grandes propriedades não estão sob pressão alguma, têm acesso a alternativas de financiamento”, disse.
“O Brasil é a única origem em que os grandes agricultores têm uma força financeira muito forte e a infraestrutura está lá para manter o café”, disse o analista sênior de commodities do Rabobank, Carlos Mera. Mas o superintendente comercial da Cooxupé (maior cooperativa de café do mundo), Lúcio Dias, discorda. “Basicamente não há café sobrando [da safra antiga]. Os agricultores venderam tudo o que tinham”, disse ele.
Fonte: Reuters