A tempestade perfeita que atinge a BRF deve persistir nos próximos meses, apesar da nomeação de Pedro Parente como presidente-executivo. Segundo analistas, a empresa deve acumular mais um trimestre negativo, impactada pela greve dos caminhoneiros e a alta do dólar.
“O Parente tem um peso muito grande e é bem visto pelo mercado. Mas o processo não é imediato. A empresa tem uma dívida grande em dólar e deve sentir o impacto do câmbio, além dos prejuízos com a greve dos caminhoneiros. Tudo isso ainda vai contaminar os resultados do 2º trimestre”, aponta o analista da Mirae Corretora, Pedro Galdi.
Após pedir demissão da presidência da Petrobras, Parente foi indicado para o posto de CEO global da BRF. Ele assumiu o cargo no último dia 18, acumulando pelos próximos seis meses a função de presidente do conselho de administração da companhia. Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Pedro Paulo Silveira, o primeiro desafio será estabilizar a governança da empresa. “É preciso saber se, de fato, ele conseguiu apaziguar os conflitos dentro do conselho de administração, para que a empresa tenha condições de estabelecer uma política de longo prazo.”
Silveira aponta que, superada essa questão, a BRF ainda terá pela frente graves obstáculos, como a desvalorização cambial, embargos comerciais e nível de atividade econômica ruim no Brasil. “É difícil antecipar, mas depende do início da nova gestão se a companhia vai ganhar valor de mercado.”
Para o analista da Upside Investor, Shin Lai, ainda vai levar um bom tempo para se reverter a sequência de resultados ruins, devido as atuais condições econômicas. “A entrada do Parente é positiva, mas não significa resultados imediatos. Depende de condições de mercado, que não está positivo nem externamente, por conta de embargos, e nem internamente, pelo alto desemprego.”
Na última quarta-feira (20), a BRF anunciou férias coletivas para 5,6 mil empregados de quatro fábricas, num esforço para ajustar a produção aos efeitos da greve dos caminhoneiros. Anteriormente, a companhia havia comunicado que encerraria o abate de perus na unidade de Mineiros (GO) a partir da 2ª quinzena de julho.
Segundo comunicado, “aproximadamente 50% dos colaboradores dedicados à linha de perus devem ser realocados em outros processos produtivos na mesma unidade ou em plantas próximas.” Para o sócio da Mesa Corporate Governance, Luiz Marcatti, inevitavelmente o processo de recuperação será dramático. “É preciso que aconteça uma profunda reestruturação da empresa e será uma jornada dolorida. Vai haver cortes e outras decisões difíceis.”
Acúmulo de cargos
Na visão dos analistas, não é ideal que Parente acumule os postos de presidente-executivo e presidente do conselho de administração, por possíveis conflitos de interesse. “As boas práticas de governança sugerem que não seja o mesmo nome para as duas funções, pois ele acaba supervisionando a si mesmo”, explica Shin Lai.
Para Marcatti, o desgaste das duas funções também é preocupante. “O Parente vai ter esses dois desafios simultâneos: reconstruir o ambiente societário e recuperar as perdas financeiras acumuladas nos últimos dois anos.”
Já Galdi acredita que esta situação só ocorre pelo peso do executivo. “Foi o nome de consenso para resolver a briga entre sócios e trazer seriedade para a companhia.”
Fonte: DCI