Apesar do cenário de incerteza gerado pelo tabelamento de fretes e pela guerra comercial entre China e Estados Unidos, a área cultivada com soja no Brasil deve crescer entre 3% e 4% na safra 2018/2019 ante o ciclo anterior, quando somou 32 milhões de hectares. A perspectiva de uma receita positiva, ainda que menor que a de anos anteriores, deve dar amparo à aposta do produtor na oleaginosa.
“Se não fossem esses dois fatores, o aumento seria ainda maior”, afirmou nesta segunda-feira (23) o analista de grãos da Datagro, Flávio Roberto de França Junior, durante o Global Agribusiness Fórum (GAF 2018), que reuniu lideranças do setor na capital paulista.
Ele explica que uma parte da renda do produtor neste ano vai ser engolida por um custo maior devido ao aumento do valor do frete e também do dólar, que amplia os custos dos insumos como fertilizantes e defensivos.
França Junior salienta, porém, que o aumento do valor dos prêmios pagos pela soja nos portos amorteceu o prejuízo com a queda em Chicago e que os preços ainda estão superiores aos pagos um ano atrás. Para ele, a cotação do dólar está favorável. “Desde que começou o embate entre China e EUA, os preços da soja brasileira no mercado externo caíram entre 20% e 25%, embora a queda da cotação em Chicago tenha sido superior a isso.”
Rentabilidade Tecnologia
A projeção de renda positiva ocorre num momento em que as cotações da oleaginosa vêm caindo em Chicago com a guerra comercial entre China e Estados Unidos, o que deve fazer com que os americanos deixem de vender a produção ao país asiático, pressionando os preços da soja no mercado internacional. “Para o Brasil, essa guerra não serve para nada. Tínhamos US$ 11 por buschel e, agora, US$ 8,45. Não há preço que a China pague pela soja brasileira que cubra essa queda”, avaliou o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, durante o evento.
Para ele, o Brasil poderia aproveitar e ampliar os volumes embarcados, mas não consegue devido ao tabelamento do frete. Criada para atender às reivindicações dos caminhoneiros e encerrar a greve da categoria, a tabela de preços tornou mais caro o chamado frete de retorno, que é o transporte de insumos desde o porto até a propriedade após a entrega da produção para embarques. “Enquanto produtor, não aceito os valores colocados na tabela. Eles destoam do mercado e fazem com que as empresas exportadoras deixem de operar no mercado futuro para não assumir os riscos [da incerteza em relação aos preços]”, afirma Maggi.
Na avaliação do presidente da Associação dos Produtores de Milho (Abramilho), Glauber Silveira, o tabelamento também tem tido impacto significativo na venda antecipada da próxima safra de soja.
“Agora começou a ocorrer venda futura de forma bastante tímida depois de um longo tempo de interrupção diante da incerteza das tradings sobre como será o valor do frete lá na frente.” Segundo ele, isso tem feito com que o produtor receba entre R$ 3 e R$ 5 a menos por saca do que deveria, pois as tradings estão aumentando a margem para evitar ainda mais prejuízos.
Maggi ainda destacou a preocupação com a redução da tecnologia aplicada no campo. “Há um atraso muito forte de envio de fertilizantes em razão dessa incerteza em relação ao preço dos fretes, o que poderá levar a uma queda na produtividade das lavouras”, disse. Segundo ele, ainda é cedo para determinar como essa dificuldade vai afetar a produção. “Isso vai depender do risco que o produtor decidir assumir.”
Para Silveira, esse efeito do aumento dos preços do frete também deve refletir no investimento do milho para a próxima safra. “Se o produtor fica com menos renda na soja, pelo aumento de custos de produção, ele acaba diminuindo a tecnologia do milho, especialmente na segunda safra”, destaca o dirigente.
Fonte: DCI