Em plena queda do preço do trigo no mercado internacional - 30,4% na Bolsa de Chicago na comparação com o mesmo período do ano passado - os moinhos brasileiros voltam a pressionar o governo pela isenção da Tarifa Externa Comum (TEC). A aprovação, que deverá ocorrer no próximo mês, pode provocar uma distorção para baixo nos preços internos, que atualmente são competitivos com os do trigo trazido de fora do Mercosul.
Os programas de garantia de preço do governo devem sustentar a produção nacional em torno de 6 milhões de toneladas. No entanto, dados de entidades agrícolas nos principais estados produtores indicam um triticultor mais cauteloso, resultado da desvalorização de R$ 730 para R$ 540 a tonelada do trigo no Paraná e de R$ 650 para R$ 450 a tonelada no Rio Grande do Sul.
Mesmo sinalizando uma redução nos estoques o resultado das indústrias do setor mostra que até agora, 2009 tem sido um ano de bons resultados. A M. Dias Branco, empresa líder nos mercados de biscoitos e massas no Brasil, obteve um aumento de 63% em seu lucro líquido no primeiro trimestre de 2009, ante igual período do ano passado, totalizando R$ 77,9 milhões.
"No primeiro trimestre de 2009 a Companhia aproveitou o cenário favorável do trigo e dos óleos vegetais para repor os seus estoques para o primeiro semestre em patamares de preço inferiores ao de mercado e bem menores do que os incorridos durante o ano de 2008, o que redundou em aumento da margem bruta em 5,4 pontos percentuais, saltando de 36,8% no 1T08 para 42,2% da Receita Líquida no 1T09", afirmou Geraldo Mattos Júnior, vice-presidente de Investimentos e Controladoria e diretor de Relações com Investidores da M. Dias.
Nesta semana, a italiana Barilla, a maior fabricante de massas do mundo, informou ao mercado que conseguiu diminuir o preço das massas com o custo menor do trigo. Desde janeiro a empresa reduziu em 10% os preços. Em 2008, a companhia havia aumentado, em média, 30%.
Mesmo com o setor dando sinais positivos, após reunião com a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, disse que a isenção da TEC poderá entrar na pauta da Câmara do Comércio Exterior (Camex) em 30 dias. O período indicado é posterior à finalização do plantio do cereal no Paraná, principal estado produtor. Segundo dados da Secretaria da Agricultura do Paraná, até 27 de abril foram semeados 16% da área estimada em 1,1 milhão de hectares, enquanto no mesmo período da safra passada o avanço era de 26%. No Rio Grande do Sul, levantamento da Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) indica que o movimento em busca de insumos nas cooperativas está menor em comparação com o mesmo período de 2008.
Para Lawrence Pih, proprietário do Moinho Pacífico, a cautela por parte do triticultor não deve resultar na redução da safra. "Hoje o produtor tem um preço mínimo atrativo, além do estímulo do governo que está precificando o trigo de acordo com a qualidade", diz. A política de preço mínimo tem subsidiado a triticultura no País. Esse ano a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) deve realizar vendas de aproximadamente 400 mil toneladas de trigo dos estoques públicos ao mercado.
O aperto nos estoques brasileiros deve acontecer mesmo no segundo semestre. De acordo com Élcio Bento, analista da Safras & Mercado, de abril a julho o País precisa comprar 800 mil toneladas para suprir a necessidade da indústria. Desse volume, 750 mil toneladas poderiam ter origem no próprio Mercosul, restando apenas 50 mil toneladas para serem adquiridas de outras regiões. "Essa é a necessidade no ano comercial, que se encerra em julho, mas existe um tempo entre o processamento do trigo no Brasil e a colheita na Argentina. Nesse período, entre agosto e novembro o Brasil importou no ano passado 1,7 milhão de toneladas. Esse é o saldo que teria que vir de fora de Brasil", explica.
Pih, que participou da reunião com Stephanes nesta semana, afirmou que além de pleitear a retirada da TEC para 1,5 milhão de toneladas de trigo, o setor pediu a manutenção sa isenção do PIS/Cofins para farinha de trigo e pão. Os moinhos pretendem ainda viabilizar a importação de trigo da Rússia que hoje esbarra em questões fitossanitárias. "Por ser longa a viagem o trigo tem que ser fumegado já no trajeto, utilizando brometo de metila que é uma substância proibida no País. Estamos pedindo atenção a isso já que é de grande interesse a compra ainda mais com a redução de 90% no frete", avalia Pih.
Em meio à queda do preço do trigo no mercado externo, com recuo de 30,4% na Bolsa de Chicago, os moinhos pressionam o governo pela isenção da Tarifa Externa Comum (TEC).
Veículo: DCI