Produção em alta pressiona preços de ovos e faz granjas ajustarem oferta

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O aumento dos custos e o excesso de produção pressionam os preços dos ovos no mercado interno. A conjuntura deve reduzir as margens das granjas e exigir ajustes para equilibrar oferta e demanda.

 

De acordo com a analista do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), Maristela Martins, as granjas estão ampliando o descarte de galinhas poedeiras para ajustar a oferta. “Com o aumento do número de animais descartados, os frigoríficos que trabalham com o abate de galinhas poedeiras já reduziram os preços pagos ao produtor”, diz. O valor médio do quilo é de R$ 0,30 a R$ 60 nesse caso.

 

“O setor está descartando galinhas mais velhas para poder equalizar essa diferença”, afirma o fundador e presidente do grupo Mantiqueira, Leandro Pinto. Ele afirma que a companhia vai descartar “o quanto for necessário” para atingir esse equilíbrio.

 

A granja é a maior da América Latina, mantém 11 milhões de galinhas poedeiras em unidades nos estados de Minas Gerais, Mato Grosso e Rio de Janeiro e está construindo sua primeira fábrica de processamento de ovos em Primavera do Leste (MT).

 

Conforme o empresário, o custo do milho e da soja, matérias-primas para a ração dos animais, aumentou 40%. Segundo o Cepea, o preço da caixa com 30 dúzias em Bastos (SP) caiu 19% na parcial de setembro em relação ao mesmo período do ano passado, para R$ 66,51 no caso do ovo branco. Ao mesmo tempo, o poder de compra do produtor – quanto do grão ele pode adquirir com o valor que recebe – caiu 41,9% no milho e 43,8% para o farelo de soja.

 

“Embora este seja um mercado que a demanda vem crescendo, o consumidor não está conseguindo absorver um repasse de preços na velocidade em que acontece esse aumento de custo”, explica o presidente da Mantiqueira.

 

“Temos que cortar despesas para sobreviver”, avalia, lembrando que com a primavera a produção cresce e o tempo de estoque do produto diminui.

 

Ele projeta que o faturamento do grupo neste ano será “menos da metade do ano passado”, quando chegou a aproximadamente R$ 500 milhões. A produção, por outro lado, deve encerrar o ano com crescimento de 20%, para 7 milhões de ovos por dia.

 

Uma das áreas que deve passar por ajustes é a de ovos de galinhas criadas em sistema chamado “cage free” ou livre de gaiolas. A granja é a maior a atuar nesse sistema no País e aderiu no ano passado. “Estávamos esperando a demanda vir, mas isso não está acontecendo”, afirma.

 

Até o final deste ano, pelo menos 300 mil galinhas das 750 mil que a companhia mantém atualmente neste sistema serão vendidas para os abatedouros e exportadas para Angola. A empresa é a maior exportadora do País e embarca 2% da produção para países da África e Oriente Médio.

 

O posicionamento de grandes companhias como Nestlé, McDonald’s e BRF de adquirir apenas ovos de galinhas poedeiras criadas livres de gaiolas a partir de 2025 levou criadores a apostar nesse mercado, que ainda é um nicho.

 

“Está todo mundo empurrando o problema para 2025, só que quando chegar essa data, as empresas não vão comprar porque não vai ter quem forneça”, alerta.

 

Crescimento

 

Esse desequilíbrio entre oferta e demanda é resultado de um planejamento que começou a ser feito pelas granjas quando a economia ainda apresentava números positivos nos últimos dois anos. “Isso deixou a oferta um pouco mais elevada que o consumo, o que levou algumas empresas a buscarem as exportações”, afirma o diretor de mercado da Associação Brasileira de Proteína Animal (Abpa), Ricardo Santin.

 

Além da oferta, a valorização do dólar contribuiu para o crescimento dos embarques que, em agosto, somaram 1,9 mil toneladas, alta de 11,6% ante julho e 40% a mais do que o embarcado no mesmo período de 2017.

 

A associação estima que a produção de ovos deverá crescer até 10% neste ano no Brasil, para 44,2 bilhões de unidades. No início de 2018, a projeção era de estabilidade. O consumo per capita estimado para este ano é de 212 unidades ante 192 unidades em 2017. “Comer ovo é questão de saúde e acredito que, com propagandas e eventos como a semana do ovo, em outubro, o mercado reaja”, afirma o presidente da Mantiqueira. “É o grande desafio atual do setor.”

 

Fonte: DCI

 


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