Área com trigo pode ter redução de até 30%

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Às vésperas do início do período de plantio das lavouras de trigo no Rio Grande do Sul as perspectivas não são animadoras para o cereal, a principal cultura de inverno cultivada pelos gaúchos. O desestímulo dos produtores, motivado por uma série de dificuldades enfrentadas pelo setor, deve resultar em uma redução de área de até 30% somente no Estado. As principais razões para o pé no freio na hora é a dificuldade de comercialização do produto, que ainda tem cerca de 750 mil toneladas à espera de compradores, além da descapitalização dos agricultores em função da quebra de 15% na soja. "Eles vão pensar muito antes de fazer novos investimentos", afirma o presidente da Comissão de Trigo da Farsul, Hamilton Jardim.

 

O problema da venda do produto na última safra se deveu à qualidade do grão, prejudicado pelo excesso de chuvas, resultando no não atendimento das exigências dos moinhos. "Frente a isso, o governo liberou a entrada de trigo de outros países, onde os moinhos se abasteceram e agora não temos para quem vender", explica. Além disso, com a valorização do real, o cereal importado está mais vantajoso para os compradores.

 

O dirigente da Farsul destaca ainda as dificuldades causadas pelo "rastro de endividamento" que impacta o setor e que culminou com uma quebra significativa da safra de soja no Estado, cuja previsão era de colher 9 milhões de toneladas e colheu apenas 7,7 milhões. "Os contratos de custeio vencem no dia 20 e produtores precisariam do dinheiro da venda da soja para saldar esses compromissos", afirma.

 

A redução da tecnologia utilizada a campo também deve caracterizar a próxima safra, com a opção de semear trigo para ser utilizado mais como pastagem. "Os produtores que plantaram aveia, perderam tudo com a estiagem. E o trigo é uma alternativa."

 

Jardim afirma que a tendência é de que os municípios acima da região de Passo Fundo devam manter a área. As cidades do Planalto Médio devem ter alguma redução de área e a tendência é de que na região Oeste se verifique uma queda mais acentuada na opção pelo trigo.

 

Na safra 2008 foram cultivados 975 mil hectares de trigo e colhidas 1,8 milhão de toneladas. Para este ano, a previsão de área é de 730 mil hectares, com a chance de colher cerca de 2 milhões de toneladas, muito aquém das necessidades do mercado interno. "Vamos colher mais do que na safra passada, que sofreu com queda na produtividade pelas chuvas durante a colheita", avaliou Jardim. Para o dirigente, o quadro de estiagem que parece estar se revertendo no Estado não terá influência sobre o plantio da próxima safra, e os produtores já começam a se mobilizar para a implantação das lavouras.

 

Os dados da Emater-RS, porém, são mais otimistas e indicam uma queda na produção de 10,91%. O levantamento de Intenção de Plantio para a safra 2009 revela que o Estado deverá semear 864,5 mil hectares. Entre as principais regiões produtoras, a maior diferença em relação à safra passada deve ficar com Santa Maria com 16,22%, seguida por Passo Fundo, onde a diminuição chega a 14,3%. Em Ijuí, que historicamente apresenta a maior concentração de área, a diferença alcança 12,51%.

 

Produtores devem ficar atentos a doenças

 

Os triticultores do Sul do País enfrentam um problema recorrente: as manchas foliares, especialmente a amarela, que se manifesta com frequência nos períodos de chuva e frio. As manchas foliares, que causam redução de produtividade e de qualidade dos grãos, têm forte ocorrência no Rio Grande do Sul, devido às condições climáticas favoráveis, e principalmente em lavouras de trigo onde não se pratica rotação de culturas.

 

Os danos causados pela mancha amarela podem chegar a 48%, relata Ricardo Trezzi Casa, professor de fitopatologia do Centro de Ciências Agroveterinárias da Universidade do Estado de Santa Catarina. Os danos percebidos pelo produtor com a infecção de manchas foliares são: redução do rendimento de grãos e de sua massa, diminuição da qualidade das sementes e aumento da incidência de fungos necrotróficos associados à semente.

 

Para fugir à regra de infestações e não amargar prejuízos, o proprietário da fazenda Bela Vista, na localidade de Pinheirinho, município de Ibirubá, Burton Raul Kanitz, optou pelo manejo preventivo em 80 hectares de trigo e teve resultados muito superiores à média da região. Kanitz relata que é fundamental praticar o manejo integrado, que começa com o tratamento de sementes, forma segura de proteger os primeiros estádios da planta, onde é definido o potencial da lavoura, passa pelo monitoramento constante do plantio para detectar os primeiros sinais da doença e também utilizar preventivamente fungicida apropriado a cada cultivar. "Com esta estratégia, fechamos a média de 52 sacas de trigo por hectare na última safra", afirma o produtor.

 

Veículo: Jornal do Comércio - RS


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