Venda de maio faz varejo reforçar estoque

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Cibelle Bouças, Sérgio Bueno e Vanessa Jurgenfeld, de São Paulo, Porto Alegre e Florianópolis
 


A redução do IPI para linha branca, a deflação e a valorização do real frente ao dólar (que facilitou a importação de produtos) permitiram às redes de varejo ousarem mais nas promoções para o Dia das Mães e o resultado foram vendas entre 10% e 20% maiores do que em igual mês do ano passado. Animados com este resultado, algumas redes do varejo estão reforçando as encomendas junto à indústria e aumentando o nível de estoque. E pelo menos duas grandes redes já sentiram dificuldades da indústria para atender todos os pedidos.

 

A Lojas Cem, que mantém 178 lojas nos Estados de São Paulo, Paraná, São Paulo e Minas Gerais, registrou em maio crescimento de 9,5% nas vendas em relação a maio de 2008. "A redução do IPI tem ajudado bastante nas vendas e no faturamento. Só a linha de lavadoras teve um aumento de 48% nas vendas", afirma o supervisor geral da rede, Domingos Alves. Ele não cita números, mas garante ter elevado as encomendas às indústrias e os estoques, prevendo o aumento da demanda em função da redução na carga tributária. "Hoje estamos com estoque de produtos da linha branca maior do que no ano passado", afirma Alves.

 

Para junho, a expectativa da rede é uma alta de 9,5%, impulsionada pelas vendas para o Dia dos Namorados de celulares, câmeras digitais e outros eletroeletrônicos. Alves observa que a redução do IPI facilitou as promoções da linha branca, mas a deflação também favoreceu a redução de preços em produtos da linha marrom. "Os bancos também começam a conceder mais crédito. O cenário nos permitirá encerrar o ano com crescimento de 10%", avalia.

 

A Lojas Colombo registrou uma alta de 15% a 20% nas vendas do segmento de linha branca no mês passado em comparação com o mesmo período de 2008 e prevê um salto de 30% a 40% em junho. De acordo com o diretor de compras da varejista com sede em Farroupilha (RS), Gladimir Somacal, o desempenho está sendo puxado pela demanda por refrigeradores e já há sinais de falta de alguns modelos do produto na indústria.

 

"Estamos tentando aumentar nossos estoques de 30 a 45 dias para pelo menos 60 dias na linha de refrigeradores, mas está difícil", afirmou o executivo. Segundo ele, com a queda de 10% a 12% nos preços na ponta graças ao corte de 15% para 5% no IPI, as vendas do produto subiram 57% em maio sobre o mesmo mês de 2008 e estão "mantendo o ritmo" em junho. Nas lavadoras de roupa a expansão foi de 18% em maio, e nos fogões, de 17%. Se o corte do imposto for prorrogado além de 16 de julho, a linha branca deve crescer mais de 15% no acumulado do ano.

 

No segmento de informática a queda do dólar trouxe de volta à cena os computadores portáteis de R$ 1,4 mil ou menos, que haviam desaparecido do mercado no fim de 2008, após o estouro da crise. "No acumulado até maio as vendas de 'notebooks' cresceram de 60% a 70%", disse o executivo. Segundo ele, chegou a faltar produto na indústria nos últimos 45 dias, mas a situação está se normalizando.

 

Conforme o executivo, queda mesmo só foi registrada no segmento de telefones celulares, na faixa de 10% a 12% no acumulado até maio, porque o mercado está um pouco "saturado". Mas os preços têm se mantido estáveis, disse o diretor. Uma das maiores redes de eletroeletrônicos e móveis do país, a Colombo tem 365 lojas e prevê para 2009 um crescimento de 10% sobre a receita bruta consolidada de R$ 1,273 bilhão apurada no ano passado.

 

A rede de lojas de variedades Le Biscuit, que possui nove lojas na Bahia e em Sergipe, foi favorecida também pela valorização do real em relação ao dólar. A valorização do câmbio permitiu à rede mudar o mix de produtos para baixar custos e reduzir preços aos consumidores. O diretor presidente da rede, Álvaro Sant'Anna, afirma que as vendas da rede cresceram 19% em maio na comparação com o mesmo mês de 2008. Considerando o mesmo número de lojas (nove unidades, duas a menos que atualmente), houve expansão de 6%. Sant'Anna atribui esse resultado ao reposicionamento de mercado da rede e à mudança no portfólio de itens ofertados.

 

A Le Biscuit também apostou em itens para decoração vendidos com exclusividade pela rede e no aumento de produtos importados, que já representam 11% das vendas da empresa (antes da crise representavam 8% do total). "O câmbio permitiu colocar produtos importados a preços mais baixos. Claro que parte da margem também foi sacrificada nesse processo", afirma Sant'Anna. Para o ano, o executivo prevê crescimento de 20% nas vendas. "O que se notou a partir de maio é um otimismo muito grande por parte dos consumidores, que voltaram às compras", afirma Sant'Anna.

 


Pesquisa do Clube de Diretores Lojistas do Rio de Janeiro (CDL-Rio), ainda mostra queda de vendas: 2% em abril sobre o mesmo mês de 2008 na cidade do Rio, quarto mês seguido de retração. No acumulado de janeiro a abril, a retração foi de 1,9%. O CDL-Rio ressalta que o resultado negativo refletiu em parte o menor número de dias úteis devido aos feriados de Tiradentes e de São Jorge.

 

A rede catarinense Berlanda, com 111 lojas de eletrodomésticos, teve aumento de 4% no faturamento de maio deste ano na comparação com o mesmo mês do ano passado, pelo critério de mesmas lojas. Para Nilso Berlanda, presidente da rede, o resultado refletiu principalmente a queda de IPI para geladeiras, fogões e máquinas de lavar, feita pelo governo federal. Considerando janeiro a maio, o desempenho da Berlanda foi igual ao do mesmo período de 2008.

 

"O cenário é bem diferente agora do que era em janeiro, quando estávamos apreensivos", disse Nilso. "Manter o resultado do ano passado até agora neste ano já foi bom", acrescentou ele, que espera melhora das vendas no fechamento do mês de junho, com a chegada do frio, e estima que no ano poderá crescer entre 8% e 10% no faturamento, principalmente pela tendência de queda maior da taxa de juros (Selic).

 

A varejista está aumentando o ritmo de sua reposição se comparado com janeiro e fevereiro. "Nosso estoque de lavadoras, geladeiras e fogões baixou bastante com a redução de IPI. Agora é a indústria que está com dificuldade de atender aos pedidos de reposições", disse.

 

Em janeiro, em razão do enxugamento do crédito no mercado, a Berlanda chegou a reduzir os prazos dos financiamentos, que eram de 24 meses sem entrada, e os fixou em 1 parcela no ato da compra e no máximo 15 prestações a prazo. "Mas agora em maio já voltamos a operar com 24 meses sem entrada", disse.

 

Em maio, a inadimplência da rede chegou a 4,5%, acima da sua média mensal que era de 3,5%. "Fizemos uma força-tarefa de cobranças e ela deve fechar em 4% agora em junho", disse. A Berlanda opera com financiamento próprio.

 

Veículo: Valor Econônico


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